sábado, 31 de outubro de 2009

Montanhas e florestas

Já ouvi versões variadas daquela história de um místico que, ao iniciar-se no caminho, achava que a montanha era montanha e que a floresta era floresta. E que depois de um certo tempo, ele percebeu que a montanha não era montanha e que a floresta não era floresta. Porém, na medida em que sua busca se aprofundava, ele foi capaz de compreender que a montanha era realmente montanha e que a floresta era floresta, até um dia em que teve um vislumbre e percebeu, a partir de uma nova perspectiva, que nem a montanha era montanha, nem a floresta era floresta. E a história assim continuava com alternância de percepções sempre que a compreensão do místico mais se elevava a respeito de montanhas e florestas, e de muitas coisas mais.

Quem está do lado de fora pode ter a impressão de que a pessoa está dando voltas sem sair do lugar. Pode achar que ela está demorando a chegar a uma compreensão aparentemente óbvia.
Mas nesse caminho não há demora nem antecipação. Tudo acontece como tem que acontecer e na hora certa. E aquilo que parece ser óbvio, pode ter um significado e uma profundidade que escapa ao observador externo.Por isso se diz que o caminho é absolutamente individual.

Muitas vezes precisamos percorrer quilômetros e mais quilômetros nessa caminhada para nos darmos conta de que algumas supostas compreensões, pontos de vista e opiniões nada mais são que construções sobre areias e que não resistem a um vendaval mais forte. Somente o indivíduo, a partir de sua própria experiência existencial, é capaz de saber onde está pisando e o significado de cada passo em seu processo pessoal. E o pior é que na maior parte das vezes nem mesmo o indivíduo sabe onde está pisando. Nossa miopia nos impede de ver. E é uma grande conquista quando, pelo menos nos tornamos conscientes da nossa miopia.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Osho não é um filósofo


Para quem está se iniciando nas leituras do Osho, existe algo um pouco complicado para se explicar: Osho não é um filósofo nem um pensador.
No texto que acabamos de traduzir para o site http://www.oshobrasil.com.br/ (texto n° 117), Osho nos diz textualmente: "eu não estou argumentando em favor de alguma filosofia. Eu estou argumentando em favor da existência," E mais: "Eu não sou filosófico, de jeito algum, eu sou totalmente existencial."
A propósito, esse (novo) texto n° 117 (Osho e a Cultura Indiana) mostra a cultura milenar indiana sob um ângulo diferente do que habitualmente nos é mostrado.

Na medida em que nos aprofundamos nas leituras do Osho vamos percebendo que muitas vezes ele é contraditório, incoerente e inconseqüente. Mas acima de tudo isso, percebemos uma profunda coerência, uma elevada lógica e tudo muito conseqüente.

É um pouco complicado explicar isso. Mas, na verdade, quando Osho fala, ele não está compartilhando uma grande reflexão filosófica que ele previamente fez sobre o mundo, sobre as coisas do mundo. Quando fala, ele está respondendo espontaneamente a perguntas que lhe são formuladas por buscadores. A resposta dele é proferida naquele exato momento; ele fala como um porta-voz da vida, da existência. E a vida não acontece de maneira linear. Na aritmética, dois mais dois são sempre quatro. Mas na vida real tudo é imprevisível, dois mais dois podem ser três ou podem ser cinco. A vida escapa ao nosso controle.
Por ele estar em permanente sintonia com a verdade eterna e universal, com o fluxo da vida, as respostas brotam naturalmente, momento a momento, e ele responde ao buscador. E aqui, algo precisa ficar claro: ele responde muito mais ao buscador do que à pergunta formulada pelo buscador. Ele responde aquilo que o buscador precisa ouvir, não o que ele quer ouvir.

Mergulhar nos textos do Osho é um grande deleite. Os textos são transcrições de suas palestras. E ele fala como um poeta e nos revela meandros sinuosos da existência. Lendo seus textos, somos transportados a uma compreensão clara e inovadora do mundo, das coisas, das pessoas, dos relacionamentos. E embora seja inovadora, a gente fica sempre com a sensação de que essa já era a compreensão que tínhamos de todas essas questões.
E é verdade. Todos nós temos dentro de nós essa semente de compreensão mais clara e verdadeira de tudo. O problema é que essa nossa compreensão pura foi abafada, inibida, censurada e reprimida através do nosso processo de preparação e adaptação ao mundo externo, à sociedade e seus diversos pilares: família, igreja, estado, moralidade, tradição, etc. etc.

A mensagem do Osho é um convite para que resgatemos em nós essa compreensão pura, para que resgatemos aquilo que somos anteriormente a toda essa programação que recebemos, aquilo que somos por trás do ego que desenvolvemos e carregamos ao longo da vida. E o caminho para esse resgate se chama meditação. Meditação é algo vivencial, não é uma teoria ou filosofia. Meditar é penetrar no mundo da não-mente, muito além do mundo da mente, dos pensamentos e das reflexões mentais propiciadas pela leitura de livros, mesmo os de autoria do Osho.

Assim, o circulo de compreensão da mensagem do Osho se completa. A mensagem do Osho não se resume à soma do conteúdo de suas palestras. O trabalho do Osho não acontece apenas como resultado da leitura de seus livros. A mensagem do Osho não é filosófica, mas sim existencial. A prática da meditação propicia a alquimia necessária, a transmutação necessária para nos livrarmos das máscaras e das armaduras com as quais nos identificamos para que, assim, possamos resgatar aquilo que no Zen se costuma chamar de nossa face original. É nesse sentido que se costuma dizer que a meditação é a única e verdadeira terapia possível, resgatando a nossa verdadeira liberdade, a nossa potencialidade, aquilo que somos verdadeiramente. Ao contrário das muitas psicoterapias ocidentais que propõem tornar o nosso ego mais saudável, Osho nos diz que o ego é sempre doentio. Esse é o tema do próximo texto (n° 118) que iremos traduzir em breve para o nosso site http://www.oshobrasil.com.br/ .

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Metamorfose


Eu venho num processo de desmonte de uma série de pilares em que me sustentava.

Por volta dos quarenta anos eu passei por um processo semelhante, mas ao me desenraizar de uma velha programação moralista, repressora e rígida, eu acabei assumindo uma nova programação, ainda que fosse inspirada na liberdade, na alegria e na criatividade. Mas era ainda uma programação. O que eu estou passando agora, na altura dos sessenta anos é um desenraizamente dessa outra programação.
É como se diz: as fichas estão caindo e com elas um ego cheio de babaquices, escondido atrás de um belo discurso e sustentado por uma série de ilusões, crenças, expectativas, ideais, etc.

Tudo isso faz parte do processo.
Não estou me sentindo mal com isso.
Mas não estou assumindo o papel que assumia antes. Não quero, não tenho vontade e nem consigo mais.

Estou num novo momento, curtindo a mim mesmo, redescobrindo cada vez mais a simplicidade, me dissolvendo cada vez mais na amorosidade, no encantamento com as pequenas coisas, e cada vez fazendo menos alarde a respeito de tudo isso.

Tenho sentido a necessidade de escrever essa outra perspectiva a respeito de coisas que escrevi antes a partir de outra ótica. É como se eu quisesse apresentar o negativo das fotografias, mostrar que a vida existe na multidimensão, no conflito, no desencontro, na ilogicidade.
Não estou mal. Apenas eu fui muito tagarela exaltando coisas que hoje estão desmontadas. E eu estou descrevendo esse desmonte.

O desmonte faz parte do processo. É apenas um momento. Daqui a pouco surgirão outros momentos. É como nossa variação de humor: hoje acordamos bem e amanhã acordamos mal. Não sabemos bem porque. Mas basta uma borboleta pousar numa flor para seduzir a criança que temos dentro de nós e, inesperadamente o nosso humor mudar e uma lágrima de êxtase brotar em nossos olhos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Quando Osho diz que não é guru

Até bem pouco tempo, eu achava relativamente fácil responder aos vários e-mails que chegavam em minha Caixa de Entrada com perguntas sobre Osho e seu trabalho. Eu citava uma série de textos do Osho que fundamentavam um tipo de atitude a se tomar diante dos fatos apresentados. E eu me sentia bem, como se estivesse realizando uma proposta que eu mesmo havia assumido enquanto centro de informações sobre Osho.

Hoje eu vejo as coisas um pouco diferente. Depois de algum tempo eu passei a ter uma compreensão diferente a respeito de algumas questões.
Por exemplo, eu já tinha lido, e repetia com freqüência, as afirmações do Osho quando dizia que não nos quer como seguidores, que não quer ser o nosso guru, mesmo sabendo que nós tínhamos a necessidade de tê-lo como tal.

A primeira coisa a considerar é que o grande desafio que Osho nos apresenta é no sentido de que caminhemos o nosso próprio caminho, que nós tenhamos nossos próprios vislumbres da verdade, que, através da meditação, alcancemos nosso centro de serenidade, discernimento e sabedoria.
E, a partir do momento em que eu acesso o meu centro mais profundo, o meu deus interior, a minha consciência maior, então, a partir desse estado meditativo eu respondo a cada desafio que a vida me apresenta, momento a momento. A cada momento eu terei clareza e discernimento para agir e responder ao que o momento pede.

Assim, somos nós, a partir de nosso centro mais profundo, a partir de nossa humildade, nossa inocência, nossa intuição, nossa sensibilidade e sensitividade, a partir de nosso silêncio interior e profundo estado meditativo, que alcançamos o discernimento necessário e suficiente para agirmos, presentes no aqui e agora, respondendo o que cada momento nos apresenta. Respondendo a partir do nosso centro e não reagindo a partir de nosso ego, respondendo a partir de nosso coração, de nossa amorosidade, simplicidade e humildade.

Os cristãos vivem repetindo uma frase que não sei bem ao certo. É algo parecido com isso: "Se Deus está comigo, quem será contra mim?". Mas Deus está sempre com cada um de nós, embora nós nos distanciemos dele ao nos identificarmos com nosso ego. E quando vamos além do ego, quando estamos meditativamente presentes no aqui e agora, nós manifestamos esse deus que existe e vive dentro de nós. É o nosso centro mais profundo.

E se acessamos esse centro, se nos conectamos com deus dentro de nós, ou em outras palavras, se acessamos nosso mestre interior, então o discernimento vem como conseqüência. Não temos que nos preocupar. Quem será contra nós? Talvez possa haver obstáculos ao nosso ego, às nossas pretensões egóicas, mesmo as inconscientes. Mas, se a cada momento, estamos presentes no aqui e agora, saberemos agir e falar com sabedoria momento a momento, saberemos escolher, saberemos onde e quando dar o passo. Tudo será conseqüência de nosso estado meditativo.
Aí, não temos que recorrer a Osho, nem a Budha nem a Cristo. Mantemos sim, a nossa gratidão, o nosso respeito, o nosso reconhecimento a tudo que recebemos dele ou deles, em nosso processo, em nossa caminhada. Mas é chegada a hora de pegarmos nossa mochila e colocarmos o pé na estrada, construindo o nosso próprio caminho.

Osho nos disse: "Eu sou um convite", "Eu sou uma desculpa", "Eu estou aqui para provocar o deus que existe em você". Ele nunca disse que nos daria um mapa, um roteiro, um atalho.
Na verdade, não existem mapas, nem roteiros nem atalhos.
Até bem pouco tempo, quando me formulavam certas perguntas, eu ficava muito agradecido e respondia com várias citações do Osho.

Hoje eu tenho uma compreensão diferente sobre quando Osho diz que ele não é um filósofo, que não é guru. Hoje eu compreendo melhor porque ele diz (citando Buda) que se ele cruzar o nosso caminho, ainda que seja num sonho, devemos cortar a sua cabeça.

Osho não o somatório de suas palestras. Osho é uma experiência viva de transcendência, de ir além da condição humana e alcançar os píncaros da realização plena.
E o desafio que ele coloca para cada um de nós, é para que encontremos nosso caminho, para que criemos nosso caminho, para que sejamos senhores de nosso próprio caminho, para que alcancemos os píncaros de nossa plenitude.

As dicas, os toques que ele nos deixou são importantíssimos, daí nossa profunda gratidão. Mas se nos apegarmos às suas palavras, à sua imagem, à memória de sua presença entre nós, e não dermos os nossos próprios passos na caminhada que é exclusiva de cada um de nós, então podemos dizer que, na verdade, não entendemos nada do que ele nos disse.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Estamos sós

Basicamente existem dois tipos de sannyasins. Outros tipos existem, mas são derivados desses dois tipos mais significativos.

Existe um grupo majoritário que fica (ou ficava) voando ao redor do Osho e do que lhe diz (ou dizia) respeito, da mesma maneira como as moscas na vitrine da padaria ficam voando atraídas pelo cheiro dos doces.
Esse era o grupo maior que circulava ao redor de Osho, de sua comuna, dos seus centros ao redor do mundo. Era e é o povo que gosta de estar sempre em sintonia com o movimento que está na moda.
Depois que Osho deixou o corpo, ele já não estava mais aqui para criar o "frisson" que a todo instante desestabilizava as estruturas que se tentava montar ao seu redor. Esse permanente "frisson" criava uma mobilização constante, um desafio a todo instante, arrepios, excitação, e tudo isso resultava num dinamismo imenso no movimento ao seu redor. Não se tinha tempo de absorver uma chacoalhada e lá vinha outra a nos dar uma rasteira. Não parávamos em pé.
E permeando esse ambiente, Osho insistia na prática de meditação, o que dava um caráter permanente a esse estado de chacoalhar.
O espírito de festa, celebração e alegria ao redor do Osho se somava a tudo isso e harmonizava a ambientação do movimento.
Sem a presença do grande maestro que era a fonte de todo esse "frisson", muitos sannyasins sentiram-se órfãos.
Esse grande grupo de sannyasins ficou muito dependente da presença desse maestro demolidor, provocador, desafiador, sedutor, intrigante e inspirador.
Sem a presença de Osho, muitos não conseguiram resistir aos apelos do primeiro que se apresentou como "iluminado".
Até hoje, basta qualquer um de nós ter um pouco mais de leitura de Osho e de prática de suas meditações, para que muitos comecem a nos indagar se já não estamos iluminados, se já tivemos experiências de satori ou samadhi. Estão prontos para se prostrar aos pés do primeiro que se declarar iluminado.
Esse grupo sempre esteve voltado para fora, desde a época em que Osho estava no corpo, e continua ainda hoje buscando do lado de fora aquilo que está dentro. Continuam querendo algum guarda chuva ou muleta para se apoiar.
Essas pessoas têm pouco de si mesmas para compartilhar, a não ser a exaltação do Osho de quem se tornaram dependentes como um guru, a não ser as aventuras que viveram em grupo no antigo movimento sannyas, os abraços longos e apertados, as catarses e os momentos de êxtase que experimentaram nos grupos de crescimento, e, por que não, os encontros celebrativos em que se dançava e namorava muito.
Esse é um grupo saudosista que continua à procura de algo que se aproxime daquelas belas e fortes experiências do movimento sannyas, sobretudo quando o maestro estava entre nós.

O outro grupo é bem mais reduzido. É o grupo daqueles que compreenderam o cerne da mensagem do Osho e se recolheram, foram para dentro.
Muitos iniciaram a sua jornada também como moscas de padaria, mas tiveram o seu momento de percepção maior, quando deixaram essa busca do lado de fora e compreenderam que não existe movimento sannyas, que não existe filosofia do Osho, que não existem ensinamentos, que não existem técnicas, que não existe terapia, que não existe ajuda externa alguma.
E quando você percebe a estupidez de toda essa movimentação externa, torna-se impossível continuar nesse jogo.
O compartilhamento dessas pessoas, quando ocorre, é um desabrochar que parte de dentro delas. Não é resultante de nossa expectativa de que elas compartilhem.
Elas não têm obrigação, nem o dever, nem o compromisso de compartilhar coisa alguma.
O comprometimento delas é com elas mesmas. Não é com nossas expectativas.

Por isso, nessa nossa caminhada, não se pode esperar compartilhamento de quem quer que seja. Quem está voltado para fora, está voltado para fora. Tudo bem. É a história dele ou dela. E quem está voltado para dentro, está voltado para dentro. É a história dele ou dela.
O que importa para mim é a minha história, é a caminhada que construo a cada passo, é como percebo cada um desses passos, é a compreensão de cada um desses passos, é a abertura que cada passo me traz. A intensidade e a profundidade de cada passo só eu posso alcançar e só eu posso sentir.
E não me diz respeito o que os outros pensam de cada um de meus passos, por mais que minha mente insista no contrário.
Nessa nossa caminhada estamos sós, estamos sem bússola e sem mapas, não temos objetivos e não sabemos para onde estamos indo.
Por isso surge essa vontade de termos um grupo em que nos apoiar, de termos um mestre vivo que nos sirva de guru, de termos dicas, toques e orientações para iluminar nossos passos. Tudo isso são ilusões, ilusões e ilusões. Nada mais que subterfúgios para não encararmos e assumirmos essa verdade nua e crua de que estamos sós nessa caminhada.

sábado, 18 de julho de 2009

Espontaneidade

Recebi um texto extraído de uma fala do Osho sobre espontaneidade.
Lembrei-me de uma situação que vivi há cerca de 25 anos, quando fui com uns amigos passar um final de semana numa chácara. Na programação havia banho na cachoeira, meditações, preparo das refeições, entre outras coisas.
De repente me vi com uma garotinha de 2 anos, filha de uma amiga, que me chamou para brincar. Na época, eu levava uma vida tão robotizada que aquele convite da garotinha me deu um nó na cabeça. E fiquei muito assustado com o fato de não saber brincar espontaneamente.
Essa questão da espontaneidade sempre foi um nó em minha cabeça. Talvez por isso eu tenha gostado tanto desse texto que recebi. E não resisti à vontade de traduzi-lo para publicar neste meu blog.
A tradução que segue foi feita a partir da fonte original do texto do Osho que é o Cap. 15 do livro The Great Nothing, um diário de darshan.

“Se o ser espontâneo for tomado como uma disciplina, você estará criando problemas para si mesmo.
Tudo o que está acontecendo é espontâneo, e você está tentando ser espontâneo. Se você for bem sucedido, isso não será espontâneo.
Tente entender o ponto: o sexo está na sua mente, e também o contínuo julgamento e a culpa, assim como uma mente crítica, sempre pensando sobre o que os outros irão dizer, sempre tentando melhorar – essa é a sua espontaneidade.
Agora você está tentando ser espontâneo – isso significa que deve parar com todas essas coisas. Ora, que tipo de espontaneidade você está tentando ter? Será espontâneo, quando você forçar todas essas coisas a pararem? Isso será uma coisa não-espontânea.
Espontaneidade é aquilo que é. Qualquer que seja o caso, aquilo é a espontaneidade. Ser espontâneo significa não desejar qualquer outra coisa que já não esteja ali.
Se a sua mente julga, e daí?
Se você se sente desconfortável com isso, então fique desconfortável. Se você puder aceitar o estar desconfortável e tudo mais que estiver acontecendo, você será espontâneo.
Espontaneidade não é um objetivo – é uma compreensão. Não é algo que tenha que ser praticado. Tudo que tem que ser praticado torna você mais e mais mecânico, um robô. Espontaneidade é aquilo que já está acontecendo sem que você faça qualquer coisa a respeito.
Seja verdadeiramente espontâneo.
Qualquer que seja o caso, ele é desse jeito. Se você está julgando, tudo bem, você está julgando. Se você tem fantasias sexuais, isso também está OK. E se você se sente desconfortável com isso, tudo bem. Simplesmente tente compreender.
Tentar ser um outro alguém, tentar se tornar melhor, tentar melhorar as coisas, essa é toda a abordagem estúpida que tem corrompido a humanidade ao longo dos séculos, ao longo das eras. Todas as religiões foram corrompidas por causa desse constante desejo de que a pessoa tem que melhorar, tem que se tornar isso ou aquilo.
Todos os objetivos criam tensão e angústia. Viva sem objetivos e, então, você será espontâneo. E observe: eu não estou lhe dizendo para tentar viver sem objetivos, senão isso se tornará um objetivo e de novo você estará num dilema. Eu não estou lhe dizendo para fazer coisa alguma. Eu estou simplesmente dizendo que qualquer que seja o caso, ele é desse jeito.
Se você disser que isso parece ser impossível, então você já transformou isso num objetivo. Quando diz que isso é impossível, você está dizendo, ‘Eu entendo tudo o que você está dizendo, mas eu não consigo fazer. É muito difícil.’
Mas eu não estou lhe dizendo para fazer coisa alguma. As coisas já estão acontecendo. Não é você que está fazendo. Se você é crítico,se está julgando – isso é o que está acontecendo. Se você está desconfortável – Isso está acontecendo.
Se você sentir que é desconfortável aceitar isso e sentir uma natural rejeição crescendo, aceite essa rejeição também. Mas, no final de tudo, a aceitação tem que estar presente.
Por um mês, simplesmente viva sem objetivos, sem qualquer esforço para melhorar. Você não vai se tornar um santo. Eu não estou aqui para ajudá-lo a se tornar um santo. Eu estou aqui apenas para ajudá-lo a viver a vida que já está disponível para você.
Não existe outra vida. Todas as outras vidas estão na mente.
Você não está confuso por causa de sua vida. Você está confuso por causa de suas idéias. Primeiro você julga e depois julga o julgamento. Primeiro você julga e depois julga que não é certo julgar, que não se deve julgar. Aí você se vê diante de um problema. Ao invés de um, agora você fez dois julgamentos. E eu lhe disse uma coisa e você pode fazer um terceiro julgamento. E isso vai até o infinito.
Assim, qualquer que seja o caso... por um mês simplesmente viva da maneira como você está vivendo... E alegremente curta isso.
A pessoa está tentando sair do chão, puxando o cadarço de seu próprio sapato. Isso não funciona.
Dois mais dois são quatro. Se você tentar fazer com que seja cinco, não vai funcionar. Isso só funciona de uma única maneira que é: dois mais dois são quatro. Esta é a única maneira que a sua vida funciona: com julgamentos, com sexualidade, com sonhos, com pensamentos, com medos. Essa é a maneira como a sua vida está funcionando – simplesmente relaxe nisso. Pare de lutar contra isso, pare de querer melhorar sua vida – ao invés disso, comece a vivê-la. Simplesmente relaxe e deixe que a vida caminhe. Deixe que a vida se mova do jeito que ela se move. E você simplesmente vá com ela. “ (Osho)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ser ou não-ser


Talvez uma das coisas mais importantes que aprendi com Osho foi a compreensão de que nossa mente é ardilosa e que nunca quer perder o controle.
Para isso ela sempre dá um jeitinho. Ora a vemos apresentando justificativas, ora levantando bandeiras, ou abraçando “causas nobres”, manifestando suas opiniões, ou não abrindo mão de certos princípios e convicções.
E nós ficamos “em cima do muro” lendo os textos esclarecedores do Osho e dizendo para nós mesmos: “Ah! É isso mesmo! Como essa mente é esperta!”

Tendemos a nos separar da mente ou do ego. E nos esquecemos de que, no estágio em que estamos, de não-iluminados, não sabemos ao certo quem somos. Assim, melhor do que dizer que nossa mente é ardilosa ou que o “meu ego” é isso ou aquilo, eu deveria dizer que eu sou ardiloso, que eu fico me justificando diante de cada ato e situação, que vivo levantando bandeiras, que estou sempre abraçando “causas nobres” e frequentemente manifesto minhas opiniões, não abrindo mão de certos princípios e convicções.

Mas faz parte da “minha” esperteza, fazer essa distinção e atribuir todas essas atitudes à minha mente, ao meu ego, como se eu já estivesse descolado dessa mente e desse ego.
A verdade é que chegamos a um ponto em que começamos a andar numa corda bamba. Há momentos em que respondemos à vida a partir de nossa consciência pura, e há momentos em que nos perdemos e sutilmente reagimos a partir de nossa mente consciente.

Ao reagir a partir da mente consciente, eu me iludo de que estou descolado dessa mente e do ego, e me assumo como sendo alguém especial, poso de místico e esotérico, faço belos discursos, me coloco à frente de movimentos e entidades. Internamente e paralelamente, permaneço com minha mente catalogando as habilidades espirituais e as percepções sutis que consegui desenvolver ao longo do “meu caminho”, me iludindo de que é o meu “observador interno” que está catalogando, sem querer admitir uma oculta pitada de satisfação ao achar que já alcancei algum patamar mais elevado.

E quando todo esse jogo começa a se revelar, não há mais como mantê-lo de pé. É como Osho diz: ao se acender a luz, a escuridão se vai. Não há como mantê-la quando a luz se faz presente. Num piscar de olhos, todo o castelo se desmorona.
Mas, ainda assim, existe um “pulo do gato” ao qual recorrer. Posso renunciar a tudo, fazer declarações e me recolher ao silêncio e ao anonimato. Assim, esse alguém especial (que sou eu) pode caminhar a esmo pela multidão, pode ser um ninguém. Mas internamente aquela voz ainda continua soprando ao ouvido: “Muito bem! Veja como você é um ninguém no meio da multidão – um ninguém muito especial, cheio de percepções e sensibilidades...”

Ser simples e comum é uma tarefa árdua. Principalmente porque não é um “tornar-se”. É simplesmente começar a observar em mim tudo aquilo que cheira a “especial”. É me despojar de uma série de atributos e valores que fui agregando a mim mesmo. É a árdua tarefa de me desnudar e voltar a ser aquilo que sempre fui, mas não me dou conta mais do que é.

Não se trata de negar todas as conquistas obtidas, todas as compreensões alcançadas, todos os atributos e valores agregados. Ao contrário, é preciso reconhecer o ganho significativo de cada passo que foi dado. Foi através desses passos que cheguei até aqui. Mas agora é hora de reconhecer também este novo passo, este momento novo em que já podemos parar, sentar e abrir esse imenso saco que temos carregado nas costas, no qual fomos acumulando cada experiência, cada sacação, alegrias e dores, amores e desamores.

É chegado o momento em que podemos nos sentar e contemplar toda essa riqueza guardada. Cada experiência, cada sacação, cada emoção, é como se fosse uma pedra preciosa guardada nesse saco imenso que carregamos ao longo da vida. Cada uma marcou um momento especial de maior abertura, de salto qualitativo, de expansão da compreensão e do amor.

E agora, contemplando cada uma dessas pedras preciosas, podemos perceber o quanto ficamos apegados a cada uma delas. Este é o momento de dizer muito obrigado a cada uma dessas pedras e, pouco a pouco, começar a esvaziar o saco. É hora de reaprender a caminhar com nossos próprios pés, de balbuciar as primeiras palavras com nossa própria voz, de descobrir de fato o aroma, o paladar, os sons e as cores da vida. É hora de começar realmente e humildemente a viver a vida como um mistério. Como sempre Osho nos tem dito. Com mais leveza, com mais dança, com mais poesia e com mais silêncio.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Primeiro, seja


Tem momentos em que a gente escolhe que passo quer dar.
E tem momentos que a gente dá um passo porque não consegue dar outro passo senão aquele.
Não é uma questão de escolha. É algo que se torna imperativo.
Eu já vinha me questionando a respeito de continuar ou não com o boletim há uns 3 anos.
Neste último ano eu vim me arrastando. Questionando a cada mês se iria continuar ou não.
A minha intenção era fazer um esforço e continuar com o boletim até final de junho.
Não consegui. O boletim de despedida saiu mesmo em maio.
As razões estão nas entrelinhas da mensagem de despedida que escrevi como editorial nesta última edição de maio.
Não vejo sentido em querer explicitar essas entrelinhas, uma vez que são fatos que não estão diretamente ligados ao boletim e sim ao meu próprio processo pessoal de crescimento.
O que ocorreu foi um gradual desmonte de coisas que realmente eu tinha construído sobre areias, desfazendo-se muitas ilusões, muitas fantasias e muitas expectativas.
A suspensão do boletim foi um subproduto desse meu processo pessoal.

Não cogitei de procurar possíveis interessados em assumir a continuação do boletim, por uma razão principal: o uso do nome Osho Conexão Brasil me foi autorizado por eu ser o responsável pelo Instituto Osho Brasil, o qual está oficialmente filiado à Osho Global Connections de Puna-Índia. Não me cabe repassar essa autorização a terceiros.
Qualquer outra pessoa responsável por algum Centro ou Instituto Osho, também oficialmente filiado, pode solicitar a Puna a necessária autorização para editar um boletim com o mesmo nome ou com outro que inclua o nome Osho. Essa iniciativa caberia a tal pessoa, não a mim.

Estou recebendo dezenas de mensagens – a maioria de agradecimento e reconhecimento pelo trabalho que desenvolvi. Alguns reclamando, pelo vazio que a suspensão do boletim deixará.
Essas mensagens estão chegando carinhosamente em meu coração e me dão a sensação de que fiz o que deveria ter feito ao longo desses anos. Mas, considerando tudo, ainda permaneço com a sensação de que também agora fiz o que deveria ter feito.

Osho nos conta - em Sufis: O Povo do Caminho – que “um homem foi a Buda e disse: ‘Eu tenho muito dinheiro. Tenho muito poder. Apenas me diga como servir às pessoas, como servir à humanidade’. Diz-se que Buda ficou muito silencioso. Ele fechou os olhos. O homem ficou perturbado, confuso. Ele ficou irrequieto e perguntou: ‘Por que você fechou os olhos e por que ficou tão triste?’ Buda abriu os olhos e disse: ‘Sinto uma grande compaixão por você. Você quer servir à humanidade e você não é. Primeiro, seja’.”

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Caminho com Osho - III

Muitos de nós, quando começamos a ler Osho, logo nos encantamos com sua clareza, com a sua maneira simples de ver as coisas e de desmontar os nós que nossas mentes criam ao longo da vida.
Mas, aos poucos, na medida em que essa leitura vai se aprofundando, começam aflorar as necessidades de irmos um pouco além, de trabalharmos questões que antes não incomodavam e que agora começam vir à tona. O que fazer quando surgem essas necessidades? Como trabalhar essas questões segundo a ótica do Osho?

É muito difícil falar sobre esse assunto. Antes de tudo, é preciso considerar que a nossa mente é muito esperta e encontra mil e uma maneiras de camuflar a verdade. Ou seja, é muito difícil a gente se conhecer realmente. Muitas vezes, quem está de fora vê facetas de nosso ego que nós nem percebemos. Por isso um contato pessoal com um terapeuta experiente na linha do Osho é de muita ajuda.

O trabalho com Osho implica em desmontarmos a nossa programação, em desmontarmos o nosso ego através do seu conhecimento, encarando nossas dificuldades, nossos bloqueios, nossas neuras, nossos pontos cegos, nossos buracos negros, enfim, toda a nossa miséria. Como se diz, a ferida tem que ser exposta para poder ser curada e depois cicatrizar. Isso faz parte do processo de auto-conhecimento. E junto com isso tem que acontecer muita prática de meditação, de maneira que, enquanto os lixos vão se dissolvendo, a meditação vai crescendo dentro da gente.

É difícil para qualquer um de nós, dizer que trabalho vai ser bom neste exato momento de nossa vida.
Primeira coisa: Em que ponto nós estamos? Essa é uma pergunta muito difícil para ser respondida mesmo por um terapeuta excelente. E muitos de nós nem somos terapeutas. Eu acho que no fundo, somente cada um pode saber, sentir e intuir o que é bom para si mesmo.
Segunda coisa: quais tipos de trabalho estão disponíveis para cada um de nós fazer? Porque, sob certo sentido, nós só podemos fazer aquilo que estiver disponível para nós. Eu me lembro de ter feito trabalhos que hoje não aconselho para ninguém, mas aqueles eram os trabalhos que estavam disponível para mim. E mediante opiniões e sugestões de amigos mais experientes, conclui que seria bom fazê-los. E eles me ajudaram muito. Embora tenham sido métodos que hoje não acho que sejam os melhores.

A meditação Dinâmica do Osho é uma grande ferramenta. Costuma-se dizer que com a meditação dinâmica não é preciso mais nenhuma terapia.
Mas como fazê-la? A nossa mente é esperta e encontra mil maneiras de sabotar a meditação Dinâmica - estágio por estágio.
Primeiro, a respiração caótica por 10 minutos se for feita corretamente, abre inúmeras portas do mundo de loucuras e repressões que guardamos escondido dentro de nós. E se no segundo estágio, formos totais nos 10 minutos para expressarmos, para colocarmos para fora toda essa loucura e repressão, numa descarga catártica sem limites, estaremos bem esvaziados para no terceiro estágio trazermos energia para nosso centro vital, com o tremendamente energético "hoo-hoo-hoo", desde que a nossa mente não interfira dizendo que é cansativo e que não vamos dar conta. Se esses 3 primeiros estágios forem feitos com totalidade, então será possível no quarto estágio, do "stop", ficarmos absolutamente quietos, congelados, e entrarmos em contato com o silêncio que existe dentro de nós, muito além do mundo das palavras, muito além de toda a verbalização de nossa mente. E por fim, vem o último estágio da dança celebrativa.
Mas a primeira pergunta é: eu faço a meditação dinâmica com totalidade? Existem, pelo menos, condições ambientais para que eu possa fazê-la com totalidade?
Onde fazer a meditação dinâmica dessa forma, sem perturbar vizinhos? E sem deixar a mente interferir e sabotar cada estágio?
É melhor se pudermos fazê-la num grupo, onde quem está começando se sente mais seguro e com mais liberdade e, principalmente, mais estimulado pelos companheiros que estão também se abrindo e se expondo.
O lugar apropriado é um Centro de Meditação Osho. Mas, infelizmente os Centros Osho estão hoje cada vez mais esvaziados. É muito difícil a tarefa de conseguir fazer um Centro de Meditação sobreviver. Os coordenadores precisam se manter financeiramente e manter o centro. É preciso que haja atividades suficientes para manter tudo funcionando. E isso só acontece se houver presença constante e significativa de pessoas interessadas em participar.
Mas as pessoas têm suas mentes espertas e escorregam facilmente de todas as ferramentas que Osho nos deixou. E ficam procurando atalhos oferecidos por outros xamãs, outros gurus, outros mentores que "vendem" suas pílulas mais adocicadas, mais enfeitadas com cores da moda. Alguns até preferem meditações do Osho alteradas e adaptadas por alguns sannyasins que lideram grupos.
Esse é um grande problema para quem quer entrar e experienciar o caminho da meditação de acordo com Osho.

Mas podemos observar e aprender um pouco mais com as ferramentas que Osho nos deixou. Se cada estágio da meditação Dinâmica é uma preparação para o estágio seguinte, isso pode nos dar algumas dicas importantes. Uma delas é que o trabalho com respiração é um dos mais básicos. E também que a catarse, que lhe segue, é fundamental. E na sequência, é muito importante estarmos mais "aterrados" (na concepção de fio terra), fortalecidos em nosso centro, estarmos com os pés nos chão, com vitalidade, presentes e totais. E tudo isso só faz sentido se, na sequência, nos aquietarmos e, absolutamente relaxados e entregues ao aqui e agora, com a curiosidade de uma criancinha pequenina, começarmos a observar, sem qualquer verbalização mental, o desconhecido e maravilhoso mundo do nosso silêncio interno e permanecermos nesse espaço. E, em seguida, celebrarmos a vida, numa atitude de gratidão.

Eu entendo que esse pode ser um bom critério ao escolhermos que tipo de trabalho fazer. Dentre os trabalhos que nos estiverem sendo oferecidos no variado mercado de terapias, se algum deles estiver em sintonia com esses estágios da dinâmica, ou seja, se ele nos propiciar algo que esteja na linha desses estágios, então é possível que ele seja de grande ajuda.
Se examinarmos também os estágios da meditação Kundalini e o significado de cada um - o chacoalhar, o dançar, o sentar e o deitar em silêncio - também poderemos tirar daí algumas conclusões interessantes como dicas para escolhermos trabalhos que nos possam ajudar em nossa caminhada pessoal.

Se pudermos ter o acompanhamento e orientação de um bom e experiente terapeuta que trabalhe na linha do Osho, então estamos com muita sorte, pois isso poderá nos ajudar muito. Se não tivermos esse acompanhamento disponível, então cada um de nós terá que fazer esse trabalho por conta própria de afiar a intuição, as percepções, ficarmos muito alertas quanto às espertezas e jogos de nossa própria mente, fazer uma boa e sincera leitura interna e darmos os passos que pudermos dar a partir do ponto em que estamos, em direção a pontos além de onde estamos, cada vez mais, num crescendo.

E, no meio de tudo isso, é importante lembrar que a vida não é um sacrifício, não é uma luta, não é algo complicado como nossa mente insiste em afirmar. Mesmo sabendo que temos que nos sacrificar em certos momentos, que temos que lutar e que temos que enfrentar situações complicadas, acima de tudo a vida flui além de qualquer expectativa e propósito de nossa mente. E um bom alento é que podemos confiar na existência. Basta lembrar o que Osho nos diz:

"O universo é sempre amoroso e disposto a ampará-lo; para ele você é uma criança.
Ele é muito gentil e com delicadeza toma conta; ele é muito cuidadoso e atencioso.
E se algumas vezes você sente que a existência está dura com você, lembre-se sempre, você deve estar lutando contra ela.
A sua luta cria o problema, de outro modo, a existência é sempre graciosa e maternal."

sexta-feira, 1 de maio de 2009

inner call


Mais um período de repensar a vida e o meu estar no mundo.

Sinto que algumas coisas estão para mudar. Algo dentro de mim está sinalizando, está me cutucando. Certos discursos estão perdendo o significado que tinham para mim. E os compromissos deles advindos perdem a razão de existir.
Por isso, parei coisas que fazia e estou deixando que esses novos apelos interiores se manifestem.

Estou me permitindo seguir os embalos da vida, caminhando a esmo, sem questionar se cada passo é mundano ou divino, se é materialista ou espiritualista, se é vulgar ou sobrenatural.
Estou pronto para largar tudo ou abraçar tudo.
Apenas me interessa, no meio de toda essa caminhada, aguçar minhas percepções para poder ouvir as sutis manifestações dos novos apelos interiores que estão pipocando dentro de mim.

Quero receber esse "inner call" como algo novo, fresco, transformador.
Por isso, caminho a esmo, procurando me desapegar dos conceitos e preconceitos, desde aqueles mais enraizados na infância, até os mais recentes adquiridos na idade adulta, ao som de trombetas, erguendo tochas de uma liberdade presumida e içando bandeiras de um sonho dourado.

Por isso caminho a esmo, aceitando o lixo e o luxo em que tropeço nas ruas, observando-os simplesmente; permitindo-me degustar o nectar dos deuses quando me é oferecido sob um céu estrelado, mas não me furtando a experimentar uma gororoba servida numa espelunca com que me deparo num beco sujo.

Não estou mal nem bem. Não estou triste nem alegre. Este não é o ponto.
Apenas parei e, ao mesmo tempo, continuei andando.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Bons tempos


Recebi um e-mail da Chandra falando dos bons tempos em que editávamos o jornal Osho Times em Brasília e um grande grupo de colaboradores espalhados por todo o Brasil se encarregava de vendê-los ou colocá-los em bancas de revistas. Cada um se comprometia com a venda de um certo número: 5, 10, 20. E havia aqueles que pediam 50 exemplares. E outros que rapidamente vendiam seus lotes e pediam reforço. Assim, eram impressos e vendidos 1.500 jornais todos os meses, nos anos de 1989 e 1990. Em Brasília o nosso grupo contava com o Batohi, o Mardava, o Milarepa, a Asmi e outros colaboradores. Antes de Brasília, os 3 primeiros números do jornal haviam sido editados no Rio, com a Rashki, o Goloka e outros mais. Depois o jornal foi para Porto Alegre, com o Ansu e depois Curitiba com o Jayen. E durante todo esse tempo, a tradução do jornal e a preparação dos fotolitos eram feitas em Puna pelo Gyano, que nos enviava mensalmente pelo correio. Ainda não existia Internet.

A Chandra lembrou que no dia em que Osho deixou o corpo, 19 de janeiro de 1990, os brasileiros que estavam em Puna se preparavam para um show à noite, para arrecadar fundos para o jornal. E ela mesma iria dançar lambada com um sannyasin brasileiro.
Bons tempos aqueles. E bom que a gente estava lá para vivê-los.

Todo o movimento ao redor do Osho, no mundo inteiro era de muita alegria, muitas cores, muita celebração, muita interação dentro do grupo de sannyasins, muitos encontros para meditar e compartilhar experiências, muitos grupos de crescimento com catarse, danças e abertura do coração. Era o “orange people” que se espalhava como uma onda não só no Brasil, mas sobretudo pelos paises do primeiro mundo.

Hoje os tempos são outros. Piores? Melhores? Simplesmente são outros tempos, outra realidade. Talvez estejamos um pouco mais maduros, talvez já tenhamos dissolvido algumas carências e ansiedades mais pesadas. Embora outras mais sutis ainda teimem em permanecer, alimentando ilusões e expectativas que logo se manifestam sob forma de frustrações.

Mas os novos tempos e a nova realidade também nos brindam com novas oportunidades de viver novos bons tempos. E se ficarmos antenados, descobrimos logo a agenda de celebrações e de alegria que a existência programa permanentemente para nós.

A grande diferença que sinto hoje é que antes eu dependia mais da existência de um grupo que agitava e embalava, e me contagiava para participar do agito e do embalo. E o próprio grupo se embalava no ritmo e no rumo que captava nas movimentações do grande maestro que era Osho. Hoje, sozinho, eu consigo me conectar com o embalo das águas, das folhas, do vento, das pessoas, da minha própria variação de humor; entro nos agitos e embalos que quero entrar, driblo e saio fora daqueles que não quero e depois me recolho e descanso, quando sinto que é o momento. Osho permanece como um suave sopro em que me embalo, como uma lembrança permanente para que eu permaneça consciente, não me perca e sim que me encontre no meio de todos esses embalos e agitos da vida,

Os tempos sempre são bons tempos, a realidade sempre oferece oportunidades de celebração, de introspecção, de interação, de êxtase. Somos nós que fazemos a diferença, de acordo com nosso humor, nossas ilusões, nossas expectativas, nossas tensões, nossas crenças e interpretações.

sábado, 14 de março de 2009

Um Dia com Osho - II


De 6 a 8 de março/09.
O encontro aconteceu exatamente do jeito que era para ter acontecido.
Como, aliás, tudo na vida.

Desde que concebi a idéia desse trabalho “Um dia com Osho”, ficou claro para mim que não seria um trabalho “meu”. No máximo, eu seria um facilitador. Todo o material usado seria (e foi) do Osho. Suas técnicas de meditação, textos selecionados de seus livros, trechos de vídeos selecionados de suas palestras, exercícios de relaxamento montados com base em suas dicas. O que poderia chamar de “meu” trabalho foi apenas um cuidado carinhoso de fazer essas seleções e encaixá-las dentro de uma seqüência harmônica e explorando o esplendor da natureza virgem do parque ecológico.

O grupo foi pequeno, o que era perfeitamente previsível. Todos nós sabemos que Osho atrai mas, ao mesmo tempo, provoca calafrios. Se o propósito tivesse sido o de reunir muitas pessoas, teria sido mais apropriado montar um trabalho com um começo, meio e fim, devidamente delineados, sobretudo mensurando previamente o retorno que dele adviria. Mas não era esse o nosso propósito. Meditações do Osho sempre mexem com a gente. Podemos já ter feito Dinâmica por mais de 20 anos, ela sempre pode nos pegar desprevenidos e dar uma rasteira em nosso ego e mente, colocando-nos cara a cara com situações que não gostamos de ver. Palestras do Osho em vídeo, com seus gestos, sua voz e seu olhar podem nos surpreender e desmontar nossas torres de controle. Inconscientemente encontramos mil razões para não podermos estar presentes num evento como este.

O ambiente natural cumpriu o seu papel. Todos nós nos sentimos tocados pela natureza pura, cercados por matas, cachoeiras, rochas esculpidas nas paredes dos canyons, pássaros, borboletas variadas, o ar puro, a água potável, o silêncio. Também nos tocou muito a boa acolhida que a pousada nos propiciou, a presença do anfitrião Ricardo com seus “causos mineiros” e a boa Don’Ana com sua comida gostosa. Tudo facilitou a nossa sensação de “estarmos em casa” e relaxados.

Gostei da minha atuação como facilitador e dos feed-backs que recebi dos participantes. Gostei de ter conduzido as atividades de maneira bem leve e totalmente integrado ao grupo. Pudemos relaxar e as atividades se acomodaram ao ritmo da própria natureza. Vivenciamos todas as práticas previstas e tivemos tempo suficiente para conversar sobre tudo. Foram muito ricos os momentos em que compartilhamos nossas experiências. E como o grupo era pequeno, muitas vezes compartilhamos informalmente durante o café da manhã e o almoço, antecipando abordagens previstas para acontecer no salão. Tudo contribuiu para nos tornarmos amigos e, em alguns momentos, até confidentes.

Tivemos momentos mágicos como a observação do pouso das andorinhões, no final da tarde, que de repente surgem em bandos no céu, bem lá no alto, e descem como se fossem jatos de guerra, numa velocidade certeira em direção aos esconderijos nas paredes escuras das rochas. Também foi muito especial a meditação que fizemos ao lado da cachoeira, utilizando uma técnica orientada por Osho no Livro dos Segredos. O som da cachoeira funciona como excelente recurso para driblarmos a tagarelice da mente.

O formato básico desse workshop se acomoda em um dia de atividades. Por isso o nome “Um dia com Osho”. Mas, na Estação Andorinhas, devido à exuberância da natureza e ao ambiente de relaxamento e recolhimento, o workshop dura quase dois dias, com o acréscimo de algumas práticas e a liberação de um tempo para explorarmos e curtirmos o espaço. Com certeza o workshop na Estação Andorinhas tem um sabor especial. Que o digam a Khilma que viajou 12 horas para participar e a Mel que viajou outras 7 horas.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Sábado de carnaval

Quando conheci Osho, ele me atraiu muito mais pela sua irreverência do que pelo conteúdo de sua mensagem. Fiquei muito intrigado com aquele demolidor das instituições, das crenças e das ideologias. Um homem que não queria ser inspirador nem guia de ninguém, muito menos ser líder de um movimento. Ele me desafiava a fazer meus próprios experimentos e chegar às minhas conclusões, não aceitando passivamente as conclusões dele.

Osho me atraiu mais ainda quando li ele se declarando incoerente e contraditório, porque assim é a vida. Ao mesmo tempo que eu percebia uma profunda lógica em tudo o que ele dizia, ele se permitia ser ilógico.

Com essas abordagens, Osho cutucou uma semente escondida que eu preservava com muito carinho dentro de mim. Era a semente da rebeldia que, desde minha adolescência, se manifestava, embora timidamente, um pouquinho aqui, um pouquinho ali.

Antes de conhecer Osho, um dia eu tinha acordado e percebido que admirava vários amigos pela coragem de terem rompido com as estruturas que os amarravam. E mais, eu os citava com freqüência em minhas conversas. Um abandonara a faculdade, outro abandonara a família, outro largou as perspectivas de uma carreira promissora, um foi viver às margens do Amazonas e outro foi viver junto a cachoeiras e grutas. Naquele dia, eu olhei para mim mesmo e me perguntei: E eu? Onde fico no meio disso? O que estou fazendo com minha vida? Percebi então claramente todos os nós que me mantinham amarrado, sentado numa cadeira, numa vida burocrática. Eram nós atados com os meus esforços e tentativas de conseguir segurança na vida e me prevenir contra as incertezas.

Quando conheci Osho senti nele um convite, uma provocação, um empurrão para que eu liberasse a minha semente oculta, para que eu mudasse o meu discurso, parando de citar a coragem e o salto no escuro dos outros e começasse eu mesmo a experimentar meus próprios saltos, a me expor e arriscar viver mais intensamente, a conhecer e saborear as várias nuances da vida.

Aprendi com Osho que não adianta querer segurar a correnteza do rio, não adianta querer ter certezas sobre o rumo que as águas irão tomar. A vida jorra cheia de imprevistos, cheia de riscos, cheia de incertezas. Foi uma lição e tanto.

“Liberdade significa caminhar no fio da navalha – a todo momento correndo perigo. Cada momento é um desafio vindo do desconhecido. Algumas vezes é quente demais e outras vezes é muito frio – e não há ninguém para cuidar de você.” (Osho – The Golden Future – Cap.26).

Era preciso aprender a caminhar como o equilibrista.

“A vida é como andar na corda bamba: é preciso o esforço correto e consciência para que você não caia. A cada momento existe perigo: se você se inclinar muito para a esquerda, irá cair. Sentindo que está se inclinando muito para a esquerda, você tem que se voltar para a direita, para manter o equilíbrio. E quando você se volta para a direita, chega um momento em que você sente que vai cair para a direita; então você começa a se inclinar para a esquerda, apenas para manter o equilíbrio. Esse é o esforço correto: manter-se equilibrado.” (Osho – The Dhammapada – vol.6 – cap. 3)

Precisei de um tempo, praticando essa lição, quando recebi um novo toque para dar mais um passo adiante. Foi quando li Osho dizendo que o desafio maior é curtir e celebrar a caminhada no fio da navalha. Isso foi demais.

Está certo que eu já havia aprendido (ou estava aprendendo) que viver é expor-se ao risco, à incerteza. E se não há outra maneira de se viver, a não ser caminhando no fio da navalha, então só nos resta mesmo curtir e celebrar essa caminhada. Ou seja, só nos resta estar abertos e receptivos para o que a vida nos apresentar, estar de prontidão para o que der e vier, e celebrar tudo, o frio e o quente, o sol e a chuva, a dor e a alegria, os picos e os vales. Tudo é incerto e perigoso, mas também tudo é fugaz, nada é permanente. Como diz o ditado: não há mal que sempre dure e não há bem que não se acabe.

E ao invés de querer entender os sinais da vida, ao invés de buscar uma explicação para o que está acontecendo, a grande sacada é simplesmente aceitar a vida como um mistério que se revela a cada momento. E aceitar com um sim, com alegria e celebração.
Então, nada mais nos resta a fazer senão curtir e celebrar o milagre da vida, seja neste sábado de carnaval, seja nos outros 364 dias do ano.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Surpresas da vida


Eu acabara de chegar em Manhattan.
Vinha do Brooklyn, onde, por obra do acaso, metade de meu coração resolveu fincar raízes.
Deixei o metrô e, subitamente, me vi diante da Praça da Estação.

Parecia que tudo estava do mesmo jeito... Um pouco de poeira, é claro, mas o mesmo ponto de táxi e o Cine São Luís, à esquerda. Mas não naquela sua fase decadente em que só exibia filmes pornô. Não, era o Cine São Luís onde eu assistia todos os domingos de manhã aos emocionantes filmes de faroeste e onde, diante da entrada principal, a meninada espalhava pelo chão os gibis usados para o esperado troca-troca.

Foi exatamente do velho prédio da estação da Central que vi Maria Teresa descendo as escadas. Ela vinha como uma princesa, com um longo vestido branco e com um chapéu bordado, também branco. Ela me viu e sorriu.
Ah! Pensei eu, há quantos anos esperava por esse sorriso...
Foram precisos 40 anos para que esse encontro se consumasse. Assim, desta maneira, simples e inocente, sem amarras, sem precisar pedir licença.

Por que 40 anos? Eu fiquei e ainda fico me perguntando.
Por que esperar 40 anos para realizar tantas coisas que num estalar de dedos sempre estiveram exatamente ali na minha frente?
E nesta hora eu me pergunto: quantas coisas mais eu aspiro e posso realizar e que, na minha inconsciência nem me dou conta de que estão ali à minha disposição, aguardando apenas o meu simples estalar de dedos?
Será que terei que sair pelas ruas, procurando atrás dos velhos prédios, nos becos e praças públicas? Onde estão essas coisas ou essas pessoas ou essas experiências ainda não vividas e ávidas de receberem um sopro humano, e que certamente estão aguardando por mim em alguma esquina?
Terei que ir novamente à Índia, ou estará aqui do lado, na subida da rua Antônio Carlos onde num dia encontrei Gisele, o grande amor de minha vida que no outro dia virou sorvete e derreteu?

Realmente não sei. São muitas indagações para minha cabeça. Acho melhor virar para o canto e dormir novamente. Quem sabe se amanhã a vida vai me presentear com uma agradável surpresa?

sábado, 31 de janeiro de 2009

Iluminação


Iluminação não é algo tão simples como pode parecer, principalmente diante do grande pelotão de pessoas que se declaram iluminadas hoje em dia. Parece que virou moda declarar-se iluminado.
A nossa mente pode criar uma série de argumentos, uma série de raciocínios, uma série de justificativas e explicações a respeito do que é iluminação. A nossa mente analisa as atitudes, as palavras, a aparência de um iluminado ou de alguém que se declara iluminado, e tira suas conclusões.
Mas eu entendo que a experiência de iluminação é algo que transcende a tudo isso que possa ser descrito pela mente.
Eu sei que Osho é iluminado pelo que ele transmite em seu olhar, em seus gestos, em sua presença, no amor que permeia suas palavras. A serenidade dele é imperturbável.
Você olha nos olhos dele e vê o vazio, vazio de ego. É de fato um bambu oco. Mesmo num vídeo dá para se perceber isso.

Neste blog, eu postei um artigo em 19/01/09, onde disse: "um dia a gente encontra a chave que nos abre a porta do silêncio e quietude interior, sem qualquer técnica. Um dia a gente começa a ter vislumbres reais do nosso centro mais interno, onde está a nossa fonte de sabedoria e discernimento e então podemos dizer que estamos dando o quarto passo para realmente conhecer Osho. Eu entendo que é nesse espaço de silêncio e paz, nesse vazio interno, nessa quietude, que realmente nos encontramos com Osho, nos encontramos conosco mesmo, nos encontramos com Deus."
Mas isso são apenas vislumbres que a gente consegue ter. Às vezes essa experiência se torna muito forte e até parece que vamos explodir em êxtase. No máximo isso pode ser um satori, que ainda assim é apenas um vislumbre da luz mais ampla e intensa que podemos alcançar.
Por tudo que li do Osho (não é pela minha experiência, mas sim pela leitura do Osho), compreendi que a iluminação chega quando esse vislumbre se torna um estado permanente de ser. A pessoa vive 24 horas por dia esse vislumbre, esse êxtase, esse estado em que todas as suas percepções estão afloradas, todo o seu potencial vem à tona, e vive isso naturalmente, espontaneamente. É quando Osho diz que qualquer ato da pessoa, por menor que seja, acontece meditativamente, graciosamente, cheio de luz.

Através dos toques do Osho, entendi que a iluminação chega à pessoa, a iluminação acontece. A pessoa não faz práticas específicas para isso. Não adianta querer apressar esse acontecer. Não é assim que ocorre. Mas é preciso percorrer um caminho e não se pode perder a naturalidade e a espontaneidade. E na maior parte das vezes essa naturalidade e espontaneidade ainda têm que ser resgatadas, pois foram sufocadas ao longo de nossa vida. E tem muito mais coisas a serem resgatadas: a nossa alegria, o nosso prazer, a nossa sensitividade... Então eu entendo que esse é um caminhar onde cada passo é criado a cada momento, onde o cuidado tem que estar sempre presente, onde a sintonia com o nosso centro é fundamental para que possamos responder a cada situação a partir desse centro mais interno e mais puro e não a partir de nosso ego, não a partir de nossos condicionamentos. É uma longa caminhada onde a prática regular de meditação é fundamental, senão a gente escorrega e cai na mente, cai no ego, cai na programação e perde essa sintonia com nosso centro. Este é o ponto onde eu sinto que me encontro hoje, buscando essa regularidade na meditação, buscando trazer consciência para cada ato, procurando estar presente em cada momento. E estar presente não é estar com a mente presente, analisando e acompanhando e registrando cada fato. É estar conectado com o nosso centro mais interno a cada momento, a cada agir, a cada falar, a cada fazer.

Entendi através das leituras do Osho que a iluminação chega à pessoa quando ela está vulnerável, receptiva e aberta. E ele diz que a iluminação acontece num piscar de olhos. Mas para se chegar até esse ponto, o caminho tem que ser percorrido. E aí é aquela velha história: temos que praticar muitas técnicas de meditação, durante muitos anos, até descobrirmos a chave que abre a porta do silêncio e quietude interior, como disse no meu artigo acima citado. E, mais apropriadamente, como foi dito por Osho no texto do boletim deste mês de fevereiro:
"No meio da noite, você acordará, sentará na cama e simplesmente entrará em sua solitude. E isto é apenas uma questão de seguir repetindo. Na medida em que você vai se movendo para dentro e para fora, vai ficando mais fácil, o caminho se torna mais leve. Isso se torna tão fácil que a qualquer momento você simplesmente fecha os olhos e imediatamente alcança o centro, sem perder um átimo de segundo. Então, até na praça do mercado você pode estar só, no meio da multidão. E você sentirá uma certa alegria crescendo em você, uma certa canção surgindo em seu silêncio, uma certa fragrância que você nunca conheceu antes."

Eu suponho que, depois que a pessoa chega nesse ponto, trazendo cada vez mais a meditação para a sua vida, ela poderá dar mais um passo que é esse estado de vulnerabilidade, abertura e receptividade em que Osho diz que um clique acontece e a pessoa acorda.
Com certeza esse estado ainda não faz parte de minha experiência.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Cadê o fio da barba de Jesus?


Vó Ângela era uma matriarca típica. E ela tinha seus méritos. Aprendeu rapidamente a língua de sua nova terra e logo conseguiu trabalhar como professora de português. A morte do marido Pietro complicou um pouco sua vida, afinal haviam chegado da Itália, fazia pouco tempo, no final do século XIX com três filhos a tira-colo.

Mas vó Ângela não se fez de rogada e aceitou logo casar-se novamente com aquele que viemos a conhecer como padrinho Artur. Padrinho porque ele era muito vaidoso e não aceitava ser chamado do avô. Ele era austríaco, fugiu das várias guerras do império Austro-húngaro na segunda metade do século XIX e clandestinamente chegou ao Brasil, escondendo-se nas vizinhanças de Juiz de Fora. Casara-se com uma ex-escrava que lhe deu quatro filhos antes de morrer e deixá-lo viúvo. Padrinho Artur ostentava com orgulho a foto de Francisco José I, imperador da Áustria e rei da Hungria, casado com a mulher considerada mais bonita de seu tempo, Isabel da Baviera, conhecida na família com o nome de Sissi, que veio a ser vivida no cinema por Romy Schneider, um sucesso de bilheteria, nos anos 50.

Conta-se que antes de vir para o Brasil, durante a guerra da unificação italiana, quando a região de Veneza era disputada entre austríacos e italianos, um padre italiano bateu na porta da casa de vó Ângela pedindo para se esconder, pois estava sob a mira dos soldados. Na madrugada, o padre foi embora sem ao menos se despedir. De manhã encontraram uma caixinha esquecida pelo padre, dentro da qual havia um fio da barba de Jesus (!?).

É bom lembrar que no início dos tempos modernos, a igreja “vendia”, ou seja, concedia indulgência a quem comprasse relíquias sagradas. Conta-se que havia 19.000 pedaços de ossos sagrados à venda e que com os fragmentos da cruz de Cristo disponíveis seria possível construir uma esquadra como a de Cabral, com treze navios. Isso talvez explique como o fio da barba de Jesus chegou em Juiz de Fora numa caixinha da vó Ângela. Vó Ângela deixou o corpo antes de 1940 e com ela desapareceu a tal caixinha. Conta minha mãe, que só os mais velhos tiveram acesso ao tal conteúdo da caixa. Nada mais ela sabe dizer a respeito. Eu sempre fiquei me perguntando: será que existiu a tal caixinha?

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Para se conhecer Osho


Na minha maneira de ver, existem quatro passos fundamentais para se conhecer a mensagem do Osho.
A gente começa lendo seus livros. Eu li o primeiro livro do Osho em 1982 e não parei mais.
Ele fala de questões delicadas e complexas sobre as quais sempre tivemos dificuldades de compreender quando lemos os textos de mestres do passado. Ele fala de maneira simples, clara e de fácil compreensão. E como todos temos a semente da sabedoria escondida em nós, ao vê-lo falar essa verdade surge logo uma ressonância dentro de nós. Por isso muita gente diz: “eu gosto do Osho porque ele fala exatamente as coisas que eu penso. Temos opiniões muito parecidas.” Não nos damos conta de que não se trata de uma verdade dele ou minha. A verdade é eterna e universal. É disso que ele nos fala. E ele fala de uma maneira tão poética que facilmente ficamos envolvidos.

Depois que ficamos “viciados” em ler Osho, descobrimos que ele não escreveu esses livros. Eles são transcrições de suas palestras. Eu quis então vê-lo falar, tive vontade de conhecer os vídeos com suas palestras. No meu começo, Osho ainda estava no corpo e eu fui até Puna para vê-lo pessoalmente. Não tinha como não ir. Senti o chamado de maneira irresistível. É claro que hoje as coisas são diferentes pois Osho não está no corpo. E além disso, nem todos sentem essa vontade de querer ver seus vídeos e ficam mesmo no nível mais intelectual e filosófico. Mas quando vemos o seu vídeo com o coração aberto, com a mente esvaziada, não há como não ficarmos fascinados com sua presença, seus gestos e seu olhar, que dizem muito mais que as palavras.

O terceiro passo, que é muito importante, costuma vir junto com as leituras ou com os vídeos. É quando descobrimos que o centro de sua mensagem é a meditação. Quando temos a sorte de viver numa cidade em que funciona um Centro de Meditação, então mergulhamos fundo na Dinâmica, na Kundalini, na Nataraj, na Nadabrahma e em várias outras técnicas por ele criadas. Lembro-me de como todas essas técnicas mexiam (e ainda mexem) comigo. Organizávamos grupos para ir a um sítio num final de semana e fazíamos, por nossa conta, maratonas de meditações. Em casa, os amigos se reuniam para meditar com uma freqüência que hoje não vejo ser tão comum.

A verdade, é que quando entramos na prática de meditações é que começamos a verdadeira aventura. Começamos a mergulhar em nosso espaço interior, um espaço até então não explorado. Ele é vazio e silencioso, mas com uma profundidade e uma paz que nos toma e deixa uma irresistível vontade de querer experimentar mais.
No começo é normal fazermos confusão e entendermos errado uma série de sensações e imagens que nos surgem. Mas Osho deixou-nos muitas orientações e esclarecimentos que facilitam o nosso caminho. Sempre gostei de recorrer ao “Meditação: Primeira e Última Liberdade” para ouvir do Osho as explicações sobre o que é de fato meditação e o que é viagem da minha mente.
As técnicas de meditação do Osho são ferramentas muito importantes para nós ocidentais e modernos. As velhas técnicas orientais dificilmente funcionam de fato para homem estressado e apressado de nossos dias. Podem até propiciar um relaxamento e servir de "refresco" no meio da confusão diária. Mas isso é muito pouco diante da grande revolução que a meditação pode propiciar na vida de um meditador.

Na minha experiência pessoal, eu pude perceber com a prolongada prática de meditações do Osho ao longo dos anos, que suas técnicas nos preparam para um dia descobrirmos aquilo que ele mesmo disse: que as técnicas são apenas técnicas e que a meditação é algo que está além das técnicas. E que um dia a gente encontra a chave que nos abre a porta do silêncio e quietude interior, sem qualquer técnica.
Um dia a gente começa a ter vislumbres reais do nosso centro mais interno, onde está a nossa fonte de sabedoria e discernimento e então podemos dizer que estamos dando o quarto passo para realmente conhecer Osho. Eu entendo que é nesse espaço de silêncio e paz, nesse vazio interno, nessa quietude, que realmente nos encontramos com Osho, nos encontramos conosco mesmo, nos encontramos com Deus.
O mergulho nesse espaço, cada vez mais fundo é o processo de autoconhecimento.
A jornada é longa, mas é uma bela jornada. É como perseguir o arco-iris num caminho cheio de aventuras e surpresas. Vale a pena. Na verdade, é a única coisa que vale a pena.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Bem-vindo Ano Novo!


Eu sempre acho e digo que essas coisas de ano novo, datas natalícias, dias disso e daquilo são bobagens. E acho mesmo. Mas devo admitir que para mim este ano de 2009 está começando com ares diferentes, com uma nova energia, nova disposição e um novo colorido.

Sinto que minha vida está diferente. Não tanto por fatores externos, mas sobretudo por uma atitude interna que brotou em mim de querer estar mais vivo, mais consciente, mais sintonizado com o que realmente quero a cada momento, com o que realmente estou sentindo lá bem no fundo. E junto com isso veio uma não-disposição a fazer concessões, a contemporizar. Sinto que estou abrindo as portas para a expansão e realização de meu potencial, de minha vontade, de minha criatividade, de minha liberdade enfim.

E sinto que isso tudo veio com o ano novo.
E parece que ele veio forte mesmo. Primeiro queimou o HD de meu computador e me pôs duas semanas debruçado em cima de pen-drives e velhos arquivos copiados em CDs e notebook, tentando recuperar o máximo possível de minhas ferramentas de trabalho. Perdi o material preparado para o boletim de janeiro que não saiu, perdi várias coisas, mas não perdi a vontade e o gás de querer refazer tudo, e de aproveitar para refazer de uma maneira melhor, de aproveitar e repensar a estrutura do site do Osho Brasil, criar novas seções, tentar torná-lo mais leve e agradável de ser lido. E estou gostando do que estou criando.

Devo confessar que a perda do HD com todo o trabalho nele arquivado foi um choque. Enquanto minha CPU ficou no conserto, para instalar novo HD zerado, passei mais que um dia sozinho, sem falar com ninguém e sem fazer absolutamente nada. Fiquei parado, sem entender o que estava acontecendo e sem querer entender.

Mas foi apenas isso. A partir daí começou forte o meu processo de recuperação, não só do HD, mas principalmente de meu pique de querer e fazer, de vislumbrar possibilidades e realizá-las. E nesse pique, também veio uma clareza maior quanto à realização de eventos com base na visão do Osho. Algumas parcerias surgiram neste início de ano, incluindo um belo espaço natural onde esses trabalhos serão oferecidos e pessoas com quem poderei compartilhar atuações. No site do Osho Brasil, a galeria de fotos pode ser acessada através do seguinte endereço www.oshobrasil.com.br/andorinhas.htm

Bem-vindo 2009!