Já ouvi versões variadas daquela história de um místico que, ao iniciar-se no caminho, achava que a montanha era montanha e que a floresta era floresta. E que depois de um certo tempo, ele percebeu que a montanha não era montanha e que a floresta não era floresta. Porém, na medida em que sua busca se aprofundava, ele foi capaz de compreender que a montanha era realmente montanha e que a floresta era floresta, até um dia em que teve um vislumbre e percebeu, a partir de uma nova perspectiva, que nem a montanha era montanha, nem a floresta era floresta. E a história assim continuava com alternância de percepções sempre que a compreensão do místico mais se elevava a respeito de montanhas e florestas, e de muitas coisas mais.
Quem está do lado de fora pode ter a impressão de que a pessoa está dando voltas sem sair do lugar. Pode achar que ela está demorando a chegar a uma compreensão aparentemente óbvia.
Mas nesse caminho não há demora nem antecipação. Tudo acontece como tem que acontecer e na hora certa. E aquilo que parece ser óbvio, pode ter um significado e uma profundidade que escapa ao observador externo.Por isso se diz que o caminho é absolutamente individual.
Muitas vezes precisamos percorrer quilômetros e mais quilômetros nessa caminhada para nos darmos conta de que algumas supostas compreensões, pontos de vista e opiniões nada mais são que construções sobre areias e que não resistem a um vendaval mais forte. Somente o indivíduo, a partir de sua própria experiência existencial, é capaz de saber onde está pisando e o significado de cada passo em seu processo pessoal. E o pior é que na maior parte das vezes nem mesmo o indivíduo sabe onde está pisando. Nossa miopia nos impede de ver. E é uma grande conquista quando, pelo menos nos tornamos conscientes da nossa miopia.
sábado, 31 de outubro de 2009
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Osho não é um filósofo

Para quem está se iniciando nas leituras do Osho, existe algo um pouco complicado para se explicar: Osho não é um filósofo nem um pensador.
No texto que acabamos de traduzir para o site http://www.oshobrasil.com.br/ (texto n° 117), Osho nos diz textualmente: "eu não estou argumentando em favor de alguma filosofia. Eu estou argumentando em favor da existência," E mais: "Eu não sou filosófico, de jeito algum, eu sou totalmente existencial."
A propósito, esse (novo) texto n° 117 (Osho e a Cultura Indiana) mostra a cultura milenar indiana sob um ângulo diferente do que habitualmente nos é mostrado.
Na medida em que nos aprofundamos nas leituras do Osho vamos percebendo que muitas vezes ele é contraditório, incoerente e inconseqüente. Mas acima de tudo isso, percebemos uma profunda coerência, uma elevada lógica e tudo muito conseqüente.
É um pouco complicado explicar isso. Mas, na verdade, quando Osho fala, ele não está compartilhando uma grande reflexão filosófica que ele previamente fez sobre o mundo, sobre as coisas do mundo. Quando fala, ele está respondendo espontaneamente a perguntas que lhe são formuladas por buscadores. A resposta dele é proferida naquele exato momento; ele fala como um porta-voz da vida, da existência. E a vida não acontece de maneira linear. Na aritmética, dois mais dois são sempre quatro. Mas na vida real tudo é imprevisível, dois mais dois podem ser três ou podem ser cinco. A vida escapa ao nosso controle.
Por ele estar em permanente sintonia com a verdade eterna e universal, com o fluxo da vida, as respostas brotam naturalmente, momento a momento, e ele responde ao buscador. E aqui, algo precisa ficar claro: ele responde muito mais ao buscador do que à pergunta formulada pelo buscador. Ele responde aquilo que o buscador precisa ouvir, não o que ele quer ouvir.
Mergulhar nos textos do Osho é um grande deleite. Os textos são transcrições de suas palestras. E ele fala como um poeta e nos revela meandros sinuosos da existência. Lendo seus textos, somos transportados a uma compreensão clara e inovadora do mundo, das coisas, das pessoas, dos relacionamentos. E embora seja inovadora, a gente fica sempre com a sensação de que essa já era a compreensão que tínhamos de todas essas questões.
E é verdade. Todos nós temos dentro de nós essa semente de compreensão mais clara e verdadeira de tudo. O problema é que essa nossa compreensão pura foi abafada, inibida, censurada e reprimida através do nosso processo de preparação e adaptação ao mundo externo, à sociedade e seus diversos pilares: família, igreja, estado, moralidade, tradição, etc. etc.
A mensagem do Osho é um convite para que resgatemos em nós essa compreensão pura, para que resgatemos aquilo que somos anteriormente a toda essa programação que recebemos, aquilo que somos por trás do ego que desenvolvemos e carregamos ao longo da vida. E o caminho para esse resgate se chama meditação. Meditação é algo vivencial, não é uma teoria ou filosofia. Meditar é penetrar no mundo da não-mente, muito além do mundo da mente, dos pensamentos e das reflexões mentais propiciadas pela leitura de livros, mesmo os de autoria do Osho.
Assim, o circulo de compreensão da mensagem do Osho se completa. A mensagem do Osho não se resume à soma do conteúdo de suas palestras. O trabalho do Osho não acontece apenas como resultado da leitura de seus livros. A mensagem do Osho não é filosófica, mas sim existencial. A prática da meditação propicia a alquimia necessária, a transmutação necessária para nos livrarmos das máscaras e das armaduras com as quais nos identificamos para que, assim, possamos resgatar aquilo que no Zen se costuma chamar de nossa face original. É nesse sentido que se costuma dizer que a meditação é a única e verdadeira terapia possível, resgatando a nossa verdadeira liberdade, a nossa potencialidade, aquilo que somos verdadeiramente. Ao contrário das muitas psicoterapias ocidentais que propõem tornar o nosso ego mais saudável, Osho nos diz que o ego é sempre doentio. Esse é o tema do próximo texto (n° 118) que iremos traduzir em breve para o nosso site http://www.oshobrasil.com.br/ .
No texto que acabamos de traduzir para o site http://www.oshobrasil.com.br/ (texto n° 117), Osho nos diz textualmente: "eu não estou argumentando em favor de alguma filosofia. Eu estou argumentando em favor da existência," E mais: "Eu não sou filosófico, de jeito algum, eu sou totalmente existencial."
A propósito, esse (novo) texto n° 117 (Osho e a Cultura Indiana) mostra a cultura milenar indiana sob um ângulo diferente do que habitualmente nos é mostrado.
Na medida em que nos aprofundamos nas leituras do Osho vamos percebendo que muitas vezes ele é contraditório, incoerente e inconseqüente. Mas acima de tudo isso, percebemos uma profunda coerência, uma elevada lógica e tudo muito conseqüente.
É um pouco complicado explicar isso. Mas, na verdade, quando Osho fala, ele não está compartilhando uma grande reflexão filosófica que ele previamente fez sobre o mundo, sobre as coisas do mundo. Quando fala, ele está respondendo espontaneamente a perguntas que lhe são formuladas por buscadores. A resposta dele é proferida naquele exato momento; ele fala como um porta-voz da vida, da existência. E a vida não acontece de maneira linear. Na aritmética, dois mais dois são sempre quatro. Mas na vida real tudo é imprevisível, dois mais dois podem ser três ou podem ser cinco. A vida escapa ao nosso controle.
Por ele estar em permanente sintonia com a verdade eterna e universal, com o fluxo da vida, as respostas brotam naturalmente, momento a momento, e ele responde ao buscador. E aqui, algo precisa ficar claro: ele responde muito mais ao buscador do que à pergunta formulada pelo buscador. Ele responde aquilo que o buscador precisa ouvir, não o que ele quer ouvir.
Mergulhar nos textos do Osho é um grande deleite. Os textos são transcrições de suas palestras. E ele fala como um poeta e nos revela meandros sinuosos da existência. Lendo seus textos, somos transportados a uma compreensão clara e inovadora do mundo, das coisas, das pessoas, dos relacionamentos. E embora seja inovadora, a gente fica sempre com a sensação de que essa já era a compreensão que tínhamos de todas essas questões.
E é verdade. Todos nós temos dentro de nós essa semente de compreensão mais clara e verdadeira de tudo. O problema é que essa nossa compreensão pura foi abafada, inibida, censurada e reprimida através do nosso processo de preparação e adaptação ao mundo externo, à sociedade e seus diversos pilares: família, igreja, estado, moralidade, tradição, etc. etc.
A mensagem do Osho é um convite para que resgatemos em nós essa compreensão pura, para que resgatemos aquilo que somos anteriormente a toda essa programação que recebemos, aquilo que somos por trás do ego que desenvolvemos e carregamos ao longo da vida. E o caminho para esse resgate se chama meditação. Meditação é algo vivencial, não é uma teoria ou filosofia. Meditar é penetrar no mundo da não-mente, muito além do mundo da mente, dos pensamentos e das reflexões mentais propiciadas pela leitura de livros, mesmo os de autoria do Osho.
Assim, o circulo de compreensão da mensagem do Osho se completa. A mensagem do Osho não se resume à soma do conteúdo de suas palestras. O trabalho do Osho não acontece apenas como resultado da leitura de seus livros. A mensagem do Osho não é filosófica, mas sim existencial. A prática da meditação propicia a alquimia necessária, a transmutação necessária para nos livrarmos das máscaras e das armaduras com as quais nos identificamos para que, assim, possamos resgatar aquilo que no Zen se costuma chamar de nossa face original. É nesse sentido que se costuma dizer que a meditação é a única e verdadeira terapia possível, resgatando a nossa verdadeira liberdade, a nossa potencialidade, aquilo que somos verdadeiramente. Ao contrário das muitas psicoterapias ocidentais que propõem tornar o nosso ego mais saudável, Osho nos diz que o ego é sempre doentio. Esse é o tema do próximo texto (n° 118) que iremos traduzir em breve para o nosso site http://www.oshobrasil.com.br/ .
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Metamorfose

Eu venho num processo de desmonte de uma série de pilares em que me sustentava.
Por volta dos quarenta anos eu passei por um processo semelhante, mas ao me desenraizar de uma velha programação moralista, repressora e rígida, eu acabei assumindo uma nova programação, ainda que fosse inspirada na liberdade, na alegria e na criatividade. Mas era ainda uma programação. O que eu estou passando agora, na altura dos sessenta anos é um desenraizamente dessa outra programação.
É como se diz: as fichas estão caindo e com elas um ego cheio de babaquices, escondido atrás de um belo discurso e sustentado por uma série de ilusões, crenças, expectativas, ideais, etc.
Tudo isso faz parte do processo.
Não estou me sentindo mal com isso.
Mas não estou assumindo o papel que assumia antes. Não quero, não tenho vontade e nem consigo mais.
Estou num novo momento, curtindo a mim mesmo, redescobrindo cada vez mais a simplicidade, me dissolvendo cada vez mais na amorosidade, no encantamento com as pequenas coisas, e cada vez fazendo menos alarde a respeito de tudo isso.
Tenho sentido a necessidade de escrever essa outra perspectiva a respeito de coisas que escrevi antes a partir de outra ótica. É como se eu quisesse apresentar o negativo das fotografias, mostrar que a vida existe na multidimensão, no conflito, no desencontro, na ilogicidade.
Não estou mal. Apenas eu fui muito tagarela exaltando coisas que hoje estão desmontadas. E eu estou descrevendo esse desmonte.
O desmonte faz parte do processo. É apenas um momento. Daqui a pouco surgirão outros momentos. É como nossa variação de humor: hoje acordamos bem e amanhã acordamos mal. Não sabemos bem porque. Mas basta uma borboleta pousar numa flor para seduzir a criança que temos dentro de nós e, inesperadamente o nosso humor mudar e uma lágrima de êxtase brotar em nossos olhos.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Quando Osho diz que não é guru
Até bem pouco tempo, eu achava relativamente fácil responder aos vários e-mails que chegavam em minha Caixa de Entrada com perguntas sobre Osho e seu trabalho. Eu citava uma série de textos do Osho que fundamentavam um tipo de atitude a se tomar diante dos fatos apresentados. E eu me sentia bem, como se estivesse realizando uma proposta que eu mesmo havia assumido enquanto centro de informações sobre Osho.
Hoje eu vejo as coisas um pouco diferente. Depois de algum tempo eu passei a ter uma compreensão diferente a respeito de algumas questões.
Por exemplo, eu já tinha lido, e repetia com freqüência, as afirmações do Osho quando dizia que não nos quer como seguidores, que não quer ser o nosso guru, mesmo sabendo que nós tínhamos a necessidade de tê-lo como tal.
A primeira coisa a considerar é que o grande desafio que Osho nos apresenta é no sentido de que caminhemos o nosso próprio caminho, que nós tenhamos nossos próprios vislumbres da verdade, que, através da meditação, alcancemos nosso centro de serenidade, discernimento e sabedoria.
E, a partir do momento em que eu acesso o meu centro mais profundo, o meu deus interior, a minha consciência maior, então, a partir desse estado meditativo eu respondo a cada desafio que a vida me apresenta, momento a momento. A cada momento eu terei clareza e discernimento para agir e responder ao que o momento pede.
Assim, somos nós, a partir de nosso centro mais profundo, a partir de nossa humildade, nossa inocência, nossa intuição, nossa sensibilidade e sensitividade, a partir de nosso silêncio interior e profundo estado meditativo, que alcançamos o discernimento necessário e suficiente para agirmos, presentes no aqui e agora, respondendo o que cada momento nos apresenta. Respondendo a partir do nosso centro e não reagindo a partir de nosso ego, respondendo a partir de nosso coração, de nossa amorosidade, simplicidade e humildade.
Os cristãos vivem repetindo uma frase que não sei bem ao certo. É algo parecido com isso: "Se Deus está comigo, quem será contra mim?". Mas Deus está sempre com cada um de nós, embora nós nos distanciemos dele ao nos identificarmos com nosso ego. E quando vamos além do ego, quando estamos meditativamente presentes no aqui e agora, nós manifestamos esse deus que existe e vive dentro de nós. É o nosso centro mais profundo.
E se acessamos esse centro, se nos conectamos com deus dentro de nós, ou em outras palavras, se acessamos nosso mestre interior, então o discernimento vem como conseqüência. Não temos que nos preocupar. Quem será contra nós? Talvez possa haver obstáculos ao nosso ego, às nossas pretensões egóicas, mesmo as inconscientes. Mas, se a cada momento, estamos presentes no aqui e agora, saberemos agir e falar com sabedoria momento a momento, saberemos escolher, saberemos onde e quando dar o passo. Tudo será conseqüência de nosso estado meditativo.
Aí, não temos que recorrer a Osho, nem a Budha nem a Cristo. Mantemos sim, a nossa gratidão, o nosso respeito, o nosso reconhecimento a tudo que recebemos dele ou deles, em nosso processo, em nossa caminhada. Mas é chegada a hora de pegarmos nossa mochila e colocarmos o pé na estrada, construindo o nosso próprio caminho.
Osho nos disse: "Eu sou um convite", "Eu sou uma desculpa", "Eu estou aqui para provocar o deus que existe em você". Ele nunca disse que nos daria um mapa, um roteiro, um atalho.
Na verdade, não existem mapas, nem roteiros nem atalhos.
Até bem pouco tempo, quando me formulavam certas perguntas, eu ficava muito agradecido e respondia com várias citações do Osho.
Hoje eu tenho uma compreensão diferente sobre quando Osho diz que ele não é um filósofo, que não é guru. Hoje eu compreendo melhor porque ele diz (citando Buda) que se ele cruzar o nosso caminho, ainda que seja num sonho, devemos cortar a sua cabeça.
Osho não o somatório de suas palestras. Osho é uma experiência viva de transcendência, de ir além da condição humana e alcançar os píncaros da realização plena.
E o desafio que ele coloca para cada um de nós, é para que encontremos nosso caminho, para que criemos nosso caminho, para que sejamos senhores de nosso próprio caminho, para que alcancemos os píncaros de nossa plenitude.
As dicas, os toques que ele nos deixou são importantíssimos, daí nossa profunda gratidão. Mas se nos apegarmos às suas palavras, à sua imagem, à memória de sua presença entre nós, e não dermos os nossos próprios passos na caminhada que é exclusiva de cada um de nós, então podemos dizer que, na verdade, não entendemos nada do que ele nos disse.
Hoje eu vejo as coisas um pouco diferente. Depois de algum tempo eu passei a ter uma compreensão diferente a respeito de algumas questões.
Por exemplo, eu já tinha lido, e repetia com freqüência, as afirmações do Osho quando dizia que não nos quer como seguidores, que não quer ser o nosso guru, mesmo sabendo que nós tínhamos a necessidade de tê-lo como tal.
A primeira coisa a considerar é que o grande desafio que Osho nos apresenta é no sentido de que caminhemos o nosso próprio caminho, que nós tenhamos nossos próprios vislumbres da verdade, que, através da meditação, alcancemos nosso centro de serenidade, discernimento e sabedoria.
E, a partir do momento em que eu acesso o meu centro mais profundo, o meu deus interior, a minha consciência maior, então, a partir desse estado meditativo eu respondo a cada desafio que a vida me apresenta, momento a momento. A cada momento eu terei clareza e discernimento para agir e responder ao que o momento pede.
Assim, somos nós, a partir de nosso centro mais profundo, a partir de nossa humildade, nossa inocência, nossa intuição, nossa sensibilidade e sensitividade, a partir de nosso silêncio interior e profundo estado meditativo, que alcançamos o discernimento necessário e suficiente para agirmos, presentes no aqui e agora, respondendo o que cada momento nos apresenta. Respondendo a partir do nosso centro e não reagindo a partir de nosso ego, respondendo a partir de nosso coração, de nossa amorosidade, simplicidade e humildade.
Os cristãos vivem repetindo uma frase que não sei bem ao certo. É algo parecido com isso: "Se Deus está comigo, quem será contra mim?". Mas Deus está sempre com cada um de nós, embora nós nos distanciemos dele ao nos identificarmos com nosso ego. E quando vamos além do ego, quando estamos meditativamente presentes no aqui e agora, nós manifestamos esse deus que existe e vive dentro de nós. É o nosso centro mais profundo.
E se acessamos esse centro, se nos conectamos com deus dentro de nós, ou em outras palavras, se acessamos nosso mestre interior, então o discernimento vem como conseqüência. Não temos que nos preocupar. Quem será contra nós? Talvez possa haver obstáculos ao nosso ego, às nossas pretensões egóicas, mesmo as inconscientes. Mas, se a cada momento, estamos presentes no aqui e agora, saberemos agir e falar com sabedoria momento a momento, saberemos escolher, saberemos onde e quando dar o passo. Tudo será conseqüência de nosso estado meditativo.
Aí, não temos que recorrer a Osho, nem a Budha nem a Cristo. Mantemos sim, a nossa gratidão, o nosso respeito, o nosso reconhecimento a tudo que recebemos dele ou deles, em nosso processo, em nossa caminhada. Mas é chegada a hora de pegarmos nossa mochila e colocarmos o pé na estrada, construindo o nosso próprio caminho.
Osho nos disse: "Eu sou um convite", "Eu sou uma desculpa", "Eu estou aqui para provocar o deus que existe em você". Ele nunca disse que nos daria um mapa, um roteiro, um atalho.
Na verdade, não existem mapas, nem roteiros nem atalhos.
Até bem pouco tempo, quando me formulavam certas perguntas, eu ficava muito agradecido e respondia com várias citações do Osho.
Hoje eu tenho uma compreensão diferente sobre quando Osho diz que ele não é um filósofo, que não é guru. Hoje eu compreendo melhor porque ele diz (citando Buda) que se ele cruzar o nosso caminho, ainda que seja num sonho, devemos cortar a sua cabeça.
Osho não o somatório de suas palestras. Osho é uma experiência viva de transcendência, de ir além da condição humana e alcançar os píncaros da realização plena.
E o desafio que ele coloca para cada um de nós, é para que encontremos nosso caminho, para que criemos nosso caminho, para que sejamos senhores de nosso próprio caminho, para que alcancemos os píncaros de nossa plenitude.
As dicas, os toques que ele nos deixou são importantíssimos, daí nossa profunda gratidão. Mas se nos apegarmos às suas palavras, à sua imagem, à memória de sua presença entre nós, e não dermos os nossos próprios passos na caminhada que é exclusiva de cada um de nós, então podemos dizer que, na verdade, não entendemos nada do que ele nos disse.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Estamos sós
Basicamente existem dois tipos de sannyasins. Outros tipos existem, mas são derivados desses dois tipos mais significativos.
Existe um grupo majoritário que fica (ou ficava) voando ao redor do Osho e do que lhe diz (ou dizia) respeito, da mesma maneira como as moscas na vitrine da padaria ficam voando atraídas pelo cheiro dos doces.
Esse era o grupo maior que circulava ao redor de Osho, de sua comuna, dos seus centros ao redor do mundo. Era e é o povo que gosta de estar sempre em sintonia com o movimento que está na moda.
Depois que Osho deixou o corpo, ele já não estava mais aqui para criar o "frisson" que a todo instante desestabilizava as estruturas que se tentava montar ao seu redor. Esse permanente "frisson" criava uma mobilização constante, um desafio a todo instante, arrepios, excitação, e tudo isso resultava num dinamismo imenso no movimento ao seu redor. Não se tinha tempo de absorver uma chacoalhada e lá vinha outra a nos dar uma rasteira. Não parávamos em pé.
E permeando esse ambiente, Osho insistia na prática de meditação, o que dava um caráter permanente a esse estado de chacoalhar.
O espírito de festa, celebração e alegria ao redor do Osho se somava a tudo isso e harmonizava a ambientação do movimento.
Sem a presença do grande maestro que era a fonte de todo esse "frisson", muitos sannyasins sentiram-se órfãos.
Esse grande grupo de sannyasins ficou muito dependente da presença desse maestro demolidor, provocador, desafiador, sedutor, intrigante e inspirador.
Sem a presença de Osho, muitos não conseguiram resistir aos apelos do primeiro que se apresentou como "iluminado".
Até hoje, basta qualquer um de nós ter um pouco mais de leitura de Osho e de prática de suas meditações, para que muitos comecem a nos indagar se já não estamos iluminados, se já tivemos experiências de satori ou samadhi. Estão prontos para se prostrar aos pés do primeiro que se declarar iluminado.
Esse grupo sempre esteve voltado para fora, desde a época em que Osho estava no corpo, e continua ainda hoje buscando do lado de fora aquilo que está dentro. Continuam querendo algum guarda chuva ou muleta para se apoiar.
Essas pessoas têm pouco de si mesmas para compartilhar, a não ser a exaltação do Osho de quem se tornaram dependentes como um guru, a não ser as aventuras que viveram em grupo no antigo movimento sannyas, os abraços longos e apertados, as catarses e os momentos de êxtase que experimentaram nos grupos de crescimento, e, por que não, os encontros celebrativos em que se dançava e namorava muito.
Esse é um grupo saudosista que continua à procura de algo que se aproxime daquelas belas e fortes experiências do movimento sannyas, sobretudo quando o maestro estava entre nós.
O outro grupo é bem mais reduzido. É o grupo daqueles que compreenderam o cerne da mensagem do Osho e se recolheram, foram para dentro.
Muitos iniciaram a sua jornada também como moscas de padaria, mas tiveram o seu momento de percepção maior, quando deixaram essa busca do lado de fora e compreenderam que não existe movimento sannyas, que não existe filosofia do Osho, que não existem ensinamentos, que não existem técnicas, que não existe terapia, que não existe ajuda externa alguma.
E quando você percebe a estupidez de toda essa movimentação externa, torna-se impossível continuar nesse jogo.
O compartilhamento dessas pessoas, quando ocorre, é um desabrochar que parte de dentro delas. Não é resultante de nossa expectativa de que elas compartilhem.
Elas não têm obrigação, nem o dever, nem o compromisso de compartilhar coisa alguma.
O comprometimento delas é com elas mesmas. Não é com nossas expectativas.
Por isso, nessa nossa caminhada, não se pode esperar compartilhamento de quem quer que seja. Quem está voltado para fora, está voltado para fora. Tudo bem. É a história dele ou dela. E quem está voltado para dentro, está voltado para dentro. É a história dele ou dela.
O que importa para mim é a minha história, é a caminhada que construo a cada passo, é como percebo cada um desses passos, é a compreensão de cada um desses passos, é a abertura que cada passo me traz. A intensidade e a profundidade de cada passo só eu posso alcançar e só eu posso sentir.
E não me diz respeito o que os outros pensam de cada um de meus passos, por mais que minha mente insista no contrário.
Nessa nossa caminhada estamos sós, estamos sem bússola e sem mapas, não temos objetivos e não sabemos para onde estamos indo.
Por isso surge essa vontade de termos um grupo em que nos apoiar, de termos um mestre vivo que nos sirva de guru, de termos dicas, toques e orientações para iluminar nossos passos. Tudo isso são ilusões, ilusões e ilusões. Nada mais que subterfúgios para não encararmos e assumirmos essa verdade nua e crua de que estamos sós nessa caminhada.
Existe um grupo majoritário que fica (ou ficava) voando ao redor do Osho e do que lhe diz (ou dizia) respeito, da mesma maneira como as moscas na vitrine da padaria ficam voando atraídas pelo cheiro dos doces.
Esse era o grupo maior que circulava ao redor de Osho, de sua comuna, dos seus centros ao redor do mundo. Era e é o povo que gosta de estar sempre em sintonia com o movimento que está na moda.
Depois que Osho deixou o corpo, ele já não estava mais aqui para criar o "frisson" que a todo instante desestabilizava as estruturas que se tentava montar ao seu redor. Esse permanente "frisson" criava uma mobilização constante, um desafio a todo instante, arrepios, excitação, e tudo isso resultava num dinamismo imenso no movimento ao seu redor. Não se tinha tempo de absorver uma chacoalhada e lá vinha outra a nos dar uma rasteira. Não parávamos em pé.
E permeando esse ambiente, Osho insistia na prática de meditação, o que dava um caráter permanente a esse estado de chacoalhar.
O espírito de festa, celebração e alegria ao redor do Osho se somava a tudo isso e harmonizava a ambientação do movimento.
Sem a presença do grande maestro que era a fonte de todo esse "frisson", muitos sannyasins sentiram-se órfãos.
Esse grande grupo de sannyasins ficou muito dependente da presença desse maestro demolidor, provocador, desafiador, sedutor, intrigante e inspirador.
Sem a presença de Osho, muitos não conseguiram resistir aos apelos do primeiro que se apresentou como "iluminado".
Até hoje, basta qualquer um de nós ter um pouco mais de leitura de Osho e de prática de suas meditações, para que muitos comecem a nos indagar se já não estamos iluminados, se já tivemos experiências de satori ou samadhi. Estão prontos para se prostrar aos pés do primeiro que se declarar iluminado.
Esse grupo sempre esteve voltado para fora, desde a época em que Osho estava no corpo, e continua ainda hoje buscando do lado de fora aquilo que está dentro. Continuam querendo algum guarda chuva ou muleta para se apoiar.
Essas pessoas têm pouco de si mesmas para compartilhar, a não ser a exaltação do Osho de quem se tornaram dependentes como um guru, a não ser as aventuras que viveram em grupo no antigo movimento sannyas, os abraços longos e apertados, as catarses e os momentos de êxtase que experimentaram nos grupos de crescimento, e, por que não, os encontros celebrativos em que se dançava e namorava muito.
Esse é um grupo saudosista que continua à procura de algo que se aproxime daquelas belas e fortes experiências do movimento sannyas, sobretudo quando o maestro estava entre nós.
O outro grupo é bem mais reduzido. É o grupo daqueles que compreenderam o cerne da mensagem do Osho e se recolheram, foram para dentro.
Muitos iniciaram a sua jornada também como moscas de padaria, mas tiveram o seu momento de percepção maior, quando deixaram essa busca do lado de fora e compreenderam que não existe movimento sannyas, que não existe filosofia do Osho, que não existem ensinamentos, que não existem técnicas, que não existe terapia, que não existe ajuda externa alguma.
E quando você percebe a estupidez de toda essa movimentação externa, torna-se impossível continuar nesse jogo.
O compartilhamento dessas pessoas, quando ocorre, é um desabrochar que parte de dentro delas. Não é resultante de nossa expectativa de que elas compartilhem.
Elas não têm obrigação, nem o dever, nem o compromisso de compartilhar coisa alguma.
O comprometimento delas é com elas mesmas. Não é com nossas expectativas.
Por isso, nessa nossa caminhada, não se pode esperar compartilhamento de quem quer que seja. Quem está voltado para fora, está voltado para fora. Tudo bem. É a história dele ou dela. E quem está voltado para dentro, está voltado para dentro. É a história dele ou dela.
O que importa para mim é a minha história, é a caminhada que construo a cada passo, é como percebo cada um desses passos, é a compreensão de cada um desses passos, é a abertura que cada passo me traz. A intensidade e a profundidade de cada passo só eu posso alcançar e só eu posso sentir.
E não me diz respeito o que os outros pensam de cada um de meus passos, por mais que minha mente insista no contrário.
Nessa nossa caminhada estamos sós, estamos sem bússola e sem mapas, não temos objetivos e não sabemos para onde estamos indo.
Por isso surge essa vontade de termos um grupo em que nos apoiar, de termos um mestre vivo que nos sirva de guru, de termos dicas, toques e orientações para iluminar nossos passos. Tudo isso são ilusões, ilusões e ilusões. Nada mais que subterfúgios para não encararmos e assumirmos essa verdade nua e crua de que estamos sós nessa caminhada.
sábado, 18 de julho de 2009
Espontaneidade
Recebi um texto extraído de uma fala do Osho sobre espontaneidade.
Lembrei-me de uma situação que vivi há cerca de 25 anos, quando fui com uns amigos passar um final de semana numa chácara. Na programação havia banho na cachoeira, meditações, preparo das refeições, entre outras coisas.
De repente me vi com uma garotinha de 2 anos, filha de uma amiga, que me chamou para brincar. Na época, eu levava uma vida tão robotizada que aquele convite da garotinha me deu um nó na cabeça. E fiquei muito assustado com o fato de não saber brincar espontaneamente.
Essa questão da espontaneidade sempre foi um nó em minha cabeça. Talvez por isso eu tenha gostado tanto desse texto que recebi. E não resisti à vontade de traduzi-lo para publicar neste meu blog.
A tradução que segue foi feita a partir da fonte original do texto do Osho que é o Cap. 15 do livro The Great Nothing, um diário de darshan.
“Se o ser espontâneo for tomado como uma disciplina, você estará criando problemas para si mesmo.
Tudo o que está acontecendo é espontâneo, e você está tentando ser espontâneo. Se você for bem sucedido, isso não será espontâneo.
Tente entender o ponto: o sexo está na sua mente, e também o contínuo julgamento e a culpa, assim como uma mente crítica, sempre pensando sobre o que os outros irão dizer, sempre tentando melhorar – essa é a sua espontaneidade.
Agora você está tentando ser espontâneo – isso significa que deve parar com todas essas coisas. Ora, que tipo de espontaneidade você está tentando ter? Será espontâneo, quando você forçar todas essas coisas a pararem? Isso será uma coisa não-espontânea.
Espontaneidade é aquilo que é. Qualquer que seja o caso, aquilo é a espontaneidade. Ser espontâneo significa não desejar qualquer outra coisa que já não esteja ali.
Se a sua mente julga, e daí?
Se você se sente desconfortável com isso, então fique desconfortável. Se você puder aceitar o estar desconfortável e tudo mais que estiver acontecendo, você será espontâneo.
Espontaneidade não é um objetivo – é uma compreensão. Não é algo que tenha que ser praticado. Tudo que tem que ser praticado torna você mais e mais mecânico, um robô. Espontaneidade é aquilo que já está acontecendo sem que você faça qualquer coisa a respeito.
Seja verdadeiramente espontâneo.
Qualquer que seja o caso, ele é desse jeito. Se você está julgando, tudo bem, você está julgando. Se você tem fantasias sexuais, isso também está OK. E se você se sente desconfortável com isso, tudo bem. Simplesmente tente compreender.
Tentar ser um outro alguém, tentar se tornar melhor, tentar melhorar as coisas, essa é toda a abordagem estúpida que tem corrompido a humanidade ao longo dos séculos, ao longo das eras. Todas as religiões foram corrompidas por causa desse constante desejo de que a pessoa tem que melhorar, tem que se tornar isso ou aquilo.
Todos os objetivos criam tensão e angústia. Viva sem objetivos e, então, você será espontâneo. E observe: eu não estou lhe dizendo para tentar viver sem objetivos, senão isso se tornará um objetivo e de novo você estará num dilema. Eu não estou lhe dizendo para fazer coisa alguma. Eu estou simplesmente dizendo que qualquer que seja o caso, ele é desse jeito.
Se você disser que isso parece ser impossível, então você já transformou isso num objetivo. Quando diz que isso é impossível, você está dizendo, ‘Eu entendo tudo o que você está dizendo, mas eu não consigo fazer. É muito difícil.’
Mas eu não estou lhe dizendo para fazer coisa alguma. As coisas já estão acontecendo. Não é você que está fazendo. Se você é crítico,se está julgando – isso é o que está acontecendo. Se você está desconfortável – Isso está acontecendo.
Se você sentir que é desconfortável aceitar isso e sentir uma natural rejeição crescendo, aceite essa rejeição também. Mas, no final de tudo, a aceitação tem que estar presente.
Por um mês, simplesmente viva sem objetivos, sem qualquer esforço para melhorar. Você não vai se tornar um santo. Eu não estou aqui para ajudá-lo a se tornar um santo. Eu estou aqui apenas para ajudá-lo a viver a vida que já está disponível para você.
Não existe outra vida. Todas as outras vidas estão na mente.
Você não está confuso por causa de sua vida. Você está confuso por causa de suas idéias. Primeiro você julga e depois julga o julgamento. Primeiro você julga e depois julga que não é certo julgar, que não se deve julgar. Aí você se vê diante de um problema. Ao invés de um, agora você fez dois julgamentos. E eu lhe disse uma coisa e você pode fazer um terceiro julgamento. E isso vai até o infinito.
Assim, qualquer que seja o caso... por um mês simplesmente viva da maneira como você está vivendo... E alegremente curta isso.
A pessoa está tentando sair do chão, puxando o cadarço de seu próprio sapato. Isso não funciona.
Dois mais dois são quatro. Se você tentar fazer com que seja cinco, não vai funcionar. Isso só funciona de uma única maneira que é: dois mais dois são quatro. Esta é a única maneira que a sua vida funciona: com julgamentos, com sexualidade, com sonhos, com pensamentos, com medos. Essa é a maneira como a sua vida está funcionando – simplesmente relaxe nisso. Pare de lutar contra isso, pare de querer melhorar sua vida – ao invés disso, comece a vivê-la. Simplesmente relaxe e deixe que a vida caminhe. Deixe que a vida se mova do jeito que ela se move. E você simplesmente vá com ela. “ (Osho)
Lembrei-me de uma situação que vivi há cerca de 25 anos, quando fui com uns amigos passar um final de semana numa chácara. Na programação havia banho na cachoeira, meditações, preparo das refeições, entre outras coisas.
De repente me vi com uma garotinha de 2 anos, filha de uma amiga, que me chamou para brincar. Na época, eu levava uma vida tão robotizada que aquele convite da garotinha me deu um nó na cabeça. E fiquei muito assustado com o fato de não saber brincar espontaneamente.
Essa questão da espontaneidade sempre foi um nó em minha cabeça. Talvez por isso eu tenha gostado tanto desse texto que recebi. E não resisti à vontade de traduzi-lo para publicar neste meu blog.
A tradução que segue foi feita a partir da fonte original do texto do Osho que é o Cap. 15 do livro The Great Nothing, um diário de darshan.
“Se o ser espontâneo for tomado como uma disciplina, você estará criando problemas para si mesmo.
Tudo o que está acontecendo é espontâneo, e você está tentando ser espontâneo. Se você for bem sucedido, isso não será espontâneo.
Tente entender o ponto: o sexo está na sua mente, e também o contínuo julgamento e a culpa, assim como uma mente crítica, sempre pensando sobre o que os outros irão dizer, sempre tentando melhorar – essa é a sua espontaneidade.
Agora você está tentando ser espontâneo – isso significa que deve parar com todas essas coisas. Ora, que tipo de espontaneidade você está tentando ter? Será espontâneo, quando você forçar todas essas coisas a pararem? Isso será uma coisa não-espontânea.
Espontaneidade é aquilo que é. Qualquer que seja o caso, aquilo é a espontaneidade. Ser espontâneo significa não desejar qualquer outra coisa que já não esteja ali.
Se a sua mente julga, e daí?
Se você se sente desconfortável com isso, então fique desconfortável. Se você puder aceitar o estar desconfortável e tudo mais que estiver acontecendo, você será espontâneo.
Espontaneidade não é um objetivo – é uma compreensão. Não é algo que tenha que ser praticado. Tudo que tem que ser praticado torna você mais e mais mecânico, um robô. Espontaneidade é aquilo que já está acontecendo sem que você faça qualquer coisa a respeito.
Seja verdadeiramente espontâneo.
Qualquer que seja o caso, ele é desse jeito. Se você está julgando, tudo bem, você está julgando. Se você tem fantasias sexuais, isso também está OK. E se você se sente desconfortável com isso, tudo bem. Simplesmente tente compreender.
Tentar ser um outro alguém, tentar se tornar melhor, tentar melhorar as coisas, essa é toda a abordagem estúpida que tem corrompido a humanidade ao longo dos séculos, ao longo das eras. Todas as religiões foram corrompidas por causa desse constante desejo de que a pessoa tem que melhorar, tem que se tornar isso ou aquilo.
Todos os objetivos criam tensão e angústia. Viva sem objetivos e, então, você será espontâneo. E observe: eu não estou lhe dizendo para tentar viver sem objetivos, senão isso se tornará um objetivo e de novo você estará num dilema. Eu não estou lhe dizendo para fazer coisa alguma. Eu estou simplesmente dizendo que qualquer que seja o caso, ele é desse jeito.
Se você disser que isso parece ser impossível, então você já transformou isso num objetivo. Quando diz que isso é impossível, você está dizendo, ‘Eu entendo tudo o que você está dizendo, mas eu não consigo fazer. É muito difícil.’
Mas eu não estou lhe dizendo para fazer coisa alguma. As coisas já estão acontecendo. Não é você que está fazendo. Se você é crítico,se está julgando – isso é o que está acontecendo. Se você está desconfortável – Isso está acontecendo.
Se você sentir que é desconfortável aceitar isso e sentir uma natural rejeição crescendo, aceite essa rejeição também. Mas, no final de tudo, a aceitação tem que estar presente.
Por um mês, simplesmente viva sem objetivos, sem qualquer esforço para melhorar. Você não vai se tornar um santo. Eu não estou aqui para ajudá-lo a se tornar um santo. Eu estou aqui apenas para ajudá-lo a viver a vida que já está disponível para você.
Não existe outra vida. Todas as outras vidas estão na mente.
Você não está confuso por causa de sua vida. Você está confuso por causa de suas idéias. Primeiro você julga e depois julga o julgamento. Primeiro você julga e depois julga que não é certo julgar, que não se deve julgar. Aí você se vê diante de um problema. Ao invés de um, agora você fez dois julgamentos. E eu lhe disse uma coisa e você pode fazer um terceiro julgamento. E isso vai até o infinito.
Assim, qualquer que seja o caso... por um mês simplesmente viva da maneira como você está vivendo... E alegremente curta isso.
A pessoa está tentando sair do chão, puxando o cadarço de seu próprio sapato. Isso não funciona.
Dois mais dois são quatro. Se você tentar fazer com que seja cinco, não vai funcionar. Isso só funciona de uma única maneira que é: dois mais dois são quatro. Esta é a única maneira que a sua vida funciona: com julgamentos, com sexualidade, com sonhos, com pensamentos, com medos. Essa é a maneira como a sua vida está funcionando – simplesmente relaxe nisso. Pare de lutar contra isso, pare de querer melhorar sua vida – ao invés disso, comece a vivê-la. Simplesmente relaxe e deixe que a vida caminhe. Deixe que a vida se mova do jeito que ela se move. E você simplesmente vá com ela. “ (Osho)
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Ser ou não-ser

Talvez uma das coisas mais importantes que aprendi com Osho foi a compreensão de que nossa mente é ardilosa e que nunca quer perder o controle.
Para isso ela sempre dá um jeitinho. Ora a vemos apresentando justificativas, ora levantando bandeiras, ou abraçando “causas nobres”, manifestando suas opiniões, ou não abrindo mão de certos princípios e convicções.
E nós ficamos “em cima do muro” lendo os textos esclarecedores do Osho e dizendo para nós mesmos: “Ah! É isso mesmo! Como essa mente é esperta!”
Para isso ela sempre dá um jeitinho. Ora a vemos apresentando justificativas, ora levantando bandeiras, ou abraçando “causas nobres”, manifestando suas opiniões, ou não abrindo mão de certos princípios e convicções.
E nós ficamos “em cima do muro” lendo os textos esclarecedores do Osho e dizendo para nós mesmos: “Ah! É isso mesmo! Como essa mente é esperta!”
Tendemos a nos separar da mente ou do ego. E nos esquecemos de que, no estágio em que estamos, de não-iluminados, não sabemos ao certo quem somos. Assim, melhor do que dizer que nossa mente é ardilosa ou que o “meu ego” é isso ou aquilo, eu deveria dizer que eu sou ardiloso, que eu fico me justificando diante de cada ato e situação, que vivo levantando bandeiras, que estou sempre abraçando “causas nobres” e frequentemente manifesto minhas opiniões, não abrindo mão de certos princípios e convicções.
Mas faz parte da “minha” esperteza, fazer essa distinção e atribuir todas essas atitudes à minha mente, ao meu ego, como se eu já estivesse descolado dessa mente e desse ego.
A verdade é que chegamos a um ponto em que começamos a andar numa corda bamba. Há momentos em que respondemos à vida a partir de nossa consciência pura, e há momentos em que nos perdemos e sutilmente reagimos a partir de nossa mente consciente.
Ao reagir a partir da mente consciente, eu me iludo de que estou descolado dessa mente e do ego, e me assumo como sendo alguém especial, poso de místico e esotérico, faço belos discursos, me coloco à frente de movimentos e entidades. Internamente e paralelamente, permaneço com minha mente catalogando as habilidades espirituais e as percepções sutis que consegui desenvolver ao longo do “meu caminho”, me iludindo de que é o meu “observador interno” que está catalogando, sem querer admitir uma oculta pitada de satisfação ao achar que já alcancei algum patamar mais elevado.
E quando todo esse jogo começa a se revelar, não há mais como mantê-lo de pé. É como Osho diz: ao se acender a luz, a escuridão se vai. Não há como mantê-la quando a luz se faz presente. Num piscar de olhos, todo o castelo se desmorona.
Mas, ainda assim, existe um “pulo do gato” ao qual recorrer. Posso renunciar a tudo, fazer declarações e me recolher ao silêncio e ao anonimato. Assim, esse alguém especial (que sou eu) pode caminhar a esmo pela multidão, pode ser um ninguém. Mas internamente aquela voz ainda continua soprando ao ouvido: “Muito bem! Veja como você é um ninguém no meio da multidão – um ninguém muito especial, cheio de percepções e sensibilidades...”
Ser simples e comum é uma tarefa árdua. Principalmente porque não é um “tornar-se”. É simplesmente começar a observar em mim tudo aquilo que cheira a “especial”. É me despojar de uma série de atributos e valores que fui agregando a mim mesmo. É a árdua tarefa de me desnudar e voltar a ser aquilo que sempre fui, mas não me dou conta mais do que é.
Não se trata de negar todas as conquistas obtidas, todas as compreensões alcançadas, todos os atributos e valores agregados. Ao contrário, é preciso reconhecer o ganho significativo de cada passo que foi dado. Foi através desses passos que cheguei até aqui. Mas agora é hora de reconhecer também este novo passo, este momento novo em que já podemos parar, sentar e abrir esse imenso saco que temos carregado nas costas, no qual fomos acumulando cada experiência, cada sacação, alegrias e dores, amores e desamores.
É chegado o momento em que podemos nos sentar e contemplar toda essa riqueza guardada. Cada experiência, cada sacação, cada emoção, é como se fosse uma pedra preciosa guardada nesse saco imenso que carregamos ao longo da vida. Cada uma marcou um momento especial de maior abertura, de salto qualitativo, de expansão da compreensão e do amor.
E agora, contemplando cada uma dessas pedras preciosas, podemos perceber o quanto ficamos apegados a cada uma delas. Este é o momento de dizer muito obrigado a cada uma dessas pedras e, pouco a pouco, começar a esvaziar o saco. É hora de reaprender a caminhar com nossos próprios pés, de balbuciar as primeiras palavras com nossa própria voz, de descobrir de fato o aroma, o paladar, os sons e as cores da vida. É hora de começar realmente e humildemente a viver a vida como um mistério. Como sempre Osho nos tem dito. Com mais leveza, com mais dança, com mais poesia e com mais silêncio.
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