O Papa Francisco veio resgatar o que de mais puro, mais
santo e mais humano está contido na mensagem de Jesus. Esse papado de Francisco
é um tremendo chacoalhão nessa cristandade adormecida há anos, há centenas de
anos. É uma sacudida nas estruturas dessa Igreja construída em cima de
mentiras, de guerras e politicagens desde a Idade Média. E esse santo Papa
Francisco surge neste momento em que essa “velha” igreja, essa secular
“cristandade” assiste a esse paradoxo de perder popularidade para o crescente fundamentalismo
evangélico que, por ironia, faz uso das mesmas estratégias de ilusão,
exploração e manipulação que ela própria um dia usou para dominar. A questão é
que a “velha” igreja reinou em tempos de ignorância quase coletiva e hoje
vivemos o tempo da comunicação, em que o conhecimento está cada vez mais sendo
disseminado. Dominar e manipular hoje as camadas que ainda permanecem
ignorantes se faz através de ações imorais, de “fakenews”, de jogadas espúrias
onde a arrecadação milionária de dízimos cria verdadeiros impérios. Neste
início de século XXI, a Igreja encontrou-se diante de uma encruzilhada. Por um
lado, poderia seguir sua antiga trajetória, mantendo suas estruturas rígidas,
sua secular cumplicidade com os poderosos, sua antiquada e superada fixação em
impor a si mesma e a seus fiéis padrões de conduta e interpretações não mais
condizentes com esse mundo atual que questionou tudo e colocou tudo de pernas
pro ar, debochando e desprezando valores antes considerados sagrados. Tal qual
vai acontecer com esse fundamentalismo evangélico que se espalha nas camadas
menos instruídas das populações, também a Igreja não foi capaz de, nesses dois
mil anos, de despertar a consciência humana, em sua dimensão planetária, no
sentido de tornar esse mundo mais amoroso, mais pacífico, mais inclusivo, em
sintonia com a verdadeira mensagem de Jesus. A outra opção da Igreja está
acontecendo pelas mãos desse santo Papa Francisco. A cada dia, a cada seu novo
pronunciamento, uma luz de esperança surge de que a mensagem de Jesus possa ser
ouvida nos quatro cantos da terra, a verdadeira mensagem que não se atrela à
moralidade e aos costumes de uma época. O amor está além de qualquer variação
história, seja ela econômica, política ou moral. O amor anunciado por Jesus é
tão atual na velha Jerusalém, como nas periferias das grandes cidades de hoje.
A carência desse amor nas práticas humanas é tão atual no antigo império
romanos como nas modernas formas de imperialismos. E para a alegria de nossa
alma, para o bem da humanidade, o Papa Francisco tem sido muito fiel e essa
verdadeira e profunda mensagem de Jesus. A cada dia ele nos surpreende com uma
nova atitude, um novo pronunciamento que parece estar desempacotando, trazendo
de novo à luz, o verdadeiro sentido da fé e do amor de que nos falou Jesus, e que
por muito tempo esteve atrelado a interpretações e manipulações.
Mas esse mundo dos homens sempre foi dominado pelos que ambicionam
poder, dinheiro e prestígio, esteve
sempre sob a tutela da aliança entre esses poderosos e a religião. Assim foi
desde as civilizações do antigo Egito e Mesopotâmia até os dias de hoje. Os
líderes religiosos sempre estiveram ao lado dos reis, imperadores, presidentes
e ditadores ao longo da história humana. Contestar a concentração de renda e de
poder sempre foi tido como conspiração subversiva. A própria história de Jesus
e sua condenação pelos poderosos da época é uma prova disso. E, na época, o
povo dominado e manipulado pela aliança entre o poder político e os ditos
religiosos da época, ajudou a condenar Jesus, devido à sua ignorância, à sua
inconsciência. Esse é risco que corre o Papa Francisco, em sua corajosa ousadia
de querer defender e difundir a mensagem de Jesus nesse mundo onde a ignorância
e a inconsciência das populações também são dominados pelos poderosos em suas
parcerias com aqueles que se autoproclamam líderes cristãos, aqueles que fazem
uso de textos bíblicos para justificar suas viagens pessoais de ambição pelo
poder e pela riqueza. E, infelizmente, sabemos que o Papa Francisco sofre
acirrada oposição dentro da própria Igreja por aqueles que estavam acostumados
à velha parceria com o “stablishment”. Por outro lado, o Papa Francisco está
trazendo de volta à comunidade cristã, muitos que estavam desiludidos, mas que
hoje conseguem ver nele uma luz, um fio de esperança nesse mundo de violência,
de desrespeito humano, de preconceitos de todo tipo, de consumismo desenfreado,
de falta de amor. Na proximidade dessa data em que se convencionou ser a do
nascimento de Jesus, vem um desejo de que o Papa Francisco tenha uma vida longa
e que continue trazendo sua luz a muitas trevas que ainda se fazem presentes
nesta terra dos homens.