terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O Caminho com Osho - II

Perguntaram-me: como é possível ter Osho como referência, se ele próprio nos diz que não quer seguidores?

De fato não é tão simples entender os toques do Osho.
Para mim, o seu grande toque, talvez o maior de todos, é o de que nós temos que encontrar nosso próprio mestre interior. E o caminho para esse encontro é a meditação.
Mas como meditação é estado de não-mente, fica muito difícil falar sobre isso, utilizando palavras.
É essa exatamente uma das grandes contribuições do Osho: ter conseguido expressar em palavras muitas coisas que a gente não consegue dizer.
Por isso ele muitas vezes parece contraditório e até incoerente. E de fato é, pois ele nos fala sobre temas que não estão sob o domínio da lógica.
Por isso surgem os mal-entendidos a respeito da mensagem do Osho. Ele arriscou falar sobre o que não se fala.

Se a minha busca é pelo meu mestre interior, então a minha busca não é por Buda, nem por Cristo nem por Osho.
Então, eu não tenho que seguir Buda, nem Cristo nem Osho. Eu tenho que seguir o meu mestre interior, o centro de sabedoria que reside dentro do meu ser.
Todos nós guardamos no nosso centro mais profundo, essa grande preciosidade, esse mestre interior que é a fonte de nosso discernimento, de nossa sabedoria, de nosso amor em sua forma pura, de nossa compreensão...

Mas a sociedade nos treinou desde cedo para sufocarmos essa fonte interna de sabedoria e verdade, para nos moldarmos aos seus padrões, incluindo a moralidade, as crenças religiosas, as ideologias políticas, e uma série de conceitos e condutas que nos propiciam respeitabilidade e prestígio aos olhos dos outros.
É nesse estado que nos encontramos. Andamos pelas ruas, repletos de pensamentos, dúvidas, convicções, sonhos e ilusões, conceitos de certo e errado, opiniões, preocupações, racionalizações, e também carregamos raivas, medos, ressentimentos, invejas, frustrações, que fomos acumulando ao longo da vida.

Como dar o salto? Como nos livrarmos desse estado ao qual fomos condicionados e alcançarmos uma sintonia com o estado de serenidade, relaxamento e discernimento que repousa escondido dentro de nós? É uma tarefa difícil, sobretudo porque este salto tem que ser dado por nossa própria conta e risco e a sintonia com nosso centro mais profundo só acontece de maneira relaxada, espontânea e natural. O desafio é grande, a responsabilidade é totalmente individual, mas cada passo nessa busca já é uma conquista. Cada nó que eu desato já amplia significativamente a minha capacidade de respirar mais livremente. Isso é um grande estímulo.

Mas essa não é uma questão que aflige a grande maioria da população. Essa é uma questão que diz respeito a um pequeno grupo: somente àquelas pessoas que em algum momento da vida começaram a se questionar sobre o sentido dessa própria vida, do cosmos, da eternidade. E para alguns poucos, esses questionamentos se tornaram o foco principal, o sentido da vida. Entendo que este é o caso de todos nós que chegamos até a mensagem do Osho. Não foi à toa que seus livros nos tocaram e sensibilizaram. Para nós, essa questão do salto é relevante.

Seria muito mais fácil para nós, buscadores, se houvesse um roteiro a ser seguido, um manual com dicas e atalhos. Mas não é assim que se chega a algum lugar, não é assim que se dá o salto quântico. Por isso, Osho não criou um sistema de crenças e rituais que acabariam se tornando substitutos àqueles que nos foram impostos pela sociedade e suas instituições. Por isso, ele não deixou sucessores, não organizou uma religião, não deixou Dez Mandamentos. Ele simplesmente nos convidou, nos estimulou, nos seduziu, para que encontrássemos nossa própria religiosidade, para que respeitássemos nosso corpo como o único templo, e resgatássemos o contato com o nosso centro interior, que é a nossa fagulha divina.

Osho, tendo alcançado a compreensão maior que é o estado de iluminação, simplesmente compartilha conosco sua visão, sua abordagem da vida, de maneira que possamos, através dele, perceber que aquele estado búdico que ele realizou é possível para cada um de nós.

Para nós buscadores, no estado em que nos encontramos, Osho representa um presente da existência. As suas palestras, os seus toque, transcritos em livros são preciosidades para nós. No estado em que nos encontramos, ainda precisamos ouvir as suas chamadas para abrirmos os olhos, para abrirmos nossas percepções e nossa compreensão, para mergulharmos nas práticas de meditação. Mas ele faz questão de estar sempre insistindo no fato de que cabe a cada um de nós aguçar o nosso observador interno e que só assim conseguiremos acessar nossa fonte interna de lucidez e discernimento, e também conhecer a abertura e receptividade mais sutil que nos permitirá saborear o verdadeiro perfume das flores, o esplendor mais profundo de um céu estrelado numa real dissolução harmônica com o cosmos.

Por isso Osho não é um guru, ele não quer nos conduzir, ele não nos apresenta nenhum mapa, nenhum roteiro, nenhum atalho para chegarmos a algum lugar. Como ele mesmo diz, ele é apenas um convite, ele é um desafio, ele é um empurrão para nos encorajar a darmos o nosso salto, por nossa própria iniciativa e responsabilidade. Eu mesmo estava em Puna e o ouvi dizer: “eu estou empurrando vocês pela janela. Se vocês abrirem as asas e voarem pelo céu, o mérito é de vocês. Se vocês caírem e se afundarem na lama, o problema é de vocês. Eu estou apenas lhes dando um empurrão e dizendo que existe o céu no alto e a lama em baixo.” O desafio é individual. A responsabilidade é pessoal.

sábado, 6 de dezembro de 2008

A vida começa aos 60



É claro que, nesta presente encarnação, a vida começa a ser contada a partir de nosso nascimento. A gente nem se lembra mais, mas deve ter sido grande o impacto que tivemos quando captamos as primeiras impressões do mundo externo, as sensações táteis, os sons, as cores... Pôxa! Deve ter sido algo realmente fantástico, embora na época não tivéssemos ainda desenvolvido certos sensores , ou pelo menos eles ainda não estavam articulados sob o comando de uma central que processasse tudo conscientemente. E, mesmo depois, enquanto os primeiros anos avançavam, quantas descobertas fomos acumulando... Os primeiros passos, as primeiras palavras, as primeiras frases, os primeiros quebra-cabeças, as primeiras descobertas...

Quando eu estava próximo de completar vinte anos de idade, também tive uma sensação muito forte de que, agora sim, a vida estava começando para mim. Eu me lancei cedo numa carreira profissional e logo senti o gostinho de ter meu próprio dinheiro, de poder ter um fusquinha azul claro, de comprar todos os discos que sonhei ter, todos os João Gilberto, todas as Nara Leão, os Tamba Trio e todas as Elis. E também aqueles Duke Ellington, os Dizzy Gillespie e as Billy Holiday. E os livros? Sartre, Marx, Herman Hesse, Vinicius, Drumond... Sob certo sentido eu me sentia dono do mundo, pelo menos do “meu” mundo que eu estava construindo. Já podia pensar em constituir uma nova família, construir um patrimônio... Eu sentia que estava tomando as rédeas de meu destino e escrevendo a minha história. Quanta ousadia, quantos riscos, quantos medos...

Passados, porém, mais vinte anos, eu enfrentava novamente um período de grandes mudanças. Agora, eu olhava para trás e tinha uma visão de toda a vida que eu havia construído; podia ver e sentir o preço que tinha pago, tostão por tostão, por toda aquela estrutura montada. E começava a desconfiar - chegava mesmo a perceber - que a vida poderia ter tido um significado mais profundo, uma intensidade maior, um colorido mais vivo. Eu estava com quarenta anos e consegui chegar a uma compreensão de que eu tinha o direito e o poder de proclamar a minha liberdade. Vivi então o tempo da demolição, o tempo de desmontar, se não tudo, pelo menos muita coisa. Tempo de descobrir a quantidade de fardo que carregava desnecessariamente e jogar fora sem pensar duas vezes. Tempo de novas viagens para fora e para dentro. Tempo de experimentar os primeiros passos no desconhecido mundo do autoconhecimento. Quantas descobertas, quantos saltos, quantos novos experimentos em todos os níveis... Era o tempo de reaprender a andar, reaprender a sentir, a brincar, a dançar e a cantar. Começava a construir uma nova vida, com um entendimento mais abrangente e mais profundo, acreditando em novos sonhos e ideais de uma possível vida de paz e harmonia com o cosmos.

Mas eis que agora eu paro e me deparo diante de um espelho e descubro que os anos continuaram passando e eu cheguei aos sessenta. E quando eu digo que paro e me deparo diante do espelho, eu quero dizer muitas outras coisas além da simples constatação quantitativa do tempo passado. Há também a constatação qualitativa, há a intensidade, a diversidade e a profundidade. E mais que tudo isso, há uma compreensão que sinto chegar naturalmente, sem qualquer esforço de minha parte. E quando paro, eu me deparo diante de todos os sonhos, de todos os ideais e de todos os projetos, os realizados e os abortados, desde a infância, durante a mocidade e naqueles tempos ditos mais maduros. Por vezes, eu paro e apenas paro. Outras vezes eu paro internamente e continuo andando, mas o andar já se torna um passear, uma contemplação ambulante das ruas, das pessoas, dos carros, dos jardins, dos pássaros, das cores e dos sons. No movimento dos outros eu vejo todos os movimentos que eu mesmo fiz, na luta contra obstáculos, na proclamação dos ideais, na busca da realização dos sonhos. Quando me deparo diante do espelho que é o meu próximo mais próximo, eu vejo tudo em mim, numa dimensão passada. E paro. E por vezes, apenas paro. Descubro pela primeira vez vivencialmente a diferença entre nadar e flutuar com a vida. Intelectualmente eu já sabia disso e de tudo o mais. Mas agora, quando paro, eu consigo perceber que só tenho disposição para flutuar, que já não tenho vontade de nadar, que o nadar já não faz mais sentido. E quando eu permaneço no flutuar, vejo que nada faço, que permaneço parado e as coisas acontecem naturalmente. Talvez “parado” não seja a palavra certa. E não é. É mais um “relaxado”, sem expectativas, ou poucas. Um deixar as coisas acontecerem por si mesmas e observar.
Não parei de nadar ainda. Nado, e muitas vezes só pela curtição do nadar, sem mesmo olhar para onde. Mas, sobretudo, os sessenta anos têm me trazido muito mais facilidade para ver e entender que nadando eu não chego a lugar algum. E também que, se eu me permito flutuar, a vida me leva para onde eu devo ir, para onde faz sentido eu estar.
O fazer não se esgotou, mas agora já começa a querer assumir feições de uma brincadeira, de um relaxamento, de uma curtição, como se ele estivesse procurando descobrir o prazer de cada movimento e com um cuidado de escolher o passo que está mais em harmonia com o todo – interno e externo. Sim, parece mesmo que a vida está começando agora, aos sessenta. Pelo menos para mim.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Quando Osho nos fala sobre o amor

Quando Osho nos fala sobre o amor, tudo parece tão óbvio...
A gente fica com a sensação de que já sabe ou sabia tudo aquilo. E mais, ficamos achando que conhecemos aquele amor de que ele fala e que compreendemos perfeitamente que numa relação amorosa estamos sempre lidando com as diferenças. Conseguimos perceber o quanto a nossa parceira (ou parceiro) é diferente de nós e ficamos admirando as suas facetas interessantes, os seus coloridos distintos, e com muita tranqüilidade achamos que sabemos lidar muito bem com toda essa diversidade.
Sobretudo no início dos relacionamentos, que Osho chama de “primeira fase”, cada diferença identificada é objeto de um encantamento. E não apenas os detalhes “geográficos” que definem a dimensão física, incluindo o charme da cor dos olhos, o narizinho delicado, o jeito como os cabelos caem na testa, mas avançam, incluindo também o cheiro, a suavidade da pele, o olhar instigante, a maneira desleixada de andar.
Depois vem o encantamento com formas de pensar do outro, com a sua “bagagem cultural”, o seu senso estético, a maneira como reage diante de imprevistos, diante do que é repulsivo e diante de um sorriso de criança. E ela ainda tem um jeitinho muito especial de se mostrar enamorada, com as suas declarações de amor, o sabor de seus lábios, o aconchego de seu abraço... E aquela sensação indescritível de duas almas se dissolvendo em uma.
Definitivamente nos declaramos apaixonados. Desta vez não temos dúvidas: este é o amor de nossa vida. Desta vez a vida colocou em nosso caminho aquele alguém que estava marcado para ser o nosso grande e único amor.
Nessa hora dizemos que “entendemos” tudo o que Osho fala sobre o encontro de duas pessoas que se amam.

Mas, é exatamente nesse ponto que o rio começa a tomar um rumo diferente. As águas que até então seguiam tranqüilas, cortando vales floridos, de repente se deparam com cenários diferentes. Às vezes o rio encontra um deserto que absorve suas águas e ali mesmo ele desaparece. Outras vezes ele encontra um leito cheio de acidentes e suas águas se transformam em correntezas violentas. E, algumas vezes ele simplesmente encontra o mar e suas águas se dissolvem no oceano.

Em outras palavras queremos dizer que todo o romantismo inicial pode se desdobrar em, pelo menos, três possibilidades,

Na primeira possibilidade, toda a magia do nosso encontro e todo o encantamento que ele trouxe, também de maneira mágica, se transmuda em algo surpreendente, em algo que não conseguimos compreender.
Até então, vínhamos caminhando alegres pela rua, brincando e cantando, quando de repente, numa esquina igual a tantas outras, sem qualquer razão, olhamos para aquela mesma parceira (ou aquele parceiro) e, inexplicavelmente, a mesma tela colorida passa a assumir um preto e branco sem cheiro, sem sabor, sem vida. O encantamento se desfaz, ali, naquela esquina, sem qualquer motivo, sem qualquer explicação. Muitos relacionamentos “morrem” nesse exato momento.

Uma outra possibilidade é dos parceiros serem tomados por um estranho sentimento de que o relacionamento é algo que já está acertado e permanente. A partir de um certo momento, o romantismo inicial começa a ser substituído por uma sucessão de cobranças, cada vez mais intensas, cada vez mais carregadas de intolerância, de impaciência. O clima inicial de entendimento progressivamente é substituído por brigas e desencontros. Cada qual continua jurando amor pelo outro, continua afirmando que entende as diferenças do outro, mas, “em nome do amor” insiste em querer mudar no outro aquilo que é diferente de si. Parece que para aquele parceiro, aquele traço do outro, diferente do seu próprio traço, é algo errado, algo que não funciona, algo que precisa ser superado, Chega-se a dizer muitas vezes que é para “o próprio bem” do parceiro. Essa insistência de ambos os parceiros em cobranças e acusações se torna uma guerra permanente. Muitos relacionamentos duram anos nesse inferno.

Uma terceira possibilidade tem a ver com a maturidade de ambos os parceiros.
Ela acontece quando cada qual realmente compreende que o outro é um ser diferente e único, com maneiras distintas de ver o mundo, de se comportar, de reagir diante das circunstâncias. Cada um tem suas manias, seus gostos e preferências, seus vícios e suas virtudes e tudo isso faz parte do arco-iris que é cada pessoa. Quando há uma real aceitação de que o outro é único e diferente e quando há receptividade e abertura de ambas as partes, essa compreensão geralmente é utilizada por cada um para ver a si mesmo, se conhecer mais e se superar. O casal não apenas “grow old” (envelhecem) juntos, mas “grow up” (crescem) juntos. E isso ocorre não por pressão, insistência ou cobrança do outro, mas como conseqüência do amor.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Um dia com Osho

Neste último final de semana aconteceu o meu primeiro workshop - Um dia Com Osho. Como eu não tenho uma lista de e-mails de Juiz de Fora, a divulgação foi muito pequena. Mas, foi muito legal. Fiquei muito feliz com o trabalho. Um grupo pequeno, mas foi um excelente teste. Não apareceram nem aqueles que "sabem tudo" sobre Osho e seu trabalho, nem aqueles que nada têm a ver com o assunto. Os que vieram foram aqueles que já leram Osho e têm curiosidade em saber mais a seu respeito, ou aqueles que já ouviram referências (sobretudo na mídia) contra Osho, mas andam meio confusos porque têm lido coisas legais dele. Então vieram para conferir. E é exatamente esse o público para o qual foi montado esse evento de 1 dia. Com certeza esse workshop será repetido, mas da próxima vez, com uma divulgação mais ampla, tentando, inclusive, espaço em jornal e em TV.


O que achei muito bom foi o fato do workshop ser declaramente a respeito do Osho e seu trabalho. E o resultado ter sido fantástico. Na prática, não foi um evento para fazer propaganda do Osho, não foi para converter ninguém, nem foi para dizer que Osho é o "cara". Foi um trabalho onde eu pude dizer que Osho ofereceu algumas ferramentas muito boas para o nosso processo individual de auto-conhecimento, de dissolução de cargas que desnecessariamente carregamos, e de abertura e estimulo para realizarmos a nossa potencialidade. E que o workshop era para que conhecessemos um pouco essas ferramentas e como Osho fazia para nos apresentá-las.


Assim, em um dia tivemos Dinâmica, Nataraj e Kundalini. Entre os intervalos utilizados para um compartilhar descontraído e esclarecedor, tivemos, pela manhã, uma sessão de vídeo com Osho falando que a sua mensagem não era para o intelecto, que ele não era nem matemático nem filósofo. A sua mensagem é uma comunhão de coração a coração. Logo após o almoço, tivemos um pequeno módulo com fita cassete apresentando uma mensagem do Osho a respeito do Amor. Muito profunda e que tocou o coração de todos. Depois tivemos a meditação No-Mind que foi feita com o uso de um DVD, e não CD ou fita k7, como usalmente se faz. O DVD continha uma resposta do Osho a uma pergunta sobre a testemunha e o observador dentro da meditação e em seguida o gibberish e a meditação conduzida pelo Osho. As pessoas fizeram com os olhos fechados, mas sabendo que ali na frente estava a.TV com a imagem do Osho e de 10 mil buscadores fazendo exatamente o mesmo que eles. Foi muito legal.


Após o lanche do final da tarde, apresentei trechos de um vídeo com Osho conduzindo um Robe Branco no final de setembro de 1989 (quando eu mesmo estava presente no Buddha Hall).
E fechamos o trabalho com um feed-back final muito sincero de cada um. Para mim foi muito enriquecedor. E senti que também o foi para todos os presentes.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Caminhada matinal

Saí de casa para uma caminhada matinal. Senti no ar que o tempo estava se abrindo, as nuvens estavam se afastando e criando espaços para os raios de sol se espalharem. Enchi o peito e peguei um pique. De repente, senti umas pequenas gotas. De chuva? De algum ar condicionado de um prédio? Atravessei a rua e de novo alguns pingos. E agora não tinha prédio algum por perto. Olhei para o céu e vi uma nuvem escura querendo se expandir. Hesitei por um momento. Seguir em frente? Arriscar uma possível chuva? Nenhuma resposta me chegou, a não ser a lembrança do “Não-Pensamento do Dia”, do Osho, que o Viraj me enviou semana passada: “Nada é bom, nada é ruim. Quando isso desponta em sua consciência, subitamente você está unido, todos os fragmentos desapareceram numa unidade. Você está cristalizado, você está centrado. Esta é uma das maiores contribuições da consciência Oriental para o mundo."

De repente, me veio a imagem de tantas vezes em que eu fui pego de surpreso por uma chuva de verão. Eu tentava escapar correndo, mas não havia marquises por perto e a chuva me encharcava pouco a pouco. Ao sentir as roupas ensopadas e a chuva forte escorrendo pelo meu corpo, da cabeça aos pés, eu finalmente me rendia e começava a caminhar vagarosamente, curtindo aquele indescritível banho de chuva. Que sensação fantástica! Inesquecível! Então, eu pensei: este é o pior cenário possível que pode me aguardar, caso o tempo realmente vire, o sol se recolha, as nuvens escuras tomem conta do céu e uma forte chuva se instale.

Duas opções se abriam, então, diante de mim: uma linda manhã de sol ou uma linda manhã de chuva. Relaxei e segui em frente para mais uma caminhada/aventura, para mais uma exposição às mil possíveis experiências a serem vividas a cada passo: as flores, as árvores, o rio, o casal de idosos, as crianças indo para a escola, um gato me espreitando no portão, o forró tocando na cabine do caminhão, as montanhas ao longe, o chão que acolhia meus passos, o meu corpo deslizando e escorregando no meio da brisa matinal, a respiração...

domingo, 2 de novembro de 2008

Relações afetivas

Conversando com uma amiga que trabalha com tarô, ela me disse que noventa por cento das questões que as pessoas levantam nas suas sessões é a respeito de relacionamentos afetivos. Uma questão que, de fato, mexe todo mundo. Alguns, desde os 10 anos de idade e outros, até os 100, se vivemos até lá. E o incrível é que passamos uma vida inteira ocupada com questionamentos sobre esse tema e, na maior parte das vezes, sem chegarmos a uma compreensão maior, nem mesmo para os itens mais simples e banais.

Problemas como ciúme, posse, atração e rejeição, fidelidade, frigidez e fissura por sexo, ou problemas de incompatibilidade de gênios, de gostos, de buscas e anseios, estão sempre presentes nos consultórios de psicoterapeutas, nas conversas com os amigos mais íntimos ou nos pensamentos que ocupam nossas noites sem sono. E, infelizmente, por trás desses problemas existem muito mais desencontros que encontros, muito mais incompreensões que compreensões.

A propósito desse tema, ouvi o seguinte comentário de um outro amigo: “parece ser preciso experienciarmos relacionamentos desarmônicos e frustrantes, para que possamos encontrar e viver um verdadeiro amor.” Mesmo sem entrarmos nessa questão do amor verdadeiro, pois ela implica um outro campo de entendimento, o que o nosso amigo basicamente quis dizer é que a gente precisa viver várias relações para esgotarmos desejos, sonhos; para compreendermos que nossas frustrações se originam de nossas próprias expectativas, e que muitas delas são construídas em cima de ilusões e fantasias. Sair do sonho e cair na realidade seria o primeiro passo para a maturidade, embora muitas vezes seja um processo dolorido.

Se seguirmos essa abordagem da questão, teríamos que acrescentar - além desse primeiro passo de dissolução de ilusões e expectativas nos relacionamentos -, mais um passo, que seria o de vivermos a experiência de estarmos só, de descobrirmos a dor, o prazer e os encantos de uma vida solitária; que seria o de aprendermos a nos apoiar em nós mesmos, de acreditarmos em nossa capacidade de enfrentarmos sozinhos as tempestades e os trovões, assim como de nos deliciar com a brisa da manhã ou com um inesperado pôr-do-sol.

Mas, será mesmo necessário experienciarmos vários relacionamentos? E será necessário termos depois a experiência de uma vida a sós? Entendo que essas não são as perguntas mais relevantes e que elas podem nos desviar do foco da questão.

O foco da questão é a necessidade de dissolvermos a ilusão de que o outro irá suprir a nossa carência afetiva, que se instala em nosso peito qual um buraco negro. Não importa se para isso a pessoa precisa viver um, vários ou nenhum relacionamento.

O foco da questão é que somente quando estamos inteiros, quando nos bastamos a nós mesmos, quando somos capazes de nos amar do jeito que somos, quando podemos estar em paz e de bem com a vida, por nossa própria conta; somente quando deixamos de ser mendigos da atenção, do carinho e da presença do outro; somente quando somos imperadores, e não mendigos, estamos prontos para vivenciarmos um encontro verdadeiro com alguém que também esteja inteiro ou, pelo menos, esteja na busca de sua integridade. E assim, podemos iniciar, de mãos dadas, uma caminhada ascendente. Sim, juntos, mas cada qual com sua individualidade, sua liberdade, sua busca e realização.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Por qué non te callas?

Dentro de poucos dias, completa 1 ano a famosa pergunta feita pelo rei Juan Carlos a Hugo Chavez: ‘Por qué non te callas?’.

A questão não é quem disse nem para quem foi dita. A frase em si é forte e muito oportuna. Volta e meia, a imagem dessa participação do rei na Cúpula Ibero-americana do Chile ressurge em minha memória, sobretudo nesses tempos de campanha eleitoral, de anúncios apocalípticos de visitas de E.T. e de proclamações dos arautos do fim iminente do capitalismo, com o colapso de seu sistema financeiro e de suas bolsas de valores. Fica um ti-ti-ti constante na mente.

A mídia se delicia com os discursos válidos ou inválidos dos hugoschaves ou georgesbushes espalhados pelo planeta, omitindo os jogos de interesses ocultos por trás desses discursos válidos ou inválidos; os eleitores petistas, tucanos e pefelistas se digladiam - uns exaltando hoje a adoção de medidas que ontem rejeitaram e outros rejeitando hoje as medidas que ontem adotaram -, como se o José ou o Mané, pelo simples fato de serem deste ou daquele partido, fossem os melhores ou os piores, fossem mais confiáveis ou menos confiáveis; como se a corrupção e o desmando fossem prerrogativas apenas dos políticos do outro partido, e nunca dos de sua legenda preferida.

A minha Caixa de Entrada está repleta de e-mails enviados por habitantes de outras galáxias, dirigidos aos “amados habitantes do planeta Terra”, anunciando e alertando-nos para o óbvio e para o inimaginável. Ultimamente, chegaram a anunciar a aparição de naves que permaneceriam no céu por vários dias, exatamente para “callar” a voz dos incrédulos. Anúncio este, aliás, desmentido por porta-vozes de outros seres siderais, o que nos leva a crer que uns são mais E.T. e outros nem tanto - numa graduação semelhante à do crescente pelotão de iluminados, que a cada dia aumentam as “mensagens da boa nova” que nos chegam sob forma de Spam. Cada qual também anunciando desde o óbvio até o inimaginável.

O círculo se completa quando, na outra extremidade da corda, vemos os anúncios de catastróficas oscilações do mercado e de falência de bancos, que são vendidos com grande alarde a um público ávido por notícias do tipo “quanto pior melhor”, sem se importar com o esclarecimento de quem, por trás da cortina, se locupleta, alimentando artificialmente, ou efetivamente, o caos e o pânico.
Nessas horas, fecho os olhos, e todas essas vozes se misturam, falando ao mesmo tempo. Evoco, então, a presença do rei com sua fala firme, e me dirijo a cada uma dessas vozes: “Por qué non te callas?”

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Meditação


Nos nossos dicionários, a palavra meditação aparece como sinônimo de concentração, reflexão e oração mental. Na tradição oriental, a palavra meditação tem outro significado e é a ferramenta mais fundamental no processo de auto-conhecimento até o supremo salto transformador da vida humana.

Mas é muito difícil falar o que é meditação. É uma viagem muito pessoal. É simplesmente vivencial. É percepção, não é reflexão, nem raciocínio, conclusão, análise ou interpretação. Por isso é difícil expressar em palavras o que é meditação. É algo que está além da mente. A meditação está no terreno do vazio, do silêncio, do sagrado. Ela não faz parte do mundo das palavras.

Como a nossa mente é muito tagarela, é fácil encontrarmos pessoas que falam sobre meditação, que dão sugestões de como fazê-la, que falam de suas maravilhas ou do que quer que seja. A mente sempre fala muito. Por isso é preciso muito critério ao se buscar literatura a respeito de meditação.

Os grandes e verdadeiros mestres falam sobre meditação há milênios. Eles falam a partir de suas próprias experiências como iluminados. Mas, como eles falaram em épocas distintas para povos distintos, com necessidades e compreensões distintas, às vezes fica complicado e até contraditório o entendimento de suas orientações.

Osho é um mestre contemporâneo, que fala para as pessoas desta época e que desenvolveu técnicas apropriadas para o homem ocidental moderno. Pela minha própria experiência, posso dizer que escolhendo uma só orientação, já é muito difícil a prática regular de meditação. Nesse campo, a mistura de orientações diversas pode não nos levar a lugar algum.

Para qualquer pessoa interessada em saber vivencialmente o que é meditação, e mesmo para aquelas que querem aprofundar a sua experiência meditativa, sugerimos um excelente manual que se encontra nas principais livrarias. É o livro "Meditação: Primeira e Última Liberdade", de autoria do Osho, publicado no Brasil pela Sextante Editora. A primeira parte do livro esclarece tudo o que é e o que não é meditação, o que são técnicas, e muitas dicas importantes. A segunda parte descreve dezenas de técnicas que podem ser praticadas por qualquer um em seu próprio espaço.

É um experimento. Não é algo muito sério. Aliás, a seriedade é um obstáculo à meditação. É um relaxamento. É um mergulho num espaço intangível, uma viagem a um mundo desconhecido que acaba sendo revelador de outras dimensões da vida, de novas percepções, de novos sabores.

sábado, 4 de outubro de 2008

Momentos mágicos

Existem situações especiais que propiciam o desabrochar de momentos mágicos. Nas minhas estadas em Puna, quando Osho ainda estava no corpo, eu vivi muitos momentos mágicos. Osho era um grande demolidor, mas, ao mesmo tempo, a sua presença era um grande catalisador e irradiava uma forte energia que pairava sobre toda a comuna e se fundia com o clima gerado pela prática intensiva de meditação por parte dos sannyasins e demais buscadores presentes. Bastava cruzar os portões de entrada da Osho Commune International, para se experimentar e se envolver nesse campo energético quase tangível. Parece que o próprio ar nos conduzia a um espaço de quietude, de percepção mais aguçada, de alegria pura, de amorosidade. A sensação era de que finalmente chegávamos em casa.

Na medida em que éramos tomados por essa energia, nos dissolvíamos no corpo da comuna. Era como se existissem dois mundos: o que estava do lado de fora dos portões, espalhado pelos quatro continentes e, ali dentro, o mundo da comuna, no qual estávamos imersos. Nos meses mais ativos, a comuna abrigava cerca de dez mil pessoas. Eram buscadores oriundos dos mais diversos países, cada qual com trajetórias únicas, formando um imenso mosaico, multicolorido e harmônico. Esse campo de energia que havia na comuna era um convite permanente para que abríssemos nossos corações, com receptividade e entrega. E com essa abertura, tudo acontecia. Costumávamos dizer que um dia de vida na comuna compreendia experimentos e sacações que não conseguíamos obter em um ano de tentativas no mundo externo. Era um espaço aberto a todas as possibilidades, sem imposições, sem limitações e com um suporte absolutamente confiável dos companheiros de jornada, das equipes de terapeutas e do próprio Osho. Vivendo nesse laboratório experimental de consciência humana, éramos constantemente tomados por insights que não raramente dissolviam questões que vínhamos arrastando por anos e anos.

Os insights surgiam como um estalar de dedos nos momentos mágicos propiciados por todo esse clima. E não é fácil transmitir em palavras o que eram esses insights e o impacto por eles provocado em nossas vidas. Principalmente porque, em geral, eles não traziam novidades. Eram toques simples que a gente já conhecia e eram absolutamente óbvios. O que os fazia serem especiais é que antes eram conhecimentos intelectuais extraídos de livros, e agora eram experiências vivas, eram viscerais e, sobretudo, transformadores. Os insights sempre surgiam em momento de entrega e receptividade, quando nos permitíamos ver pequenos nós que estavam ali na nossa frente, impedindo a expressão de nossa alegria, de nossa criatividade, de nossa liberdade. Às vezes acontecia através de uma palavra do facilitador de um grupo, dita de coração a coração, outras vezes, surgia no silêncio de uma Vipássana no Buddha Hall, muitas vezes o insight aflorava durante as palestras do Osho, ou mesmo quando ele estava em silêncio nos satsangs no início da noite. E também ocorriam nas atividades da rotina diária, durante uma caminhada, num momento de silêncio, num trabalho comunal.

As experiências que vivi em Puna foram fundamentais para a minha caminhada. Voltando à vida normal no mundo, trouxe comigo a compreensão de que eu pessoalmente também carrego os meus próprios “portões da comuna” que delimitam as fronteiras entre meu mundo interior e o exterior. E se eu dou atenção ao meu mundo interior, se aprofundo minha meditação, em conseqüência, eu crio as condições especiais necessárias para o desabrochar de momentos mágicos e de sucessivos insights que iluminam meu caminho. E como em Puna, a presença de Osho continua se manifestando, só que agora fora do seu corpo físico, dissolvido nas flores, nas estrelas, nos pássaros, como ele próprio nos falou que seria.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O caminho com Osho



Apesar de tudo o que já se falou e escreveu sobre o engodo das religiões organizadas ao longo dos tempos, ainda permanece no inconsciente de muitos de nós essa vontade (ou necessidade) de um suporte para o nosso caminho espiritual. Por mais que tenhamos um discurso de liberdade, de individualidade e de autodeterminação, quando entramos no caminho com Osho, nem sempre é fácil lidarmos com a ausência de uma certa organização, de uma estrutura à qual possamos recorrer para nos orientarmos. Quantas vezes sentimos a falta de encontros regulares para compartilharmos experiências e dúvidas, ou mesmo para celebrarmos datas especiais ou o recebimento do sannyas?

Mas Osho detonou com todas as organizações e mostrou como todas elas acabam por sufocar a nossa busca. Quando adotamos um guru, seguimos um ritual, práticas obrigatórias e preceitos, acabamos por nos apegar a tudo isso, deixando aos poucos a pureza inocente de nossa criança que nada sabe e tateia no escuro em busca da verdade. Quando se tem um guia, a busca já não é a mesma. O guia lhe explica tudo e diz como as coisas devem ser.

O que fazer? Há muito para se fazer. Osho nos desafia a encontrarmos o mestre dentro de nós. E isso é complicado e simples ao mesmo tempo, é tarefa gigantesca que implica coragem, riscos, persistência, buscas e descobertas, implica percorrermos sozinhos terrenos desconhecidos, sem sabermos ao certo aonde chegar, sem mapas, sem bússola, sem muletas e sem guarda-chuvas.
Ouvimos quando ele diz para nos livrarmos dele, mas continuamos agarrados. É como uma criancinha aprendendo a andar, mas que ainda se sente insegura para soltar as mãos dos pais.

Seguir o caminho com Osho não é fácil. Por isso, há muitas desistências no percurso. Muitos companheiros simplesmente abandonam a caminhada, outros optam por alternativas mais estruturadas disponíveis no mercado ou preferem atalhos que prometem acesso mais rápido e mais fácil a alguma meta. Outros ficam fascinados com o guia de alguma nova caravana que passa pela estrada.

E por que não é fácil seguir com Osho? Sobretudo porque significa não segui-lo, significa seguir sozinho, significa ter que aguçar a própria percepção, a própria intuição, pois não há ninguém a nos guiar a não ser nós mesmos; não há ninguém a nos cobrar a não ser nós mesmos. Dizer que o caminho para isso é a meditação não simplifica as coisas. As técnicas estão disponíveis. Mas técnica não é meditação e ainda corremos o risco de nos apegarmos à técnica e não chegarmos a lugar algum. Mas como Osho diz, sem a técnica também não chegamos a lugar algum. E o que mais nos deixa desconcertados é que meditação não é como uma academia de ginástica onde além de um exercício objetivamente definido, existe um instrutor para orientar e corrigir. A meditação é um mergulho individual, é realmente um mergulho no escuro, um mergulho no vazio. E só quem mergulha sabe o que significa esse vazio, sabe o que as palavras não conseguem traduzir.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Fidelidade e comprometimento


Algumas pessoas, inclusive amigos sannyasins, às vezes questionam porque em meus depoimentos e comentários eu me fixo apenas no Osho, enquanto existem tantos outros autores e mentores espirituais, cujos trabalhos também levam a um aprofundamento da consciência, do entendimento, da sensibilidade, da compaixão, do amor, do silêncio, mesmo que nada tenham a ver diretamente com o Osho.

Eu entendo esse questionamento e inclusive acho muito apropriado que essas pessoas, em suas palestras e em seus trabalhos se apóiem em mensagens de um Eckart Tolle ou de um A H. Almaas, ajudando mesmo a divulgá-los. Apesar disso, eu sinto que Osho ainda tem muito para ser explorado, muito para ser difundido e muito para ser esclarecido. Há muitas pérolas do Osho para serem trazidas ao grande público, e, de uma maneira clara, pois muitos mal-entendidos se espalharam, em parte em conseqüência de uma distorção orquestrada pelo "sistema" com apoio da mídia, sobretudo nos anos 80, embora ainda hoje encontremos esse trabalho leviano de se denegrir a imagem do Osho, como o fez recentemente revista VIP.

Esta é uma das razões porque tenho insistido em trabalhar especificamente com Osho. O mundo mudou? Sim. Outras pessoas estão falando coisas significativas? Sim. Mas é fundamental que a sua mensagem original seja preservada e difundida. E sei que tentei fazer isso de maneira muito rígida no passado, o que é incoerente com o próprio espírito da sua mensagem. Busco hoje mais maleabilidade, faz parte do meu processo, mas não quero perder essa fidelidade à sua mensagem original. Sinto que este é um trabalho que precisa ser feito. E eu me coloco como voluntário.

Se no mundo de hoje dispomos de um leque com mil e uma vertentes, e as pessoas podem buscar pela internet canais para acessar todas essas vertentes, eu quero manter um canal para que as pessoas possam acessar a mensagem do Osho de maneira mais original e mais preservada. As pessoas têm a liberdade e o direito de fazerem suas buscas em todos os canais, inclusive os do Osho.

Uma segunda razão para essa minha “exclusividade” ao Osho é que pessoalmente, eu sinto que os toques do Osho, sem qualquer mistura com outras fontes, têm sido uma sucessão de ciclones em minha vida. Às vezes passo por pequenos períodos de calmaria, mas logo em seguida enfrento uma sucessão de grandes turbulências. Eu vejo à minha frente um longo caminho e Osho tem sido uma luz para mim. É claro que é uma luz que indica a minha própria luz e com isso tenho dado passos. Ainda não estou no ponto de dispensar essa luz do Osho, sobretudo nos meus tropeços, nos momentos de incertezas.

Quando leio outras fontes, como um Eckart Tolle ou um Shunryo Suzuki, eu reconheço muitas coisas que vi anteriormente no Osho, ainda que com outras palavras, com outros exemplos, o que, por vezes, até ajuda minha compreensão. Mas fico sempre com a ótica do que aprendi com Osho, checando se o que eles estão dizendo é válido ou não. Ou seja, a minha confiança em Osho é absoluta. E a confiança nessas outras fontes é relativa. E é exatamente a confiança absoluta que tenho no Osho, que possibilita a minha entrega e a aceitação para que novas possibilidades se abram em minha vida a partir mesmo de muitos de seus toques.

Pode ser que no meu processo pessoal eu chegue a um ponto em que "jogue os livros do Osho na fogueira", como em algum lugar ele mesmo sugere, mas ainda não cheguei nesse ponto. Até lá, o que tenho procurado entender é a minha rigidez e ortodoxia que muitas vezes geraram polêmicas e broncas por parte de outras pessoas. Tenho procurado abrir mais minha receptividade e aceitação para com outras possibilidades de ver, de compreender, de crescer.


terça-feira, 23 de setembro de 2008

A meditação se misturando com a vida

Conheci o Osho há 23 anos.

Nos primeiros anos li, afoitamente, os trinta e poucos livros que, então, haviam sido publicados em português. Em 1986 tornei-me sannyasin e, no ano seguinte, fui à Índia para estar diante dele, sentí-lo e vê-lo falar, onde permaneci alguns meses. Voltei em 1989 e, depois que ele deixou o corpo, ainda visitei a sua comuna diversas vezes.

Fazendo um retrospecto desses meus últimos 23 anos de busca, com muita leitura de Osho, aprofundando minha meditação, observando meu próprio processo, eu posso dizer que hoje estou muito menos confuso do que estava antes, quando eu me sentia muito dividido. Nunca estava inteiro nas coisas. Hoje eu me sinto mais quieto e silencioso. Ainda percebo angústia e ansiedade dentro de mim. Faz parte do meu processo, inclusive essa percepção. Mas, no geral, me sinto menos dividido, tenho mais clareza em relação ao que busco, ao que quero, ao que almejo. A minha busca, que eu poderia chamar de espiritual, é hoje o maior foco de minha vida. É um querer que bate no meu coração. O que eu quero hoje, do fundo do meu ser, é estar de bem com a vida, estar em paz dentro de mim, estar relaxado, estar em harmonia com a natureza e o cosmos. Sobretudo estar em contato com meu silêncio interior.


Olhando todo o processo que vivi nesses últimos 23 anos, tenho que reconhecer que todos os obstáculos que enfrentei, todos os fracassos que vivi, todas as crises por que passei, todas as situações em que me vi confuso e perdido, todos esses momentos foram fundamentais para que eu pudesse, passo a passo, ir rompendo com a minha velha programação, para que eu pudesse me soltar um pouco de minha velha carcaça e, progressivamente, caminhasse, renascendo com mais liberdade, mais discernimento, mais coragem para dar saltos, mais coragem para deixar tantos fardos que, desnecessariamente, eu carregava.

Ainda bem que não recuei diante de tantos momentos de incerteza, que não tive medo diante dos desafios, quando foi preciso romper com muitas amarras ao passado. Ainda bem que uma luz me deu alento e, muitas vezes, recusei buscar os velhos refúgios, quando me vi perdido e confuso. Ousei encarar as novas situações com coragem, para afirmar o que eu queria. Se nada disso tivesse ocorrido, eu ainda seria o velho Ronaldo dividido, carregando uma grande sensação de tristeza, de infelicidade, de fracasso, que era como eu sentia a minha vida antes de conhecer o Osho.

Os melhores momentos de minha vida foram aqueles em que eu me lancei e me permiti sentir a vida, abrir meu coração. Abracei pessoas, árvores, animais; foram os momentos em que eu me joguei, dancei, cantei, pulei, namorei. Foram momentos em que deixei a cabeça de lado e me permiti fluir junto com a vida, me permiti ouvir o pulsar da vida e entrei em sintonia com essa pulsação. Às vezes até com um pouco de medo, mas sem medir muito as conseqüências.

Fiz muitas coisas que hoje não tenho disposição, nem pique e nem vontade de fazer. Mas, na época, foram fundamentais para mim. Até mesmo, para que hoje eu não sinta mais a necessidade de dar aqueles saltos. Talvez, porque os saltos já tenham sido dados. Dei muitas cabeçadas, fui muitas vezes inconseqüente e irresponsável. Mas, que bom que pude ser inconseqüente e irresponsável! Principalmente para mim que sempre fui tão certinho, tão obediente, tão bonzinho e tão responsável, tão ajuizado e, principalmente, tão travado e bloqueado.

O mais importante é que eu precisei passar por tudo que passei para chegar a esta situação em que vivo agora. E, certamente, eu ainda preciso passar por esta situação em que vivo agora, para me abrir para uma nova situação que irá se revelar daqui mais um pouco.

Para mim, tem sido muito importante ler Osho, reler, depois me lançar na vida; depois sentar e meditar, depois me lançar na vida novamente; depois ler e reler Osho, fazer novos experimentos, tentando entrar em sintonia com meu coração e deixar que ele se expresse; e depois sentar e meditar em silêncio; e assim sucessivamente, cada vez aguçando mais o meu "observador interno". É a meditação se misturando com a vida e a vida se misturando com a meditação.

sábado, 20 de setembro de 2008

Palavras Iniciais

A vida vai nos acomodando de um lado e de outro. A existência não nos abandona mesmo. Estamos sendo sempre chacoalhados. Ainda que passemos um tempo aparentemente quietos, mais acomodados, na verdade, estamos acumulando "quantum", como diz o Osho, para dali a pouco começarmos a explodir num novo turbilhão de idéias, de movimentos, de projetos, de criação e de realização.

Agora, de repente, por uma série de circunstâncias, cresceu em mim essa vontade de escrever um blog, que pode ser uma experiência rica e prazerosa, um canal para um novo tipo de fazer, diferente do meu fazer anterior. Parece que o meu fazedor se deliciava com o que era árduo, com mobilizar pessoas, atraí-las e conduzi-las. Mas tinha que ser algo palpável, como alugar uma sala de meditação, dirigir um centro, promover eventos, fazer reuniões, desenvolver um projeto comunitário, ir para lá e para cá. Por fim, tudo isso acabou me cansando. Daí, eu parei e dei um tempo. E, no meio desse tempo, quando já estava me sentindo descansando até demais, ao ponto de me sentir incomodado, a Amras me descobriu na internet, gostou de muita coisa que viu no site do Osho Brasil e no boletim, e resolveu me escrever. Começamos uma troca de idéias que acabaram por despertar em mim uma vontade de um novo fazer, um fazer que tem mais a ver com um criar, com um simples compartilhar, com um let-go prazeroso. E assim surgiu essa idéia do blog.

Na verdade, no meu trabalho no Osho Brasil, por força do site (http://www.oshobrasil.com.br/) e do boletim Osho Conexão Brasil, eu recebo muitas mensagens com questionamentos sobre meditação, sobre Osho, sobre o seu trabalho, sobre o sannyas, sobre experiências de vida. Essas mensagens vêm tanto de sannyasins como de não-sannyasins, vêm de amigos e de leitores do Osho. E nas respostas, eu costumo aprofundar minhas considerações, coloco meu coração, minhas experiências, minhas próprias dúvidas, o meu viver. Muitas vezes, eu fico achando que uma ou outra mensagem contém informações que poderiam ser úteis e esclarecedoras para muita gente. Chego a manter uma cópia daquela resposta por um tempo, pensando em aproveitá-la em um artigo no boletim, mas acabo deletando. E muitas vezes deleto porque sinto que aquela é uma resposta minha pessoal e por isso não caberia no boletim que é do Osho Brasil e não meu.

Por tudo isso, eu dou as boas-vindas a essa bela sugestão da Amras para que eu abrisse este blog. Vejo neste blog uma real possibilidade de interação que falta tanto ao site quanto ao boletim. Através dos “comentários”, todos os leitores poderão se manifestar a respeito do que estarei escrevendo e poderão fazer sugestões e críticas ao próprio site e ao boletim. E talvez se sintam até mais estimulados a enviarem seus questionamentos e suas considerações para um compartilhar mais amplo. Sinto que este blog tem o potencial de ser mais um espaço sannyas para abrirmos nossos corações. Que desfrutemos juntos, com a gentileza dos companheiros de jornada, inspirados pelo Osho, a grande e linda energia que nos une.