segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Por qué non te callas?

Dentro de poucos dias, completa 1 ano a famosa pergunta feita pelo rei Juan Carlos a Hugo Chavez: ‘Por qué non te callas?’.

A questão não é quem disse nem para quem foi dita. A frase em si é forte e muito oportuna. Volta e meia, a imagem dessa participação do rei na Cúpula Ibero-americana do Chile ressurge em minha memória, sobretudo nesses tempos de campanha eleitoral, de anúncios apocalípticos de visitas de E.T. e de proclamações dos arautos do fim iminente do capitalismo, com o colapso de seu sistema financeiro e de suas bolsas de valores. Fica um ti-ti-ti constante na mente.

A mídia se delicia com os discursos válidos ou inválidos dos hugoschaves ou georgesbushes espalhados pelo planeta, omitindo os jogos de interesses ocultos por trás desses discursos válidos ou inválidos; os eleitores petistas, tucanos e pefelistas se digladiam - uns exaltando hoje a adoção de medidas que ontem rejeitaram e outros rejeitando hoje as medidas que ontem adotaram -, como se o José ou o Mané, pelo simples fato de serem deste ou daquele partido, fossem os melhores ou os piores, fossem mais confiáveis ou menos confiáveis; como se a corrupção e o desmando fossem prerrogativas apenas dos políticos do outro partido, e nunca dos de sua legenda preferida.

A minha Caixa de Entrada está repleta de e-mails enviados por habitantes de outras galáxias, dirigidos aos “amados habitantes do planeta Terra”, anunciando e alertando-nos para o óbvio e para o inimaginável. Ultimamente, chegaram a anunciar a aparição de naves que permaneceriam no céu por vários dias, exatamente para “callar” a voz dos incrédulos. Anúncio este, aliás, desmentido por porta-vozes de outros seres siderais, o que nos leva a crer que uns são mais E.T. e outros nem tanto - numa graduação semelhante à do crescente pelotão de iluminados, que a cada dia aumentam as “mensagens da boa nova” que nos chegam sob forma de Spam. Cada qual também anunciando desde o óbvio até o inimaginável.

O círculo se completa quando, na outra extremidade da corda, vemos os anúncios de catastróficas oscilações do mercado e de falência de bancos, que são vendidos com grande alarde a um público ávido por notícias do tipo “quanto pior melhor”, sem se importar com o esclarecimento de quem, por trás da cortina, se locupleta, alimentando artificialmente, ou efetivamente, o caos e o pânico.
Nessas horas, fecho os olhos, e todas essas vozes se misturam, falando ao mesmo tempo. Evoco, então, a presença do rei com sua fala firme, e me dirijo a cada uma dessas vozes: “Por qué non te callas?”

3 comentários:

angela disse...

Oi Champa,
Exerci meu direito de calá-los apertando a tecla 'deleta'. Quanta bobagem travestida de mensagem espiritual! Gostaria de mandar vários spam com a mensagem:'vão meditar, gente'!
Um abraço.

Ares disse...

Oi Champak,
Muito pertinente e atual. Sou fã dos seus insights!
Grande abraço.

Andre Whittick Nasser disse...

parabéns !
muito bom ! bem profundo e realista.