sábado, 4 de outubro de 2008

Momentos mágicos

Existem situações especiais que propiciam o desabrochar de momentos mágicos. Nas minhas estadas em Puna, quando Osho ainda estava no corpo, eu vivi muitos momentos mágicos. Osho era um grande demolidor, mas, ao mesmo tempo, a sua presença era um grande catalisador e irradiava uma forte energia que pairava sobre toda a comuna e se fundia com o clima gerado pela prática intensiva de meditação por parte dos sannyasins e demais buscadores presentes. Bastava cruzar os portões de entrada da Osho Commune International, para se experimentar e se envolver nesse campo energético quase tangível. Parece que o próprio ar nos conduzia a um espaço de quietude, de percepção mais aguçada, de alegria pura, de amorosidade. A sensação era de que finalmente chegávamos em casa.

Na medida em que éramos tomados por essa energia, nos dissolvíamos no corpo da comuna. Era como se existissem dois mundos: o que estava do lado de fora dos portões, espalhado pelos quatro continentes e, ali dentro, o mundo da comuna, no qual estávamos imersos. Nos meses mais ativos, a comuna abrigava cerca de dez mil pessoas. Eram buscadores oriundos dos mais diversos países, cada qual com trajetórias únicas, formando um imenso mosaico, multicolorido e harmônico. Esse campo de energia que havia na comuna era um convite permanente para que abríssemos nossos corações, com receptividade e entrega. E com essa abertura, tudo acontecia. Costumávamos dizer que um dia de vida na comuna compreendia experimentos e sacações que não conseguíamos obter em um ano de tentativas no mundo externo. Era um espaço aberto a todas as possibilidades, sem imposições, sem limitações e com um suporte absolutamente confiável dos companheiros de jornada, das equipes de terapeutas e do próprio Osho. Vivendo nesse laboratório experimental de consciência humana, éramos constantemente tomados por insights que não raramente dissolviam questões que vínhamos arrastando por anos e anos.

Os insights surgiam como um estalar de dedos nos momentos mágicos propiciados por todo esse clima. E não é fácil transmitir em palavras o que eram esses insights e o impacto por eles provocado em nossas vidas. Principalmente porque, em geral, eles não traziam novidades. Eram toques simples que a gente já conhecia e eram absolutamente óbvios. O que os fazia serem especiais é que antes eram conhecimentos intelectuais extraídos de livros, e agora eram experiências vivas, eram viscerais e, sobretudo, transformadores. Os insights sempre surgiam em momento de entrega e receptividade, quando nos permitíamos ver pequenos nós que estavam ali na nossa frente, impedindo a expressão de nossa alegria, de nossa criatividade, de nossa liberdade. Às vezes acontecia através de uma palavra do facilitador de um grupo, dita de coração a coração, outras vezes, surgia no silêncio de uma Vipássana no Buddha Hall, muitas vezes o insight aflorava durante as palestras do Osho, ou mesmo quando ele estava em silêncio nos satsangs no início da noite. E também ocorriam nas atividades da rotina diária, durante uma caminhada, num momento de silêncio, num trabalho comunal.

As experiências que vivi em Puna foram fundamentais para a minha caminhada. Voltando à vida normal no mundo, trouxe comigo a compreensão de que eu pessoalmente também carrego os meus próprios “portões da comuna” que delimitam as fronteiras entre meu mundo interior e o exterior. E se eu dou atenção ao meu mundo interior, se aprofundo minha meditação, em conseqüência, eu crio as condições especiais necessárias para o desabrochar de momentos mágicos e de sucessivos insights que iluminam meu caminho. E como em Puna, a presença de Osho continua se manifestando, só que agora fora do seu corpo físico, dissolvido nas flores, nas estrelas, nos pássaros, como ele próprio nos falou que seria.

6 comentários:

Ashara G. Souza disse...

Beleza Champak! Muito lindo!
Me senti dentro da Comuna do Osho, vivendo momentos mágicos que continuam enraizados no fundo da minha alma.
Abraços e tudo de bom!

Ricardo Paulino disse...

Olá Champak,
Fiquei com inveja!
Não conheci o OSHO pessoalmente e nunca fui ao Resort na ìndia, portanto, nunca experienciei estar em contato direto com a energia "concentrada" de OSHO, nem os maravilhosos trabalhos oferecidos por lá! E a inveja que senti não é do tipo "branca", como dizem por aí (risos). Mas também não é "preta" (+ risos). É simplesmente o sentimento de inveja. Mas posso imaginar como foram realmente "mágicos" os momentos que vc vivenciou por lá, pois, como vc sabe, tive a oportunidade de experienciar, no Espaço Zen, em Fortaleza, do amigo Ashara, algumas belíssima amostras do que é a beleza, a alegria e o amor de OSHO. E foi muito intenso, mesmo estando tão distante de Puna, na Índia.

Pra mim, ler o que vc escreve tem sido muito prazeroso - parece que a fonte é sempre o seu coração.
Parabéns pelo Blog!
Ricardo (Belém)

Center Games Video Locadora, disse...

Parabens Champak,pelo blog e pelo seu depoimento que é sincero e nos faz emocionar,sou um leitor e admirador de Osho a muitos anos,espero ver mais depoimentos como esse no seu blog.
Parabens.
emmanuel s.m

Unknown disse...

Champak,
Se for possível comente algum insight que tenha acontecido ao lado de Osho, pois, pode ser útil para nós, que temos lido muito, mas provavelmente, ainda não tivemos o Insight. Por mais simples que seja, vai ser valioso. Namaste.Avikal.

Swami Prem Samudra disse...

a MEDITAÇÃO CONTINUA!

Oi Champak,

Embora não nos falamos há muito, gosto de saber que há um movimento, e, sinto, sim, falta de parceirias até mesmo para superar a 'deseducação' como pai que sou agora - e meu filho, Kauê, está com 9 anos... -, gostaria de falar com pessoas que passam e passaram por este processo de se rever e fazer o 'novo'.
Além, deixo meu contato para quem puder vir em Florianópolis, começo este Núcleo Integra@l num local privilegiado (veja http://airtonguardini.home.services.spaces.live.com/default.aspx ), certo de que a MEDITAÇÃO CONTINUA!

Parabéns pelo trabalho, quero dizer, PRAZER, pois considero algo além de SORTE (FAZER O QUE SE QUER FAZER) , OU SEJA, VIVER COM PRAZER! AGIR COM PRAZER.

E por falar nisto, que prazer escrever assim!

Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!

Abração,
Samudra

angela disse...

Champa,
Havia comentado neste post maravilhoso, mas devo ter me atrapalhado na postagem.
Vejo, hoje, que o tempo passado em Poona e no Rancho foram grandes momentos na minha vida...mágicos mesmo...que saudade! Fecho os olhos e sinto o cheiro e o sabor!
Gostei da linda metáfora dos 'portões da comuna' internos. Ainda temos esta possibilidade. Obrigada por lembrá-la.

Vamos nos adentrar nos 'portões da comuna'.
Um abraço.