terça-feira, 23 de setembro de 2008

A meditação se misturando com a vida

Conheci o Osho há 23 anos.

Nos primeiros anos li, afoitamente, os trinta e poucos livros que, então, haviam sido publicados em português. Em 1986 tornei-me sannyasin e, no ano seguinte, fui à Índia para estar diante dele, sentí-lo e vê-lo falar, onde permaneci alguns meses. Voltei em 1989 e, depois que ele deixou o corpo, ainda visitei a sua comuna diversas vezes.

Fazendo um retrospecto desses meus últimos 23 anos de busca, com muita leitura de Osho, aprofundando minha meditação, observando meu próprio processo, eu posso dizer que hoje estou muito menos confuso do que estava antes, quando eu me sentia muito dividido. Nunca estava inteiro nas coisas. Hoje eu me sinto mais quieto e silencioso. Ainda percebo angústia e ansiedade dentro de mim. Faz parte do meu processo, inclusive essa percepção. Mas, no geral, me sinto menos dividido, tenho mais clareza em relação ao que busco, ao que quero, ao que almejo. A minha busca, que eu poderia chamar de espiritual, é hoje o maior foco de minha vida. É um querer que bate no meu coração. O que eu quero hoje, do fundo do meu ser, é estar de bem com a vida, estar em paz dentro de mim, estar relaxado, estar em harmonia com a natureza e o cosmos. Sobretudo estar em contato com meu silêncio interior.


Olhando todo o processo que vivi nesses últimos 23 anos, tenho que reconhecer que todos os obstáculos que enfrentei, todos os fracassos que vivi, todas as crises por que passei, todas as situações em que me vi confuso e perdido, todos esses momentos foram fundamentais para que eu pudesse, passo a passo, ir rompendo com a minha velha programação, para que eu pudesse me soltar um pouco de minha velha carcaça e, progressivamente, caminhasse, renascendo com mais liberdade, mais discernimento, mais coragem para dar saltos, mais coragem para deixar tantos fardos que, desnecessariamente, eu carregava.

Ainda bem que não recuei diante de tantos momentos de incerteza, que não tive medo diante dos desafios, quando foi preciso romper com muitas amarras ao passado. Ainda bem que uma luz me deu alento e, muitas vezes, recusei buscar os velhos refúgios, quando me vi perdido e confuso. Ousei encarar as novas situações com coragem, para afirmar o que eu queria. Se nada disso tivesse ocorrido, eu ainda seria o velho Ronaldo dividido, carregando uma grande sensação de tristeza, de infelicidade, de fracasso, que era como eu sentia a minha vida antes de conhecer o Osho.

Os melhores momentos de minha vida foram aqueles em que eu me lancei e me permiti sentir a vida, abrir meu coração. Abracei pessoas, árvores, animais; foram os momentos em que eu me joguei, dancei, cantei, pulei, namorei. Foram momentos em que deixei a cabeça de lado e me permiti fluir junto com a vida, me permiti ouvir o pulsar da vida e entrei em sintonia com essa pulsação. Às vezes até com um pouco de medo, mas sem medir muito as conseqüências.

Fiz muitas coisas que hoje não tenho disposição, nem pique e nem vontade de fazer. Mas, na época, foram fundamentais para mim. Até mesmo, para que hoje eu não sinta mais a necessidade de dar aqueles saltos. Talvez, porque os saltos já tenham sido dados. Dei muitas cabeçadas, fui muitas vezes inconseqüente e irresponsável. Mas, que bom que pude ser inconseqüente e irresponsável! Principalmente para mim que sempre fui tão certinho, tão obediente, tão bonzinho e tão responsável, tão ajuizado e, principalmente, tão travado e bloqueado.

O mais importante é que eu precisei passar por tudo que passei para chegar a esta situação em que vivo agora. E, certamente, eu ainda preciso passar por esta situação em que vivo agora, para me abrir para uma nova situação que irá se revelar daqui mais um pouco.

Para mim, tem sido muito importante ler Osho, reler, depois me lançar na vida; depois sentar e meditar, depois me lançar na vida novamente; depois ler e reler Osho, fazer novos experimentos, tentando entrar em sintonia com meu coração e deixar que ele se expresse; e depois sentar e meditar em silêncio; e assim sucessivamente, cada vez aguçando mais o meu "observador interno". É a meditação se misturando com a vida e a vida se misturando com a meditação.

Um comentário:

angela disse...

Champa, me permite um recado pra esta menina aí na foto ( última à direita )?
E aí Mangalinha, vc tem um monte de boas estórias para nos contar. Apareça! Um beijo.