sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Estamos sós

Basicamente existem dois tipos de sannyasins. Outros tipos existem, mas são derivados desses dois tipos mais significativos.

Existe um grupo majoritário que fica (ou ficava) voando ao redor do Osho e do que lhe diz (ou dizia) respeito, da mesma maneira como as moscas na vitrine da padaria ficam voando atraídas pelo cheiro dos doces.
Esse era o grupo maior que circulava ao redor de Osho, de sua comuna, dos seus centros ao redor do mundo. Era e é o povo que gosta de estar sempre em sintonia com o movimento que está na moda.
Depois que Osho deixou o corpo, ele já não estava mais aqui para criar o "frisson" que a todo instante desestabilizava as estruturas que se tentava montar ao seu redor. Esse permanente "frisson" criava uma mobilização constante, um desafio a todo instante, arrepios, excitação, e tudo isso resultava num dinamismo imenso no movimento ao seu redor. Não se tinha tempo de absorver uma chacoalhada e lá vinha outra a nos dar uma rasteira. Não parávamos em pé.
E permeando esse ambiente, Osho insistia na prática de meditação, o que dava um caráter permanente a esse estado de chacoalhar.
O espírito de festa, celebração e alegria ao redor do Osho se somava a tudo isso e harmonizava a ambientação do movimento.
Sem a presença do grande maestro que era a fonte de todo esse "frisson", muitos sannyasins sentiram-se órfãos.
Esse grande grupo de sannyasins ficou muito dependente da presença desse maestro demolidor, provocador, desafiador, sedutor, intrigante e inspirador.
Sem a presença de Osho, muitos não conseguiram resistir aos apelos do primeiro que se apresentou como "iluminado".
Até hoje, basta qualquer um de nós ter um pouco mais de leitura de Osho e de prática de suas meditações, para que muitos comecem a nos indagar se já não estamos iluminados, se já tivemos experiências de satori ou samadhi. Estão prontos para se prostrar aos pés do primeiro que se declarar iluminado.
Esse grupo sempre esteve voltado para fora, desde a época em que Osho estava no corpo, e continua ainda hoje buscando do lado de fora aquilo que está dentro. Continuam querendo algum guarda chuva ou muleta para se apoiar.
Essas pessoas têm pouco de si mesmas para compartilhar, a não ser a exaltação do Osho de quem se tornaram dependentes como um guru, a não ser as aventuras que viveram em grupo no antigo movimento sannyas, os abraços longos e apertados, as catarses e os momentos de êxtase que experimentaram nos grupos de crescimento, e, por que não, os encontros celebrativos em que se dançava e namorava muito.
Esse é um grupo saudosista que continua à procura de algo que se aproxime daquelas belas e fortes experiências do movimento sannyas, sobretudo quando o maestro estava entre nós.

O outro grupo é bem mais reduzido. É o grupo daqueles que compreenderam o cerne da mensagem do Osho e se recolheram, foram para dentro.
Muitos iniciaram a sua jornada também como moscas de padaria, mas tiveram o seu momento de percepção maior, quando deixaram essa busca do lado de fora e compreenderam que não existe movimento sannyas, que não existe filosofia do Osho, que não existem ensinamentos, que não existem técnicas, que não existe terapia, que não existe ajuda externa alguma.
E quando você percebe a estupidez de toda essa movimentação externa, torna-se impossível continuar nesse jogo.
O compartilhamento dessas pessoas, quando ocorre, é um desabrochar que parte de dentro delas. Não é resultante de nossa expectativa de que elas compartilhem.
Elas não têm obrigação, nem o dever, nem o compromisso de compartilhar coisa alguma.
O comprometimento delas é com elas mesmas. Não é com nossas expectativas.

Por isso, nessa nossa caminhada, não se pode esperar compartilhamento de quem quer que seja. Quem está voltado para fora, está voltado para fora. Tudo bem. É a história dele ou dela. E quem está voltado para dentro, está voltado para dentro. É a história dele ou dela.
O que importa para mim é a minha história, é a caminhada que construo a cada passo, é como percebo cada um desses passos, é a compreensão de cada um desses passos, é a abertura que cada passo me traz. A intensidade e a profundidade de cada passo só eu posso alcançar e só eu posso sentir.
E não me diz respeito o que os outros pensam de cada um de meus passos, por mais que minha mente insista no contrário.
Nessa nossa caminhada estamos sós, estamos sem bússola e sem mapas, não temos objetivos e não sabemos para onde estamos indo.
Por isso surge essa vontade de termos um grupo em que nos apoiar, de termos um mestre vivo que nos sirva de guru, de termos dicas, toques e orientações para iluminar nossos passos. Tudo isso são ilusões, ilusões e ilusões. Nada mais que subterfúgios para não encararmos e assumirmos essa verdade nua e crua de que estamos sós nessa caminhada.

9 comentários:

Mercedes Alvarez disse...

Champak, é difícil e dolorosa essa constatação - a de que se está absolutamento só na caminhada - mas é também libertadora. Não dependemos de ninguém, e ninguém depende de nós (mesmo que acredite que depende). Assim, fica-se mais leve...
Abraços
Mel

PAKI disse...

Namastê Champak. Assim é.

clarinda disse...

Manastê Champak.

angela disse...

Champak,
Seu texto reportou-me à uma noite em Poona II, quando o Osho disse-nos, claramente e sem rodeios, que estávamos sós, que não tivéssemos esperança ( no sentido de esperar que algo acontecesse ), que estávamos 'sem ajuda'.
Eu fiquei muito triste, as palavras dele martelando em minha cabeça, sem entender o porquê de estar alí com milhares de pessoas, de ter amigos entre eles, de meditarmos juntos,de compartilharmos experiências.
A conexão existe, porém, o Ser é solitário. Dói pra caramba, mas, é a verdade.
Um abraço.

celson disse...

Champak. Penso que vc. foi radical demais nas considerações.É como se dissesse:"cada um com seus problemas".Se assim for,pergunto:para queê servem os gurus, os mestres?,senão p/indicar um caminho aos inexperientes? sorte e privilégio tiveram aqueles que receberam orientações de Osho.Não fosse assim, estariam também perdidos por aí. Celso.

Unknown disse...

Champak, muito legal sua clareza. Acho que fazer parte do todo, ser o todo, não estar dividido, não é para a mente entender e sim uma questão de experiência, que alguns mestres experimentaram e apenas tem condição de nos contar. E a gente fica se iludindo e se contentando em ser mosca, enquanto a consciência não é des-coberta.

Viraj disse...

Abraço Champank! e o boletim acabou?
Namastê!

Anônimo disse...

Antes eu pensava assim que deveria seguir os passos do mestre osho, agora compreendi que osho foi apenas uma amostra de que tudo é possivel. Ser uma fonte de bençãos para mim e as pessoas ao meu redor. Legal ler isso e saber que alguém tb compartilha desta visão. Paritosh Anand!!! Abraços!!!

Unknown disse...

"e não me diz respeito o que os outros pensam de cada um de meus passos"...
É a segurança que os ensinamentos do mestre osho nos deixaram.
Estar dentro, estar inteiro, viver o momento.
Abraços
Arnaz