
Quando conheci Osho, ele me atraiu muito mais pela sua irreverência do que pelo conteúdo de sua mensagem. Fiquei muito intrigado com aquele demolidor das instituições, das crenças e das ideologias. Um homem que não queria ser inspirador nem guia de ninguém, muito menos ser líder de um movimento. Ele me desafiava a fazer meus próprios experimentos e chegar às minhas conclusões, não aceitando passivamente as conclusões dele.
Osho me atraiu mais ainda quando li ele se declarando incoerente e contraditório, porque assim é a vida. Ao mesmo tempo que eu percebia uma profunda lógica em tudo o que ele dizia, ele se permitia ser ilógico.
Com essas abordagens, Osho cutucou uma semente escondida que eu preservava com muito carinho dentro de mim. Era a semente da rebeldia que, desde minha adolescência, se manifestava, embora timidamente, um pouquinho aqui, um pouquinho ali.
Antes de conhecer Osho, um dia eu tinha acordado e percebido que admirava vários amigos pela coragem de terem rompido com as estruturas que os amarravam. E mais, eu os citava com freqüência em minhas conversas. Um abandonara a faculdade, outro abandonara a família, outro largou as perspectivas de uma carreira promissora, um foi viver às margens do Amazonas e outro foi viver junto a cachoeiras e grutas. Naquele dia, eu olhei para mim mesmo e me perguntei: E eu? Onde fico no meio disso? O que estou fazendo com minha vida? Percebi então claramente todos os nós que me mantinham amarrado, sentado numa cadeira, numa vida burocrática. Eram nós atados com os meus esforços e tentativas de conseguir segurança na vida e me prevenir contra as incertezas.
Quando conheci Osho senti nele um convite, uma provocação, um empurrão para que eu liberasse a minha semente oculta, para que eu mudasse o meu discurso, parando de citar a coragem e o salto no escuro dos outros e começasse eu mesmo a experimentar meus próprios saltos, a me expor e arriscar viver mais intensamente, a conhecer e saborear as várias nuances da vida.
Aprendi com Osho que não adianta querer segurar a correnteza do rio, não adianta querer ter certezas sobre o rumo que as águas irão tomar. A vida jorra cheia de imprevistos, cheia de riscos, cheia de incertezas. Foi uma lição e tanto.
“Liberdade significa caminhar no fio da navalha – a todo momento correndo perigo. Cada momento é um desafio vindo do desconhecido. Algumas vezes é quente demais e outras vezes é muito frio – e não há ninguém para cuidar de você.” (Osho – The Golden Future – Cap.26).
Era preciso aprender a caminhar como o equilibrista.
“A vida é como andar na corda bamba: é preciso o esforço correto e consciência para que você não caia. A cada momento existe perigo: se você se inclinar muito para a esquerda, irá cair. Sentindo que está se inclinando muito para a esquerda, você tem que se voltar para a direita, para manter o equilíbrio. E quando você se volta para a direita, chega um momento em que você sente que vai cair para a direita; então você começa a se inclinar para a esquerda, apenas para manter o equilíbrio. Esse é o esforço correto: manter-se equilibrado.” (Osho – The Dhammapada – vol.6 – cap. 3)
Precisei de um tempo, praticando essa lição, quando recebi um novo toque para dar mais um passo adiante. Foi quando li Osho dizendo que o desafio maior é curtir e celebrar a caminhada no fio da navalha. Isso foi demais.
Está certo que eu já havia aprendido (ou estava aprendendo) que viver é expor-se ao risco, à incerteza. E se não há outra maneira de se viver, a não ser caminhando no fio da navalha, então só nos resta mesmo curtir e celebrar essa caminhada. Ou seja, só nos resta estar abertos e receptivos para o que a vida nos apresentar, estar de prontidão para o que der e vier, e celebrar tudo, o frio e o quente, o sol e a chuva, a dor e a alegria, os picos e os vales. Tudo é incerto e perigoso, mas também tudo é fugaz, nada é permanente. Como diz o ditado: não há mal que sempre dure e não há bem que não se acabe.
E ao invés de querer entender os sinais da vida, ao invés de buscar uma explicação para o que está acontecendo, a grande sacada é simplesmente aceitar a vida como um mistério que se revela a cada momento. E aceitar com um sim, com alegria e celebração.
Então, nada mais nos resta a fazer senão curtir e celebrar o milagre da vida, seja neste sábado de carnaval, seja nos outros 364 dias do ano.