terça-feira, 29 de junho de 2010

Compartilhar por compaixão


www.oshotalks.info
Este é o endereço do projeto de vídeos do Osho desenvolvido pela Osho International.
Eu participo desse projeto como voluntário, traduzindo e revisando legendas em português para um grande número de vídeos-palestras do Osho, que aos poucos estão sendo disponibilizados ao grande público através desse site.

Na minha maneira de ver, eu estou compartilhando mensagens do Osho por compaixão, e acho isso uma coisa muito legal.
Ontem mesmo eu estava lendo o primeiro capítulo do livro "The Ultimate Alchemy - vol. 2". É fantástico e ainda não foi publicado em português. Ele estava dizendo algo muito significativo para mim. E é uma mensagem tão importante para mim, neste momento, no meu atual processo pessoal, que me veio a vontade de traduzir, publicar, divulgar.
Este sentimento de querer traduzir e publicar surge porque sei que a minha miséria também é experienciada por outros buscadores como eu, os quais poderiam também se beneficiar com a clareza daquela mensagem do Osho. É exatamente esse sentimento que defino como compartilhar por compaixão. Quando eu digo 'minha miséria', quero me referir aos questionamentos, às angústias e aflições, aos medos e inseguranças que afloram no meu caminhar, na minha busca.

Este é apenas um trecho do capítulo que eu estava lendo:
“Sempre que você estiver fazendo uma coisa, continue internamente fazendo o seguinte: esteja consciente de si mesmo ao fazer aquilo. Você está comendo: esteja consciente de si mesmo. Você está andando: esteja consciente de si mesmo. Você está ouvindo, você está falando: esteja consciente de si mesmo. Quando você estiver com raiva, esteja consciente de que está com raiva. No exato momento em que a raiva estiver ali, esteja consciente de que você está raivoso. Essa constante lembrança de si mesmo cria uma energia sutil – uma verdadeira energia sutil em você. Você começa a ser um ser cristalizado.” ... “Por consciência eu quero dizer, seja um mestre! E quando eu digo ‘seja um mestre’, eu não quero dizer para ser um controlador. Quando eu digo ‘seja um mestre’, eu quero dizer, seja uma presença – uma contínua presença. O que quer que você esteja fazendo ou não fazendo, uma coisa deve estar constantemente em sua consciência: que você é. “
Grande toque de mestre. E a gente vive constantemente para fora, ligado no que está em volta, nos acontecimentos, na televisão, no jogo de futebol, na política, em quem está nos falando. Quase nunca estamos consciente de nós mesmos, da presença que somos permanentemente, do nosso ser.

Quando eu editava e publicava o boletim mensal, havia em mim esse sentimento de compartilhar por compaixão. Mas havia um outro sentimento também muito forte, o de que aquele trabalho era uma missão. Esse não é um aspecto bonito. Ali entrava um outro personagem, o do missionário, que era forte em mim e que tinha um grande peso na minha disposição em fazer e distribuir o boletim. O ego do missionário está empenhado em divulgar a mensagem do mestre, mas quer convencer o outro, quer ser um porta-voz da mensagem do mestre, quer mostrar ao outro como a mensagem do seu mestre é superior, quer mostrar como ele "entende" a mensagem do mestre, quer “explicar” a mensagem do mestre, e muitas vezes quer mostrar que a interpretação do outro não é muito acertada.

Mas Osho, sendo o mestre que é, cuida de bater no discípulo com seu cajado, na hora precisa. E eu tomei as minhas porradas e as fichas começaram a cair. As falsas raízes em que me apoiava se aprodreceram, as muletas se quebraram e o guarda-chuva emperrou. Eu me vi diante de uma situação e de um momento em que não tive outra alternativa a não ser ficar mais recolhido, mais só comigo mesmo, mais em silêncio, e, principalmente, voltar-me para meu próprio processo pessoal.

Agora estou de novo, mais no anonimato, a colaborar nos trabalhos desenvolvidos pela Osho International . E, de vez em quando, estou escrevendo neste meu blog. Em breve, vou atualizar o site do Osho Brasil. Tenho visto algumas coisas interessantes para serem divulgadas no site.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Vida


É muito interessante observar como cada palavra provoca dentro de nós uma relação imediata com o significado que dela aprendemos. Por exemplo, aqui no nosso mundo judaico-cristão, é dado à palavra Deus o significado de uma entidade toda-poderosa que criou tudo que existe em todo o universo. E essa entidade pode intervir na vida de cada uma de suas criações, em particular nos seres humanos, a qualquer momento, com a autoridade de juiz supremo, extremamente exigente quanto ao cumprimento de preceitos, que embora criados pelo homem, são anunciados como de inspiração divina. O não cumprimento desses preceitos implica em punições e castigos, enquanto a sua fiel observância é agraciada com o paraíso celestial após a morte.

Essas idéias nos foram introjetadas desde nossa mais tenra idade e logo se tornaram uma verdade inquestionável. Esse conceito de Deus é a base de todo um sistema de crenças e rituais que constitui uma religião organizada. Movidos pelo medo e pela insegurança diante dos mistérios da vida, nos agarramos a essas religiões e seus ensinamentos. E isso é um fenômeno que persiste desde os primórdios da civilização até os dias atuais. Quando pronunciamos a palavra Deus, uma luz vermelha (ou verde) se acende em nosso mundo de idéias. Falar algo contra Deus e seus preceitos significa um desrespeito imperdoável e implica pecado, condenação e castigo. É muito difícil uma pessoa escapar do poder psicológico e espiritual dessas religiões e seus deuses.

Quando, por uma abertura de consciência, ou por uma profunda reflexão filosófica ou científica, se desmonta diante de nós todo esse sistema de crenças religiosas, abre-se a cortina de um novo espetáculo: um mundo sem a figura daquele Deus com sua longa barba sentado num trono acima das nuvens a governar a vida de cada um de nós. Para muitos não é fácil encarar um mundo sem um Deus que explica a origem de tudo, que define o que é certo e errado, a quem se pode recorrer nas horas de aflição e que garante uma compensação pelo cumprimento dos preceitos. Assim, quando perdem a crença e a fé num Deus, muitos começam a se sentir perdidos e deslocados num mundo sem sentido.

Foi nesse estado que conheci Osho e o que mais me tocou nas primeiras leituras de seus livros foi a maneira como ele abordava a vida como um mistério para ser aceito e vivido e não para ser compreendido através da mente. E essa vida que pulsa dentro de mim e fora de mim desde toda a eternidade e por todo o universo infinito não precisa receber uma denominação, mas pode ser chamada de existência, de Deus ou simplesmente vida. E Osho falava de uma maneira tão linda e poética a respeito da natureza, das flores, da alegria, que eu pude novamente admitir em meu vocabulário a palavra Deus com reverência e amor.

Mas, eu ainda não consegui me livrar completamente do ranço que pesa sobre a palavra Deus em meu subconsciente. Por isso, tem sido mais fácil para mim a palavra vida que não me traz nenhuma carga pesada, nenhuma idéia de entidade sobrenatural. Ao contrário, ela é fluida e me traz uma sensação de vibração, de pulsação constante, de alegria, de flor desabrochando, criança sorrindo, namorados se amando, pássaros voando, estrelas brilhando, sol nascendo, noite de luar, sensação de correr, de amar, de ser feliz. Eu sinto a vida pulsando dentro de mim, eu sinto e vejo a vida nas ruas, nas matas, nos rios, no céu infinito.

Após conhecer Osho, pude fazer uma releitura de muitos dos ensinamentos que recebi a respeito de Deus e de Jesus, a respeito da criação do mundo e de outros preceitos religiosos. Passei a ver as mesmas coisas, mas sob a ótica da vida e não daquela figura de Deus que me ensinaram. Passei a ver a onipresença da vida, a criação não como algo completo, mas como um processo permanente de criar, o certo e a virtude como sendo o mais fácil e o mais natural, e o paraíso como algo a ser construído e vivido aqui e agora. Descobri que o sentido da vida está no ato viver, em saber como viver e que o nosso grande desafio está na aceitação da vida tal como ela é, na percepção de que a vida é maternal e cuidadosa para conosco e que quando as coisas não vão bem, geralmente é porque nós mesmos criamos expectativas quanto ao desenrolar do mistério da vida. E foi desde que descobri isso, que venho constatando que a vida invariavelmente tem conspirado a meu favor.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Estamos sós - II

Estamos sós neste mundo. Digo isso, não porque li nos livros de Osho e de outros mestres, mas porque eu posso fechar os olhos e ver e sentir isso dentro de mim. Vejo a mim mesmo no estado em que estou, com meus limites e minhas potencialidades, com minhas alegrias e tristezas, vejo meus sonhos e minhas frustrações, vejo minhas aspirações e minhas relações afetivas, mas, sobretudo, eu vejo que estou só e, mais que isso, sou só. Não importa se externamente estou com alguém ou não; internamente eu sei e sinto que estou só.

Amo alguém – pai, filho, esposa, amigo. Esse sentimento é bom e puro. Mas junto com ele vem outras coisas que trago de minha história pessoal: as minhas carências, as minhas crenças, as minhas projeções, os meus medos e inseguranças. Junto com ele vem a paixão, vem o apego, vem a possessividade, vêm as juras de amor.
Fico agarrado a uma dessas pessoas e um pensamento aflora: o de que eu não estou só, de que existe pelo menos um alguém com quem posso contar - pode ser a minha companheira, pode ser meu filho, pode ser meu pai. Esse pensamento me toca bem no fundo, mas é um pensamento. E se nesse exato momento eu for capaz de fechar os olhos, aquietar minha mente e, principalmente, ir além dos pensamentos, verei que estou só.

O outro é real, ele está ali. E é verdade que eu posso contar com esse outro alguém no que se refere a um bom ouvido para escutar os meus lamentos e as minhas alegrias, no que se refere a um carinho e uma palavra amiga e sincera, no que se refere a um apoio material, no que se refere a uma solidariedade e lealdade. Mas ainda assim, se eu for capaz de fechar os olhos e entrar em contato com meu centro mais interno, verei e sentirei que estou só. Só com minha liberdade, só com minha responsabilidade para comigo mesmo, só com minhas escolhas, só com meu silêncio, só com meu prazer e minha alegria mais pura e profunda.

Essa consciência de que estou só, não vem chegando como resultado de um grande esforço – eu não tenho estado repetindo para mim mesmo, “eu estou só, eu estou só, eu estou só”. Essa consciência está chegando como resultado da dissolução natural de ilusões, de sonhos e de projeções que eu criei e crio; do desmonte de crenças e ficções em que me apoiei e ainda me apoio.
Essa consciência tem sido o resultado de um processo que incluiu a criação dessas ilusões e sonhos, incluiu a crença nessas ficções, o apego a elas, a luta por elas com toda minha força. Mas, acima de tudo, nesse processo aprendi o poder da observação, aquilo a que Osho chama de “o milagre do estar atento”. A observação desidentificada acontece junto e através da meditação. Assim, e só assim, as ilusões, as ficções, os apegos, tudo se dissolve naturalmente.
Antes que tudo se dissolva e desapareça, vivo freqüentes recaídas, experimentando a dor de ver cada ilusão e cada ficção escorrendo por entre meus dedos, sem ter forças para segurá-las.

No estágio em que me encontro, tenho um especial prazer em me deixar levar por certas seduções que mais se parecem com um doce de coco, um tango bem dançado ou um beijo gostoso. Mas procuro ficar atento e observar essas seduções, como elas atuam em mim, as minhas reações. Curto aquilo que quero curtir, mas procuro me manter atento para não me identificar com a ilusão, com a ficção. No fundo, essa atenção alimenta a minha consciência de que estou só – no mundo, vivendo a vida, me relacionando, dando e recebendo, mas internamente estando só.