quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Metamorfose


Eu venho num processo de desmonte de uma série de pilares em que me sustentava.

Por volta dos quarenta anos eu passei por um processo semelhante, mas ao me desenraizar de uma velha programação moralista, repressora e rígida, eu acabei assumindo uma nova programação, ainda que fosse inspirada na liberdade, na alegria e na criatividade. Mas era ainda uma programação. O que eu estou passando agora, na altura dos sessenta anos é um desenraizamente dessa outra programação.
É como se diz: as fichas estão caindo e com elas um ego cheio de babaquices, escondido atrás de um belo discurso e sustentado por uma série de ilusões, crenças, expectativas, ideais, etc.

Tudo isso faz parte do processo.
Não estou me sentindo mal com isso.
Mas não estou assumindo o papel que assumia antes. Não quero, não tenho vontade e nem consigo mais.

Estou num novo momento, curtindo a mim mesmo, redescobrindo cada vez mais a simplicidade, me dissolvendo cada vez mais na amorosidade, no encantamento com as pequenas coisas, e cada vez fazendo menos alarde a respeito de tudo isso.

Tenho sentido a necessidade de escrever essa outra perspectiva a respeito de coisas que escrevi antes a partir de outra ótica. É como se eu quisesse apresentar o negativo das fotografias, mostrar que a vida existe na multidimensão, no conflito, no desencontro, na ilogicidade.
Não estou mal. Apenas eu fui muito tagarela exaltando coisas que hoje estão desmontadas. E eu estou descrevendo esse desmonte.

O desmonte faz parte do processo. É apenas um momento. Daqui a pouco surgirão outros momentos. É como nossa variação de humor: hoje acordamos bem e amanhã acordamos mal. Não sabemos bem porque. Mas basta uma borboleta pousar numa flor para seduzir a criança que temos dentro de nós e, inesperadamente o nosso humor mudar e uma lágrima de êxtase brotar em nossos olhos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Quando Osho diz que não é guru

Até bem pouco tempo, eu achava relativamente fácil responder aos vários e-mails que chegavam em minha Caixa de Entrada com perguntas sobre Osho e seu trabalho. Eu citava uma série de textos do Osho que fundamentavam um tipo de atitude a se tomar diante dos fatos apresentados. E eu me sentia bem, como se estivesse realizando uma proposta que eu mesmo havia assumido enquanto centro de informações sobre Osho.

Hoje eu vejo as coisas um pouco diferente. Depois de algum tempo eu passei a ter uma compreensão diferente a respeito de algumas questões.
Por exemplo, eu já tinha lido, e repetia com freqüência, as afirmações do Osho quando dizia que não nos quer como seguidores, que não quer ser o nosso guru, mesmo sabendo que nós tínhamos a necessidade de tê-lo como tal.

A primeira coisa a considerar é que o grande desafio que Osho nos apresenta é no sentido de que caminhemos o nosso próprio caminho, que nós tenhamos nossos próprios vislumbres da verdade, que, através da meditação, alcancemos nosso centro de serenidade, discernimento e sabedoria.
E, a partir do momento em que eu acesso o meu centro mais profundo, o meu deus interior, a minha consciência maior, então, a partir desse estado meditativo eu respondo a cada desafio que a vida me apresenta, momento a momento. A cada momento eu terei clareza e discernimento para agir e responder ao que o momento pede.

Assim, somos nós, a partir de nosso centro mais profundo, a partir de nossa humildade, nossa inocência, nossa intuição, nossa sensibilidade e sensitividade, a partir de nosso silêncio interior e profundo estado meditativo, que alcançamos o discernimento necessário e suficiente para agirmos, presentes no aqui e agora, respondendo o que cada momento nos apresenta. Respondendo a partir do nosso centro e não reagindo a partir de nosso ego, respondendo a partir de nosso coração, de nossa amorosidade, simplicidade e humildade.

Os cristãos vivem repetindo uma frase que não sei bem ao certo. É algo parecido com isso: "Se Deus está comigo, quem será contra mim?". Mas Deus está sempre com cada um de nós, embora nós nos distanciemos dele ao nos identificarmos com nosso ego. E quando vamos além do ego, quando estamos meditativamente presentes no aqui e agora, nós manifestamos esse deus que existe e vive dentro de nós. É o nosso centro mais profundo.

E se acessamos esse centro, se nos conectamos com deus dentro de nós, ou em outras palavras, se acessamos nosso mestre interior, então o discernimento vem como conseqüência. Não temos que nos preocupar. Quem será contra nós? Talvez possa haver obstáculos ao nosso ego, às nossas pretensões egóicas, mesmo as inconscientes. Mas, se a cada momento, estamos presentes no aqui e agora, saberemos agir e falar com sabedoria momento a momento, saberemos escolher, saberemos onde e quando dar o passo. Tudo será conseqüência de nosso estado meditativo.
Aí, não temos que recorrer a Osho, nem a Budha nem a Cristo. Mantemos sim, a nossa gratidão, o nosso respeito, o nosso reconhecimento a tudo que recebemos dele ou deles, em nosso processo, em nossa caminhada. Mas é chegada a hora de pegarmos nossa mochila e colocarmos o pé na estrada, construindo o nosso próprio caminho.

Osho nos disse: "Eu sou um convite", "Eu sou uma desculpa", "Eu estou aqui para provocar o deus que existe em você". Ele nunca disse que nos daria um mapa, um roteiro, um atalho.
Na verdade, não existem mapas, nem roteiros nem atalhos.
Até bem pouco tempo, quando me formulavam certas perguntas, eu ficava muito agradecido e respondia com várias citações do Osho.

Hoje eu tenho uma compreensão diferente sobre quando Osho diz que ele não é um filósofo, que não é guru. Hoje eu compreendo melhor porque ele diz (citando Buda) que se ele cruzar o nosso caminho, ainda que seja num sonho, devemos cortar a sua cabeça.

Osho não o somatório de suas palestras. Osho é uma experiência viva de transcendência, de ir além da condição humana e alcançar os píncaros da realização plena.
E o desafio que ele coloca para cada um de nós, é para que encontremos nosso caminho, para que criemos nosso caminho, para que sejamos senhores de nosso próprio caminho, para que alcancemos os píncaros de nossa plenitude.

As dicas, os toques que ele nos deixou são importantíssimos, daí nossa profunda gratidão. Mas se nos apegarmos às suas palavras, à sua imagem, à memória de sua presença entre nós, e não dermos os nossos próprios passos na caminhada que é exclusiva de cada um de nós, então podemos dizer que, na verdade, não entendemos nada do que ele nos disse.